Vivemos num tempo de extremos em que o bom senso deixou de estar presente. Veja-se os suicídios no mundo financeiro, veja-se as depressões escondidas dos líderes e o seu estado de ansiedade constante. Isto tudo porquê? Para quê? Se os administradores e presidentes de bancos conseguissem recuperar o humanismo e os valores éticos, teríamos uma sociedade muito mais equilibrada Se há vinte anos atrás trabalhar num banco era motivo de orgulho, hoje é motivo de uma vergonha implícita até porque a banca, em Portugal, na Europa e nos EUA, é o sector em que a população menos acredita, no que respeita a “fazer as coisas corretas”. Ou seja, vivemos numa época em que a maioria da população coloca as “suas vidas” (leia-se o seu dinheiro) nas mãos de entidades que considera não estarem a fazer as coisas certas. Porque, mesmo assim, é melhor do que ter o dinheiro em casa sujeito aos roubos tradicionais. Isto não faz sentido nenhum! Mas temos de reconhecer que, atualmente, vivemos numa fase em que quase nada faz sentido. Vivemos num tempo de extremos em que o bom senso deixou de estar presente na cabeça dos dirigentes quer por medo, quer por insegurança, quer por poder. Veja-se os suicídios no mundo financeiro, veja-se as depressões escondidas dos líderes e o seu estado de ansiedade constante. Isto tudo porquê? Para quê? Nas poucas aulas de Ética e Sustentabilidade que dou a alunos de mestrado, consegui compreender que a geração hoje com 22 a 25 anos, muito capaz em termos de produção, está muito confusa relativamente à forma como se deve comportar. Veja-se o seguinte diálogo: “Vocês acham que um gestor pode ser ele mesmo na gestão da empresa, ou deve assumir um papel diferente?”. A maioria da sala defende que: “Deve assumir um papel diferente e institucional pois está a representar a empresa”. Hum… pensei eu. E a seguir perguntei: “Vocês preferiam trabalhar num local em que pudessem ser vocês mesmos, ou num em que tivessem de assumir um papel institucional?”. Toda a sala disse: “Onde pudéssemos ser nós mesmos”. E assim, eu resumi a conclusão: “Então vocês serão causadores da vossa insatisfação e da tristeza dos outros no local de trabalho”. A sala ficou apática: uns sorriam, outros baixavam a cabeça e outros estavam assustados.
Sendo este o contexto da cultura empresarial em que vivemos, é expectável que na banca – a qual, na minha opinião, é o catalisador do desenvolvimento económico, mais poderoso do que os Governos -, os comportamentos bipolares dos seus gestores atinjam escalas ainda mais estrondosas. E tudo isso para quê? Para se ter mais dinheiro? O que se faz com ele? Que coisas são necessárias fazer para se aguentar as pressões necessárias a se conseguir esse dinheiro todo? Existem rumores que a cocaína prolifera em alguns meios inesperados, precisamente pela necessidade constante de evidenciar uma energia e vitalidade não humanas. Um estudo realizado há uns anos na Alemanha concluiu que para salários acima de 5 a 7 mil euros por mês, a felicidade não aumenta assim tanto, o que significa que vale a pena pensar na utilidade pública dos salários e bónus escandalosamente elevados. Se assumíssemos que um banqueiro e um bancário deveriam agir com coração, se dessemos a oportunidade aos funcionários bancários de sentirem que podem usar as suas emoções no seu local de trabalho, e se, principalmente, os administradores e presidentes de bancos conseguissem recuperar o bom senso, o humanismo e os valores éticos, normalmente ligados às emoções sentidas pelo coração, então teríamos uma sociedade muito mais feliz e equilibrada. Sendo tão fácil escrever isto, porque é tão difícil implementá-lo? Como eu costumo dizer: O Homem é um bicho muito estranho e nada racional. O Homem consegue ser um animal autodestrutivo. E por isso as bases da teoria económica deveriam ser todas alteradas. Esperemos que isso aconteça nos próximos vinte anos. * Sofia Santos é economista doutorada na área da banca sustentável. |
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CEO da Systemic