POR ANA MACHADO
Quem conhece o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, publicado em 2004 pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz a pedido de João Paulo II, dificilmente fica surpreendido com uma afirmação como a de Peter Kodwo Appiah Turkson, sacerdote sexagenário originário do Ghana, quando este diz que “devido à sua extensão e à inevitável complexidade de algumas passagens, [o Compêndio] pode ser desencorajador para os que iniciam a aprendizagem da Doutrina Social da Igreja.” O que pode ser mais surpreendente é constatar que quem o diz é o Prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, antes Presidente do mesmíssimo Pontifício Conselho Justiça e Paz.
Talvez o Cardeal Turkson tivesse guardado para si esta apreciação (que não diminui em nada a categoria extraordinária do trabalho que resultou na publicação do Compêndio), se não soubesse que tinha nas mãos o instrumento certo para ultrapassar o problema: a frase é dita no Preâmbulo do Manual da Doutrina Social da Igreja – Um Guia para os Cristãos no Mundo, lançado no ano passado nos Estados Unidos e cuja edição portuguesa, da responsabilidade da Principia, vai ser apresentada no dia 24, na AESE, pelo coordenador desta obra, Monsenhor Martin Schlag.
Martin Schlag é um académico, professor de Doutrina Social da Igreja, titular da Cátedra Alan W. Moss de Doutrina Social da Igreja no Centro de Estudos Católicos da Universidade de St. Thomas (Minnesota) e director do Instituto John A. Ryan de Doutrina Social da Igreja. Mas é sobretudo uma pessoa com um conhecimento pouco comum nesta área e uma ainda menos comum capacidade de a trazer para a vida real, prática, concreta:
[quote_center]As empresas, se cumprirem os requisitos legais e morais, farão um bem imenso. Elas criam empregos, produzem bens, inovam e melhoram as nossas vidas – Martin Schlag[/quote_center]
Ao longo dos séculos, os cristãos procuraram pôr em prática o mandamento de Cristo de amar o próximo, e ao longo do tempo a Igreja redigiu uma doutrina social para nos ajudar nessa grande tarefa. No entanto, essa doutrina não pode ser apenas uma teoria. Desafio-o a aproximar-se deste livro como de um exame de consciência, meditando no seu conteúdo e no que ele significa para a sua vida: como posso viver a mensagem de Cristo da caridade activa? O que significam para mim, aqui e agora, as suas palavras? O que faria Jesus se estivesse no meu lugar?
As questões com que se debate a Doutrina Social da Igreja são exigentes. No Preâmbulo do Manual, o Cardeal Turkson apresenta algumas: “os direitos dos trabalhadores, os malefícios do totalitarismo, o desrespeito maciço pela dignidade e pelos direitos humanos, a investida do paradigma tecnocrático, as crises económicas e financeiras, a destruição do ambiente natural, o tráfico de seres humanos e a migração forçada”.
Este Manual tem a peculiaridade de encarar persistentemente os problemas sob a perspectiva de desafios. Deixo a todos os que vierem à AESE o juízo sobre esta e outras apreciações, mas o modo como Martin Schlag abre o capítulo relativo à vida económica parece-me representativo: “As empresas, se cumprirem os requisitos legais e morais, farão um bem imenso. Elas criam empregos, produzem bens, inovam e melhoram as nossas vidas. A Igreja quer uma economia que produza riqueza, prosperidade e justiça para todos, e não apenas para alguns.”
Cátedra de Ética na Empresa e na Sociedade AESE/EDP
magnífico, dá coragem saber estas conclusões
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