A famosa Big Blue comemorou, a 16 de Junho último, o seu centenário. Contar a sua história seria mergulhar também na história da computação, na medida em que ambas são indissociáveis. Para marcar esta efeméride, o VER entrevistou José Joaquim de Oliveira, presidente da IBM Portugal e falou igualmente com Lara Campos Tropa, Directora de Marketing, Comunicações e Cidadania da empresa. Conversas sobre um passado repleto de futuro O centenário da IBM serviu não só para se recordar os seus inúmeros marcos, mas também para reflexão por parte dos analistas do sector no que respeita ao seu contínuo florescimento, numa área em que a inovação e a mudança podem tanto dar origem a um passaporte para o futuro como a uma simples certidão de óbito. Como sabemos e ainda bem, a International Business Machines tem um passado com futuro e continua a somar vitórias. É presença assídua nos rankings da performance de excelência – foi avaliada pela Fortune como a 7ª empresa mais lucrativa de 2011, considerada como a 2ª melhor marca global pela Interbrand, a 3ª melhor em termos ambientais pela Newsweek e a 18ª mais inovadora pela Fast Company. Adicionalmente, é a empresa norte-americana que maior número de patentes detém e das suas fileiras saíram vários Prémios Nobel. São inúmeros os galardões que colecciona, bem como as invenções que dos seus famosos laboratórios saíram. Para os mais curiosos, a história dos 100 anos da IBM está magnificamente contada no site que preparou para celebrar esta efeméride. Mas o VER não quis deixar passar a oportunidade e, para assinalar a data, entrevistou o presidente da IBM Portugal, José Joaquim de Oliveira. E porque a Big Blue é igualmente conhecida por ser uma empresa que tem, no seu ADN, uma verdadeira responsabilidade social corporativa, o VER falou igualmente com Lara Campos Tropa, Directora de Marketing, Comunicações e Cidadania da IBM Portugal (v. Caixa).
Rosabeth Moss Kanter afirmou que “desde o inicio que a IBM se considera a si mesma não só como uma empresa de tecnologia, mas também como uma instituição”. Por seu turno, George Colony, chief executive da Forrester Research, sublinha que “ a IBM não é uma empresa de tecnologia, mas uma empresa que resolve problemas de negócios utilizando a tecnologia”. Gostaria que comentasse estas duas afirmações. E foi seguindo esta ideia basilar que a IBM cresceu, se redefinou e reorganizou ao longo destes cem anos, numa constante adaptação às mudanças gerais pela economia e pela evolução tecnológica. Houve, porém, algo que permaneceu devidamente intacto e enraizado na sua cultura empresarial: os seus valores. Somos, de facto, uma empresa criadora de tecnologia, desde sempre. Fomos e continuamos a ser pioneiros na criação de soluções, como confirma a liderança sucessiva em número de patentes. Em 2010, fomos líderes de patentes dos Estados Unidos pela 18ª vez consecutiva, registando mais de quatro mil invenções. Mas, ao contrário de outros players do mercado, o que fazemos é partir dessas invenções tecnológicas para endereçar e resolver problemas reais da nossa sociedade e do mundo. E fazêmo-lo com a ajuda do talento dos nossos cerca de 400 mil colaboradores e dos nossos parceiros. Somos, por tudo isto, únicos no nosso sector, além de sermos a primeira empresa de tecnologia a completar cem anos. Dos 25 colossos industriais que pertenciam ao ranking da Fortune 500 em 1961, apenas dois se mantém, sendo que um deles é a IBM. Que principais motivos elege para esta história de sucesso, nomeadamente no sector da tecnologia, caracterizado por alguma volatilidade e vulnerabilidade? Outro facto determinante é o investimento em investigação científica, a aposta contínua em inovação, no desenvolvimento tecnológico essencial ao crescimento e à evolução, não apenas da IBM, mas da própia indústria de TI. Em quarto lugar, a mais recente aposta nos serviços e soluções de valor em detrimento das commodities. Uma opção que se revelou decisiva e é hoje a marca distintiva da Companhia. Finalmente, o investimento nos colaboradores, no seu desenvolvimento constante, no seu crescimento pessoal e profissional. Ou seja, uma aposta firme, cuidada, no talento e no seu desenvolvimento. São muitos os analistas que elegem a cultura organizacional da IBM como um dos maiores legados do CEO Thomas Watson Jr. Como é que se vão recriando estes valores numa sociedade em constante mutação