Se um médico me disser por alguma razão que vai fazer o possível pela minha saúde, não são com certeza boas notícias. Por outro lado, se contratar um engenheiro para construir a minha casa e ele disser que vai fazer o possível para que a casa não caia, provavelmente vou procurar outro técnico que me dê mais garantias
POR PEDRO ALVITO
Claramente estas abordagens não me trazem confiança. Podia andar aqui a procurar outros exemplos de alguém que faz apenas o possível e ficaria sempre com o sabor amargo de que é pouco para as minhas expetativas. Fazer o possível é ficar pela base e pelo elementar. Procurar o impossível é próprio dos grandes líderes. Esta verdade muito simples pode e deve ser aplicada tanto à gestão como à política. É este princípio que leva grandes treinadores ou grandes jogadores a serem contratados por milhões. É este princípio que nos devia guiar na escolha dos nossos políticos e gestores.
A procura da excelência nas organizações baseia-se neste princípio muito simples: aquilo que é banal e comum não diferencia e se não diferencia não gera crescimento e resultado. Não basta ser um pouco melhor que a concorrência nem sequer fazer tudo bem. Há que ser excelente no produto, no serviço, na organização, na dinâmica, mas sobretudo ser excelente na relação. E a relação é algo biunívoco, ou seja, funciona para os dois lados. Não é “injetar” o cliente com uma dose de simpatia, amabilidade, ou seja, o que for. É sobretudo entender o cliente, compreender as suas necessidades e os seus interesses. É, em primeiro lugar, ouvi-lo e saber -percebê-lo. A ideia de que quem sabe do negócio somos nós, é velha e antiquada. Quem sabe do negócio é o cliente que compra porque a necessidade que estamos a satisfazer é a dele e não a nossa.
Ser excelente é preciso em tudo: na vida familiar, empresarial ou social. É o toque de Midas que faz mudar as vidas e as organizações. Vivemos nas nossas organizações uma falta de ambição generalizada, conformando-nos facilmente com o que é apenas o possível. É o crescimento possível, o resultado possível e a gestão possível. O governo não ajuda, a economia não ajuda, a concorrência não ajuda, as guerras e as pandemias não ajudam e, no fim de tudo, nós também não ajudamos. Que bom seria encontrar gestores, empresários e políticas que nos falassem do sonho, de uma visão do mundo e das empresas carregada de otimismo. Podemos viver num mundo melhor se nos preocuparmos com fazer o impossível. Quem alinha?
Artigo originalmente publicado na LinktoLeaders. Republicado com permissão.
Professor da AESE e autor do livro “Um manual de como construir o futuro: gestão de Empresas Familiares”