No momento que hoje vivemos, onde as oportunidades no mercado português escasseiam, fala-se cada vez mais da disponibilidade para encarar desafios profissionais fora de Portugal. Se, por um lado, os destinos da Europa são os mais apetecidos, quer pela proximidade quer pelo nível de vida, o Brasil e alguns países de África começam a ganhar peso, não só pela questão da língua, mas também pelo crescimento dos seus mercados. Neste último aspecto, a Ásia é o continente onde as perspectivas são mais animadoras, o que faz de destinos como a China, a Índia ou Singapura verdadeiras ‘geografias do talento’
POR MARIANA BRANQUINHO DA FONSECA

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Mariana Branquinho da Fonseca é
Partner da Heidrick & Struggles
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Cada vez mais os profissionais do nosso mercado são confrontados com a Internacionalização, uns por opção, outros por falta dela. Por opção, porque é um objectivo de carreira e portanto é o próprio a procurar essa experiência, quer na empresa onde se encontra, quer em outra. Mas quando se trata de procurar a internacionalização por falta de opções no mercado de origem, então os cuidados devem ser redobrados. Em qualquer dos casos existe um conjunto de aspectos a ter em conta.

Um dos aspectos importantes no processo de internacionalização é ter consciência do que significa, na prática, sair de um mercado, país, cultura que se domina para enfrentar uma realidade normalmente desconhecida. Os países são como as empresas, cada um tem a sua cultura e especificidades. Por isso, não se deve subestimar o processo de integração e, por inerência, há que perceber a flexibilidade e a capacidade de adaptação que a pessoa tem demonstrado ao longo da sua vida.

Ir para onde, e fazer o quê? No caso de ser uma internacionalização dentro da empresa onde actualmente se trabalha, este aspecto é mais fácil. Ainda assim é importante identificar um país, empresa ou função com os quais exista alguma afinidade, por forma a garantir não só uma boa adaptação e integração, mas também que a pessoa tem capacidade de se diferenciar nesse mercado. Porque é que uma empresa num mercado que não é o seu de origem, o deve contratar a si e não a outra pessoa?

Conhecer os mercados
Definido o destino, sector e tipo de funções, então é importante fazer mais pesquisa para saber quem são os players ou empresas e quem é que pode ajudar neste processo (desde empresas de recrutamento a conhecimentos locais, passando por networking). Reunir o máximo de informação é relevante para aumentar o conhecimento e alinhar expectativas.

É difícil procurar trabalho à distância e, nste aspecto, o contacto pessoal é ainda importante. Assim, investir numa viagem ao destino para poder in locco conhecer o mercado e dar-se a conhecer é fundamental. Essa viagem deve ser bem planeada, com uma agenda concreta, para garantir que se consegue reunir (ou conversar) com as pessoas mais relevantes no processo. Como conhecer o mercado local e arranjar esses contactos? Uma vez mais o networking é muito importante, se associado às redes sociais que hoje em dia facilitam em muito o acesso a pessoas que não se conhece directamente.

Acima de tudo há que encarar estes processos com calma, não esquecendo que têm de ser bem sucedidos quer ao nível profissional quer ao nível pessoal. Por exemplo, é importante fazer uma mudança gradual no caso de se tratar de uma família – ir primeiro a pessoa que consegue o trabalho, ver como as coisas correm e como se adapta, e estando confirmadas as expectativas, levar o resto da família.

Outro aspecto que deve estar presente quando se pensa na internacionalização é o regresso. Sabendo que é difícil prever a volta, não há como apostar numa função ou carreira que contribua para o crescimento profissional, consolidando e desenvolvendo novas competências.
A decisão de fazer as malas e mudar-se para outro país exige, pois, alguma reflexão, onde é importante encontrar a resposta a questões como: Quais as reais motivações para ir para fora? O que se espera encontrar no destino? Quais os desafios que se colocam quando se dá início ao processo de procura de trabalho? Responder a questões como estas pode não ser fácil, mas ajuda a calibrar as expectativas em relação ao que se pode vir a encontrar.

Desafios lá fora, oportunidades cá dentro
No momento em que hoje vivemos, onde as oportunidades profissionais no mercado português escasseiam, fala-se cada vez mais da disponibilidade para encarar desafios profissionais fora de Portugal. Se, por um lado, os destinos da Europa são os mais apetecidos, quer pela proximidade quer pelo nível de vida, destinos como o Brasil, alguns países de África começam a ganhar peso, não só pela questão da língua, mas também pelo crescimento que esses mercados atravessam.

