No contexto da comemoração dos seus 20 anos, a Sair da Casca aderiu este mês à rede de parceiros da Convergences, a primeira plataforma de reflexão na Europa dedicada a estabelecer novas sinergias entre actores públicos, privados e solidários. Esta participação integra-se na nossa vontade de contribuir para a promoção dos Objectivos do Milénio
POR NATHALIE BALLAN

No contexto da comemoração dos seus 20 anos, a Sair da Casca aderiu este mês à rede de parceiros da Convergences, a primeira plataforma de reflexão na Europa dedicada a estabelecer novas sinergias entre actores públicos, privados e solidários.Esta participação vem reforçar as nossas parcerias internacionais e integra-se na nossa vontade de contribuir para a promoção dos Objectivos do Milénio. Partilhamos a convicção de que nenhum sector pode resolver isoladamente as problemáticas societais, sendo indispensável construir pontes entre todas as partes interessadas.

Desde o início do século, e muito reforçada pela visibilidade dos Objectivos do Milénio, tinha emergido uma questão: qual o contributo das empresas para o desenvolvimento? Globalmente, esta questão ganhou palco, em 2004, quando o Professor C.K. Prahalad, da Universidade do Michigan, publicou o seu livro mais famoso, The Fortune at the Bottom of the Pyramid (BoP). Elaborada para os países emergentes, a teoria da base da pirâmide e as práticas decorrentes visam assegurar produtos e serviços de qualidade para os biliões de pessoas que vivem na pobreza.

Paralelamente, o WBCSD tinha apresentado em 2005 o conceito de “negócios inclusivos”, que faz referência a soluções empresariais, comercial e economicamente viáveis que vão para além da filantropia e são dirigidas a comunidades de baixos rendimentos e/ou apoiam os fornecedores locais. Já é claro que são estratégias que passaram da Responsabilidade Social para os modelos de negócio, e são inúmeras as inovações sucedidas, como as da Unilever na Índia, dos óculos “low cost” da Essilor, da Danone no México ou da Vodafone no Quénia (com o serviço de mobile banking que permitiu dar acesso a serviços financeiros a mais de 50% da população adulta). Hoje o modelo da M-PESA existe também em países como Moçambique, Roménia, Egipto, etc.

Este tema do papel das empresas no combate à pobreza tem uma segunda fonte de inspiração. Trata-se do conceito de social business, elaborado pelo Prémio Nobel da Paz, o Professor Yunus: um social business é uma empresa cuja finalidade é solucionar um problema social ou ambiental. Sem perder dinheiro, lucrativa, mas também sem distribuição de dividendos, libertando-se assim das pressões dos accionistas.

As empresas tradicionais podem ser investidores, ou mesmo desenvolver uma parte da sua actividade segundo este modelo. Várias multinacionais aceitaram o desafio de Yunus e montaram com ele novas empresas “sociais” nas suas áreas de negócio. Nomeadamente para experimentar e explorar novos produtos e países. Podem também ter um papel chave no desenvolvimento das empresas sociais, como investidores, accionistas, etc. É uma evolução muito interessante das políticas de RS, que poderão ter uma vertente mais caritativa e outra mais empreendedora para projectos sociais.

No contexto da crise, o social business despertou o interesse da própria Comissão Europeia, que lançou uma iniciativa sobre o tema em 2011. Este interesse das instituições políticas e das empresas sobre modelos inovadores tem a sua origem na constatação de que é preciso inovar para resolver os problemas sociais e ambientais, e que apenas soluções co-construídas pelos diferentes actores podem resultar.

Assistimos nestes últimos anos a uma aproximação entre os diferentes agentes em torno da Inovação Social, definida como uma abordagem colectiva para responder a desafios socio-ambientais. A Sair da Casca aderiu com grande entusiasmo, e começou a fazer da co-construção e da cooperação entre as partes interessadas o ponto de partida das estratégias apresentadas aos seus clientes.

Dedicamos muito tempo à inovação, nas questões sociais, mas também como processo para inovar nas abordagens metodológicas e nos projectos no terreno. Vamos buscar ideias ao design thinking, aos movimentos da economia colaborativa e à nova tipologia de relações e envolvimento que permitem as redes sociais.

Esta convergência entre actores, entre modelos económicos, é apaixonante e muito inspiradora. Obriga a mudar atitudes e metodologias de trabalho. Dá uma nova visão sobre as parcerias para a sustentabilidade. Será o nosso caminho para os próximos 20 anos.

Fundadora da Sair da Casca, Senior Partner