O ser humano tem uma série de características absolutamente únicas, sendo uma delas a faculdade inata de se levar demasiado a sério. Esta tendência para a ‘umbilicalidade’ impede-nos muitas vezes de olhar à nossa volta e fazer aquelas perguntas que as crianças fazem: o que é isto? Como funciona? Para que serve? Por que é que é assim? O ser humano tem uma série de características absolutamente únicas, sendo uma delas a faculdade inata de se levar demasiado a sério e a eterna sensação que anda sempre a descobrir a pólvora. Senão vejamos: vivemos num mundo onde tudo foi inventado, testado, ensaiado, tornado obsoleto e inovado pela Natureza e, em vez de dedicarmos mais atenção a um planeta que tem um sistema auto-regenerativo, a ecossistemas que não produzem lixo, a espécies de organismos que conseguem viver em absoluta privação de luz, oxigénio e até de condições de vida durante milhares de anos até que, por ‘magia’ ressuscitam, andamos diariamente em busca da reinvenção da roda ou a brincar à economia do crescimento infinito num cenário de inovação tecnológica miraculosa. A nossa tendência para a ‘umbilicalidade’ impede-nos muitas vezes de olhar à nossa volta e fazer aquelas perguntas que as crianças fazem (por vezes até nos moer o juízo): o que é isto? Como funciona? Para que serve? Porque é que é assim? Curiosos? Let me entertain you! Exhibit 1 – Polinização wikipédica Exhibit 2 – Ver a vida com outros olhos… mesmo Ah, já me lembro! Muitos gestores de topo e administradores executivos são por vezes acusados, ou glorificados por ter uma visão bidimensional, de verem as coisas em termos de preto e branco, agarrados à urgência do “show me the numbers!” e de agirem rápido num –snap!- que tanto fervor wallstreetiano gera. No entanto, mesmo que vissem em ’12 cores’, continuariam a ter uma visão limitada da realidade. Então qual a vantagem de um sistema simplificado de análise discreta de cores? Voltemos ao O. Scyllarus, que como foi dito, tem uma técnica de caça que podemos apelidar de violenta e extremamente eficaz, que consiste em fazer disparar as suas patas toráxicas modificadas (que lhe dão o tal aspecto de louva-a-deus) num soco tipo tiro de calibre .22, i.e., o equivalente a um embate a 720km/h, com uma força de impacto de 60 kg/cm², capaz de quebrar facilmente a carapaça de caranguejos, conchas de búzios ou mesmo o vidro reforçado de um aquário. A sua vantagem é a actuação-relâmpago e a detecção rapidíssima das presas (e predadores) através de uma análise simplificada de cores básicas, que vão do infra-vermelho ao ultra-violeta, que informam o cérebro em milésimos de segundo, sem que este tenha que processar informação relativa a mistura de cores, o que atrasaria a resposta em centésimos de segundo, talvez o suficiente para o fazer perder o jantar… ou tornar-se o de alguém. A visão deste camarão comparada com a visão humana funciona na mesma lógica dicotómica assinalada por Daniel Kahneman, em ‘Pensar, Depressa e Devagar’5. Enquanto que a tamarutaca investe num sistema de resposta rápida e instintiva como trunfo de sobrevivência, os seres humanos tem a vantagem de ir para além da decisão ‘relâmpago’ simplificada e recorrer a simulações de respostas neurológicas e racionais que, embora mais lentas e deliberativas, lhe permitem ir para além do simples saciar da sua voracidade e actuar num mundo complexo de nuances e interdependências de forma a aumentar o seu sucesso colectivo. Ou seja, se o seu objectivo não é só focar em maximizar lucros, nem que para isso tenha que partir conchas e carapaças para levar a sua avante, o melhor talvez seja mesmo passar algum tempo debruçado sobre decisões importantes que envolvem o bem-estar de muitas pessoas. Referências:
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Biólogo e CEO da NBI – Natural Business Intelligence