“O ideal é apostar numa função ou carreira que contribua para o crescimento profissional, consolidando e desenvolvendo novas competências” .
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O que muitas vezes acontece é que mais facilmente de decide ir para fora, do que realmente se tentam procurar oportunidades em Portugal. Enfrentar o desconhecido é mais apetecível do que lutar num ambiente que já conhecemos. Pode ser verdade, mas o que acontece é que o ambiente desconhecido também reserva muitas surpresas, nem todas elas agradáveis.

Quem toma a decisão de se mudar para outro país tem que antecipar essas surpresas, ou essas barreiras. Só desta forma poderá evitar ou diminuir alguma frustração ou desalento que possa vir a sentir mais tarde. Os aspectos legais e administrativos, como o visto de trabalho, o processo de procura propriamente dito (como identificar oportunidades, como chegar a uma fase de entrevista, etc.), e a adaptação ao novo mercado, custo de vida, como e quando voltar, como se adapta a família (a que vai e a que fica), são temas suficientemente relevantes que devem ser analisados no processo de tomada de decisão.

Sair do país para ir trabalhar para fora exige uma grande persistência, resiliência e capacidade de auto-motivação, nomeadamente acreditar que se vai conseguir, apesar de todas as dificuldades que possam aparecer ao longo do caminho. Por outro lado, é fundamental a capacidade de adaptação e flexibilidade no sentido de detectar e ser capaz de aproveitar as oportunidades que possam surgir.

Encontrar um novo desafio profissional num mercado diferente, não é tão fácil como parece. Assim, quando um profissional não está completamente convencido se será uma boa decisão acho que vale a pena responder à pergunta: será que fiz tudo o que podia para encontrar uma alternativa profissional em Portugal?

Ásia, uma geografia de talento
Actualmente em Portugal a internacionalização é palavra de ordem, pelo que os mercados com maior potencial de crescimento ganham visibilidade. Estudos recentes feitos pelo FMI vieram confirmar algumas opiniões: a Ásia é o continente onde as perspectivas de crescimento são mais animadoras, sendo que a China e a Índia lideram com 9,5%.Esta oportunidade coloca vários desafios às organizações portuguesas – por um lado é um mercado interessante pela dimensão e crescimento esperado, mas por outro tem uma cultura muito própria, muito diferente da portuguesa. Mais, cada país do continente asiático tem o seu enquadramento político, social, cultural e económico (a China é diferente da Índia, que é diferente do Japão, por exemplo). Sendo o processo de internacionalização das organizações portuguesas quase que obrigatório, perceber esta diversidade e procurar entender as especificidades de cada país é o primeiro passo para que o mesmo possa ser bem-sucedido.

Encontrar pessoas qualificadas disponíveis para trabalhar, sobretudo em lugares de topo nas empresas é outro desafio. São geografias onde a procura de talento é muito grande (desde grandes multinacionais até empresas de menor dimensão ou expressão), causada pela capacidade de atracção que estes mercados representam, mas onde a oferta de talento é escassa.

Muitas empresas já com presença na China têm optado pelo desenvolvimento interno dos seus colaboradores, ou seja, contratam locais sem experiência, investindo cada vez mais tempo e dinheiro no respectivo desenvolvimento. Para ultrapassar este desafio é importante uma definição clara das características, competências e experiência, realmente essenciais nos elementos a contratar, juntamente com alguma flexibilidade e criatividade que permitam equacionar várias alternativas.

De uma forma geral as organizações procuram executivos com experiência e/ou conhecimento no mercado local. Assim, podem procurar estrangeiros já com experiência profissional no mercado ou chineses que estejam a trabalhar em outros países e que possam ter interesse em regressar. Outra alternativa, em particular para aquelas organizações que têm uma estratégia que abarca vários países asiáticos, é a pool de talento que nos últimos anos se tem vindo a desenvolver em Singapura. Este país tem funcionado como um hub para muitos dos investimentos feitos na região, tendo por isso a vantagem de conhecer a cultura e a diversidade local e, ao mesmo tempo, a experiência de trabalhar em organizações ocidentais.

A boa notícia é que esta abertura do mercado asiático, em particular da China, e o contacto crescente com profissionais de outras nacionalidades e culturas, vai contribuir para que o país se destaque pela positiva, na sua capacidade de desenvolvimento do seu talento.

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