e, principalmente, nesta era da globalização? Mas mantemos, inevitavelmente, as nossas crenças, os nossos valores, enquanto directrizes de uma evolução corporativa sustentável. Num mundo globalizado – em que o trabalho é distribuído por vastas redes de organizações e indivíduos – as pessoas precisam de algo que as una, que trace critérios para as suas acções e decisões, no fundo que lhes dê um sentido de pertença. Somos uma empresa que opera à escala global, com presença em cerca de 170 países, numa lógica de empresa globalmente integrada. Isto é, criamos serviços e tecnologias em determinados pontos do globo que, por sua vez são disponibilizados aos outros países onde estamos. Para a IBM este é um princípio incontornável e admito que são ideias como estas que diferenciam empresas globalmente integradas e centenárias. Em 2003, os valores da IBM foram “refrescados”, exactamente com o propósito de preparar os IBMers de todo o mundo a fazerem a transição para o século XXI. E foi feito através de um diálogo online. O que pode contar sobre esta iniciativa e sobre os resultados dela provenientes? Através de um fórum online, reunimos os colaboradores em todo o mundo durante mais de 72 horas, no que chamámos “Jam”. Foi confuso, apaixonante e controverso… Mas os valores que emergiram não eram “os valores da IBM”…eram os “valores dos IBMers”. Na verdade, estes valores eram já vivenciados pelos colaboradores e confirmaram estar enraízados na nossa identidade corporativa. É com base nesses valores que temos conduzido a nossa estratégia de permanente adaptação e mudança. Integrámos globalmente a nossa companhia. Refizémos o portfolio de produtos e serviços… apostámos nos serviços e soluções de valor para o mercado e para os clientes mantendo, contudo, a nossa vertente de inovação tecnológica. Por isso, acredito que nenhuma destas mudanças teria sido efectiva e sustentável se não tivéssemos primeiro regressado à base, às nossas raízes, à fundação da nossa cultura… e trazê-la de novo para uma nova era. Este foi um claro regresso da IBM ao contacto com o seu ADN. A história da IBM pode, de facto, ser vista como uma experiência de um século de como institucionalizar e perpetuar o que faz de nós…nós. Samuel Palmisano afirma também que se “o negócio tem como base caminhar para o futuro, não se pode estar emocionalmente amarrado ao passado”. A venda da área de negócio dos PC foi encarada como alguma surpresa, mas com excelentes resultados. O que significou para a empresa esta decisão? Gostaria que explicitasse o alcance da vossa área de “solutions for a smarter planet”. Considerando que as cidades de hoje consomem aproximadamente 75% da energia do mundo e emitem mais de 80% dos gases que provocam efeito de estufa e desperdiçam cerca de 20% da água fornecida devido a falhas na infra-estrutura… a iniciativa Smarter Planet traduz-se, pois, na procura de soluções inteligentes para a redefinição ou criação de sistemas que ajudem a optimizar e a melhorar as cidades em que vivemos e trabalhamos. A IBM é um “mundo”. É possível, contudo, enumerar algumas das divisões de negócio nas quais estão a apostar mais na actualidade? O ambiente “cloud” está agora nas bocas do mundo. Como está a IBM a preparar o seu salto para as “nuvens”? Ora, sistemas que aprendem conseguirão examinar informação estruturada e não estruturada, encontrar correlações, desenvolver hipóteses e sugerir acções. As capacidades do Watson ao serviço de áreas como a saúde, por exemplo, são infinitas… desde a possibilidade de armazenar não só registos médicos electrónicos, mas também toda a informação de um paciente – sintomas, descobertas, notas médicas, consultas e historial de família… através da tecnologia analítica do Watson – muito baseada em ferramentas como o business analytics – será possível fazer uma pesquisa automática de todos os textos, materiais de referência, casos prioritários e todo o conhecimento mais recente publicado em jornais e literatura médica para propôr um diagnóstico mais acertado. E, sistemas destes são tão mais necessários quanto o mundo em que vivemos é cada vez mais interconectado, instrumentalizado e, consequentemente, inundado de informação. Ao extrair informação de forma mais inteligente e optimizada, estamos certamente a contribuir para a melhoria das condições de vida dos cidadãos em todo o mundo.
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