Paz? Falamos dela como um ideal, assinamos acordos, tiramos fotografias com sorrisos ensaiados. Mas, no fundo, quantos desses processos realmente curaram as feridas que nos dividem? A História mostra-nos que tratados não bastam, que a violência reaparece onde as mágoas nunca foram resolvidas. E há um inimigo silencioso que sabota cada tentativa de reconciliação: o ego
POR PEDRO LOUPA
O ego quer vencer, quer impor a sua narrativa, quer dividir o mundo entre heróis e vilões. Mas reconciliação não se trata de ganhar—trata-se de curar. E enquanto nos recusarmos a escutar para além das nossas certezas, continuaremos presos ao ciclo eterno do conflito.
Se a paz é o objetivo, então precisamos de uma nova abordagem. Estará a humanidade pronta para colocar o ego de lado e finalmente construir um futuro de verdadeira reconciliação?
Transformámos os processos de paz em cerimónias administrativas—acordos assinados em salões luxuosos, fotografias de líderes sorridentes e Prémios Nobel entregues a quem, muitas vezes, apenas maquilhou um conflito. Mas sejamos honestos: antes um processo de paz burocrático do que continuar a contar mortos.
Agora pergunto: quantos desses processos curaram, de facto, a Humanidade? Quantos foram além do papel para sarar as feridas profundas que nos dividem?
Estamos distraídos. Perdidos no brilho do avanço tecnológico, nos números da economia, em batalhas políticas que parecem nunca ter fim. E, no meio de tudo isto, esquecemos o essencial: curar.
Curarmo-nos como indivíduos.
Curarmo-nos como sociedades.
Curarmo-nos como humanidade.
A reconciliação não é um procedimento burocrático, nem um espetáculo mediático. É um processo de cura—e ele começa dentro de cada um de nós. Não podemos aspirar à paz coletiva enquanto estivermos em guerra connosco próprios.
Sempre a Tropeçar na Mesma Pedra
Já parou para se perguntar porque é que a Humanidade continua a tropeçar na mesma pedra? Guerras, conflitos, tensões… como episódios de uma série interminável. E, ainda assim, raramente nos questionamos:
Qual é o meu papel nesta narrativa?
Estou apenas a assistir ou sou um agente de mudança?
Os eventos da atualidade—das tensões políticas na Casa Branca à visita de Zelenskyy, do espetáculo mediático em torno de Trump e Putin às estratégias de Macron—lembram-nos uma verdade essencial: a liderança não é espetáculo. É responsabilidade.
E essa responsabilidade não pertence apenas aos que ocupam cargos de poder. Todos nós lideramos. Lideramos a nossa vida, as nossas relações, o impacto que geramos em quem nos rodeia.
Mas cá estamos, presos em debates onde toda a gente tem razão e, ao mesmo tempo, ninguém tem. Porquê? Porque ignoramos o mais básico:
A reconciliação não começa com o outro. Começa consigo.
Julgamento: O Nosso Desporto Favorito
Apontar o dedo é fácil.
“Putin é o vilão.”
“Zelenskyy é o herói.”
“Trump é… bem, Trump.”
Mas diga-me: quantas vezes já emitiu julgamentos sem conhecer toda a história?
Fazemo-lo constantemente—nas relações pessoais, no trabalho, na política. E essa ânsia de julgar é precisamente o que alimenta os conflitos.
Agora imagine: e se, em vez de julgar, escutasse? Não para responder, mas para compreender.
A chave está aí: em vez de procurarmos quem tem razão, deveríamos procurar o que nos une. Não falo de acordos superficiais. Falo da ligação humana que transcende ideologias e fronteiras.
Lições da História: A Paz Que Nunca Foi Paz
Porque falhamos tantas vezes na busca pela paz?
Porque nunca entendemos que a paz não é um acordo assinado, mas um processo vivo—um caminho que só se percorre através de uma conexão humana genuína. Eis alguns exemplos:
O Tratado de Versalhes (1919) – Supostamente, para pôr fim à Primeira Guerra Mundial. Mas, na prática, humilhou a Alemanha e plantou as sementes da Segunda Guerra Mundial. E se, em vez de punição, tivéssemos escolhido a cura coletiva?
Os Acordos de Oslo (1993) – Celebrados como um marco para Israel e Palestina, mas o conflito persiste. Porquê? Porque as feridas emocionais e culturais nunca foram curadas.
O Processo de Paz na Colômbia (2016) – Desmobilizou milhares de combatentes, sim. Mas décadas de guerra deixam marcas profundas. A assinatura foi apenas o começo. A reconciliação real continua pendente.
Mais Nos Une Do Que Nos Separa
Russos e ucranianos têm mais em comum do que imaginam. Famílias entrelaçadas, histórias partilhadas, línguas que se tocam como pontes culturais.
E não precisamos de ir tão longe.
Na sua própria vida, quantas vezes permitiu que uma diferença menor destruísse uma relação importante?
Quantas vezes foi o seu ego a ditar as regras?
A história ensina-nos lições valiosas, mas também nos mostra que estamos condenados a repeti-las se nos recusarmos a aprender.
E cá estamos nós, outra vez: guerras que destroem nações enquanto os líderes jogam xadrez com vidas humanas como se fossem peões descartáveis.
O Ego: O Sabotador Silencioso
O maior obstáculo em qualquer negociação?
O ego.
O ego quer vencer. Quer ter razão. Quer impor a sua narrativa.
Mas a reconciliação não se trata de ganhar. Trata-se de curar.
Agora imagine uma cimeira global onde todos os intervenientes—sim, todos—se sentam para dialogar.
Não para impor agendas.
Não para chantagens políticas.
Mas para escutar.
Parece utópico? Talvez.
Mas também parece absolutamente necessário.
China, Índia, África, América Latina—que representam 63% da população mundial—não podem ser excluídas deste debate. Isto não se trata apenas de Rússia, Ucrânia e Europa. Trata-se do futuro da humanidade.
E esse futuro não se constrói com isolamento e egoísmo.
A Vitória da Humanidade
Queremos um mundo onde todos pintem a mesma tela, ou queremos um mundo onde cada artista expressa a sua alma única?
A diversidade não é uma ameaça. É a nossa maior força.
Mas para reconhecê-la, precisamos de algo essencial: humildade.
Humildade para admitir que não temos todas as respostas.
Humildade para aceitar que podemos estar errados.
Humildade para abrir espaço ao verdadeiro diálogo.
Então, pergunto-lhe:
Qual é o papel que quer desempenhar nesta humanidade?
Vai ser um espetador passivo ou um líder consciente?
Porque liderar também significa reconciliar-se consigo próprio primeiro.
Só assim pode ser uma ponte, em vez de um muro.
Um Chamado à Ação
Hoje convido-o a fazer algo radicalmente simples, mas profundamente transformador:
Escute.
Escute o outro sem julgar.
Escute a sua própria mente sem se criticar.
Escute as histórias por trás das opiniões que não compreende.
E, acima de tudo, pergunte-se:
O que posso fazer HOJE para ser um agente de reconciliação?
Porque, se continuarmos à espera que os “grandes líderes” resolvam o mundo por nós, vamos esperar para sempre.
A reconciliação começa consigo. Comigo. Connosco.
Agora diga-me:
Está pronto para liderar a partir do amor e da humanidade?
Catalisador de Liderança Humana e Consciente. Autor do livro “12 Passos para Ser um Líder Consciente”. Fundador da HumanityE, mentor e conferencista internacional, guia líderes e organizações na criação de ecossistemas humanos onde a tecnologia serve a alma, a liderança é um ato sagrado e o trabalho se torna arte coletiva.