A esperança pode estar enraizada numa nova oportunidade ou num desafio, mas também pode sobreviver e até se fortalecer diante de uma doença, um despedimento, uma falência ou até mesmo um insucesso. Não se alicerça em estados de alma ou ânimos passageiros, sendo antes o contraponto do desânimo ou da desorientação a que muitas vezes assistimos
POR JOÃO PEDRO TAVARES
Nos Atos dos Apóstolos, Pedro e João, falavam com desassombro, com autoridade, com convicção. No final, afirmaram: “não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos”, como algo inegociável, movido por um profundo sentido de missão. Era algo mais forte do que eles mesmos, algo que não podiam silenciar.
Assim se viveu o último congresso da ACEGE, que decorreu no final de Março e, por isso, aqui transcrevo algumas das principais notas do que ouvi e meditei. Com testemunhos de esperança cristã, enraizados na Fé, no Amor, na Verdade e na plenitude de sermos construtores da esperança, partilhámos e testemunhámos a nossa dupla responsabilidade de ser sinal de esperança e de ter um olhar de esperança.
Nos vários testemunhos partilhados, surgiu uma esperança que nasce e se confirma na adversidade, que faz acreditar mesmo sem se ver. É uma virtude dos construtores que vai além do presente, projetando um futuro maior, capaz de amar tanto o presente quanto o futuro.
Esperança na paz e na harmonia, apesar de um mundo em guerra e dividido, e que obriga a um compromisso, à superação, a morrer para as razões pessoais para promover o bem comum. É um convite a sermos agentes de maior justiça social e fraternidade, de exercício responsável da liderança, com determinação, estando na primeira linha do serviço e na última linha do privilégio.
Vivemos comprometidos com um futuro mais inclusivo e solidário, procurando contribuir para empresas sem pobreza.
Advogamos que a tecnologia, a robotização ou a inteligência artificial sejam meios que promovam o desenvolvimento económico e coesão social e permitam, conforme se referiu, que as pessoas realizem novas atividades que jamais sonharam ser capazes de fazer, servirem como apoio a um mundo mais ético, mais íntegro e de maior transparência.
Acreditamos que a academia tem um papel importante no apontar de caminhos, na avaliação de alternativas e na consubstanciação de soluções sobre dimensões da esperança que possuem, de alguma forma, comprovação científica e sobre a importância de a cultivar nas empresas de maneira estruturada e fundamentada, evitando que se torne um discurso vazio. Pessoas mais felizes ou com maior sentido de esperança são mais produtivas e contribuem para melhores resultados, estando sedentas que os líderes das organizações (em que trabalham) lhes dêem esperança.
A esperança pode estar enraizada numa nova oportunidade ou num desafio, mas também pode sobreviver e até se fortalecer diante de uma doença, um despedimento, uma falência ou até mesmo um insucesso. Não se alicerça em estados de alma ou ânimos passageiros, é contraponto do desânimo ou da desorientação a que muitas vezes assistimos. É farol que orienta os jovens no mundo do trabalho e serve de elo de ligação com os mais seniores, onde se conjuga solidez da experiência com a energia jovem e renovadora.
Como podemos ter esperança neste mundo? O mundo é o que é, mas a esperança vem de olhar para ele de outra forma. Temos de abandonar a fantasia e ser realistas, substituindo os princípios da fantasia pelos princípios da objetividade cristã.
Que sejamos animados por uma fé inspiradora, uma esperança mobilizadora e uma compaixão transformadora, elementos essenciais para a edificação de um futuro mais digno, humano e solidário.
Presidente da UNIAPAC Europa