Quanto pior, tanto melhor. Parece ser o lema de muitos responsáveis sindicais, associados a uma classe dos “media”, igualmente feliz por Portugal estar em crise e que, em vez de procurarem soluções para o estado de bancarrota a que chegámos, esquecem-se que os efeitos da mesma lhes irão bater à porta, mais célere do que imaginam!
POR DAVID ZAMITH*

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«Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». Mas até parece que nem todos estão a ver a realidade dos factos, ou quiçá a não “desejar ver”, preferindo a sua comodidade à prioridade na acção.

As reformas da Europa estão a originar que o tecido associativo esteja igualmente em crise (com uma falta de espaço evidente ao nível dos seus próprios contribuintes), o que para muitos é visto com enorme preocupação e gravidade: seja pela perda de empresas e consequente número de associados; seja pelo aumento de desemprego e dificuldades financeiras que levam à diminuição na participação associativa (empresarial e sindical).

Portugal é uma nano-micro economia na qual o tecido empresarial é apoiado, na sua quase totalidade, por micro e pequenas empresas familiares. Com os efeitos da deslocalização e consolidação empresariais, acrescido aos factores menos positivos da performance económica geral, com o aumento contínuo das insolvências, a visãoda cúpula associativa empresarial portuguesa promoveu a fusão de várias estruturas criando uma só, numa atitude de realismo e modernidade. Aliás, o mesmo se passou aquando da reestruturação do sector da indústria do calçado, com consolidação associativa, e cujos resultados positivos estão à vista.

A grande maioria dos empresários, até porque de base familiar, reconhece de forma inequívoca que o maior activo das suas empresas são os seus colaboradores, sendo fundamental a aposta nas competências, pela formação contínua, pela meritocracia, apostando na motivação e no espírito de equipa. Os empresários portuguesas acreditam que são os seus líderes, em toda a estrutura da empresa, os factores de transformação das empresas, empresas essas que constituem os protagonistas na criação da riqueza e de emprego, já que ao Estado se lhe pede apenas que regule bem.

Com a crise da “bolha”, vivendo nós hoje em Portugal a pior das bolhas, a da bancarrota, a Europa evoluída utilizou a sua organização, centrada nos Centros de Emprego, munida de meios e competências, como por exemplo o “kurzarbeit” na Alemanha ou na Suíça, um esquema pró-manutenção da estrutura empresarial e laboral, utilizando processos de redução de tempo de trabalho e interligação rápida entre o Estado, a empresa e o colaborador, privilegiando a ligação ao emprego e à saúde da empresa, sempre numa perspectiva de solução positiva. Em Portugal, com uma lei laboral rígida e desactualizada (a mais rígida dos 27), baseada em extensos “cadernos de encargos” de articulados reivindicativos, a justificar enormes e vetustas estruturas de sindicalistas, e onde os processos de insolvência têm por norma o destino da própria soberania…a falência!

Para quando uma legislação moderna, flexível e ajustada ao novo mercado onde a inexistência constante de encomendas é uma realidade? Para quando contratos diferenciados, seja um para o sector público, outro para as grandes empresas e um novo, moderno, flexível, para as micro e PME portuguesas?

Só com uma nova visão desburocratizada, simplificada, flexível, com rendimentos anuais, com o ónus do desemprego a cargo do Estado e não das empresas (quando em presença de, por exemplo, inexistência de encomendas), criando uma competição saudável do mercado de trabalho (nomeadamente no sector privado e das micro e PME), será possível ajustar o mercado de trabalho e trazer novos empregos. Só assim se poderá evitar o destino actual da soberania!

Os sindicatos portugueses, identificam-se com verdadeiras estruturas de combate político-partidário, de permanente reivindicação, combate e luta (verdadeiros símbolos permanentes da era Gonçalvista), num autismo doentio e assustador versus o mundo real da imperiosa necessidade de flexibilização para a manutenção do emprego no “combate e luta” ao mundo da globalização, com exemplares excepções como a vivência empresarial numa AutoEuropa.

É tempo de todos fazerem uma auto-crítica, pela positiva, e nós perguntamos se os responsáveis sindicais, com direcções antiquadas e sem respostas para a realidade do mundo actual, numa clara falta de visão estratégica, também não têm a sua quota-parte no estado de bancarrota em que nos encontramos?

Ao contrário, soubemos com tristeza, que o Ministro da Educação reuniu recentemente com 13 sindicatos, e com mais tristeza, mas sem espanto, que sempre os mesmos não haviam, ao fim de longas horas, chegado a consenso com o governo, vindo “fazer ruído” para os “media”, protestando, anunciando o fim, promovendo a luta e o combate “A La Gonçalves”, como a CGTP, e mais recentemente a UGT, a falarem em greves gerais e quase em guerra! Sempre de fora, sempre sem respostas novas, para as coisas novas do século XXI e do mundo global em que vivemos, sempre os mesmos e já velhos com ideias velhas!

Felizmente vivemos num País onde a greve é permitida, já que se vivêssemos em regimes de amplas liberdades, seguramente silenciariam o próprio direito à crítica!

Vivemos a “Hora da Verdade”, e se na ausência da Troika era um fartar de vilanagem, com o sindicalismo inclusive em revindicação permanente, no caminho da falência. Agora, com a Troika, gasta-se o que se pode e com a obrigatoriedade de regressão!

Só com a participação de todos, num retorno ao equilíbrio dos direitos e dos deveres, será possível alterarmos o rumo. Líderes da CGTP e da UGT: o mundo mudou e vai mudar ainda mais, em crescendo de dificuldades na Europa, tanto para o empregado como para o empregador!

Vivemos momentos de mudança de paradigma, baseado em 3 pilares: O do Bem Comum, o da Competitividade e o dos Líderes como factores de transformação das empresas.

Precisamos de soluções novas, de todos os quadrantes, com realismo e esperança.

David Zamith
ACEGE – Núcleo do Porto

ACEGE - Núcleo do Porto