Para criar empresas que seguirão metas sustentáveis, devemos criar indivíduos que tenham essa mesma mentalidade. Por isso, o caminho a ser seguido é o da reforma na estrutura educacional. Como interiorizar um conceito de sustentabilidade se este não é passado de forma transversal? O papel das instituições de ensino superior na construção de um mundo sustentável não só é de importância extrema, como é também uma questão de sobrevivência
POR
SORAHYA SACRAMENTO

No final de uma auditoria desafiadora de SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde) numa empresa de petróleo, foi-me oferecido um livro de Leonardo Boff intitulado “Como Cuidar da Terra”. O livro continha uma dedicatória que considero um marco decisivo na minha vida. Dizia “Você plantou a sementinha do cuidado em nossos corações, é irreversível. Valeu”. A partir deste dia, iniciou-se em mim um processo de questionamento e uma procura de novos caminhos.

Mais de vinte anos de experiência em vários segmentos diferentes proporcionaram-me uma escola de aprendizagem. E a consciência de que a sustentabilidade ainda não faz parte do dia-a-dia de muitas pessoas, levou-me a perceber que toda a experiência adquirida deve ser partilhada.

A gestão mostrou-se como o caminho para identificar a causa raiz do problema, sendo que aprofundar e trabalhar nesse sentido tornou-se imperativo. As organizações têm dificuldade em perceber os riscos que correm quando aplicam uma gestão precária. O argumento de que a sustentabilidade dá lucro surgiu da necessidade de mostrar a essas organizações que o investimento em sustentabilidade resulta numa gestão bem-feita que gerará lucros para o indivíduo e para o colectivo da empresa. Procurei dar ênfase ao exercício da ética e ao respeito que devem permear todas as relações, além da felicidade, que é aquilo que nos motiva a dar passos em frente.

Para criar empresas que seguirão metas sustentáveis, devemos criar indivíduos que tenham essa mesma mentalidade. Por isso, o caminho a ser seguido é o da reforma na estrutura educacional. Como interiorizar um conceito de sustentabilidade se este não é passado de forma transversal?

Para que as nossas escolhas sejam sustentáveis e as nossas atitudes automáticas, é preciso que o conceito de sustentabilidade seja disseminado e estudado da mesma forma que estudamos desde pequenos as quatro operações matemáticas. Devemos somar conteúdo, subtrair desrespeito, multiplicar acções inovadoras e dividir os recursos de forma mais igualitária. A sustentabilidade precisa de ter o mesmo lugar na educação que a matemática. É uma questão de sobrevivência.

Deve-se entender que existem limites ecológicos, que não há sucesso à custa da infelicidade e da desgraça alheia, que a pobreza e o sofrimento devem ser enfrentados, que a economia precisa rever os seus parâmetros. O Papa Francisco escreve na Carta Encíclica Laudato Si que o ser humano deve ser entendido como administrador responsável do universo. De facto, a acção de cada indivíduo impacta o ambiente ao seu redor. Deste modo, o comportamento antropocêntrico do homem, que coloca o ser humano no centro do universo,deve ser repensado. A mudança de comportamento de cada indivíduo é a questão chave.

[quote_center]Para que as nossas escolhas sejam sustentáveis e as nossas atitudes automáticas, é preciso que o conceito de sustentabilidade seja disseminado e estudado da mesma forma que estudamos, desde pequenos, as quatro operações matemáticas. Devemos somar conteúdo, subtrair desrespeito, multiplicar acções inovadoras e dividir os recursos de forma mais igualitária[/quote_center]

Nada é mais transformador do que a educação. É através dela que podemos vislumbrar uma mudança de comportamento e aprender a estar em consonância com a sustentabilidade no nosso quotidiano.

Foi então que resolvi vir para Portugal fazer um mestrado em Estudo do Ambiente e Sustentabilidade no ISCTE com o objectivo de desenvolver o meu projecto de tese que tem como estudo de caso o próprio ISCTE. O projecto de tese tem como objectivo a implementação do Sistema de Gestão Ambiental (com a Certificação ISO 14001) que pretende abraçar os pilares social e económico de forma a construir um sistema de gestão sustentável. O projecto consiste em definir mecanismos que possam incluir o tema da sustentabilidade em todas as formações oferecidas no ISCTE.

Em Setembro de 2015, as Nações Unidas, através de um trabalho desenvolvido por governos, sociedade civil e outros parceiros, definiram os 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os 17 ODS apresentam uma oportunidade histórica para se agir de forma a acabar com a pobreza, a promover o bem-estar e a prosperidade, a proteger o meio ambiente e a criar recursos para que todos possam enfrentar de forma democrática as consequências das alterações climáticas.

O quarto objectivo dos ODS diz respeito ao tema da “Educação de Qualidade”, tendo como propósito oferecer às pessoas os meios necessários para fazerem as suas escolhas e lutar por elas, utilizando como ferramenta o conhecimento.

Acredito que no momento em que o tema fizer parte de todos os cursos oferecidos pelas instituições de ensino teremos, de facto, os resultados esperados nas definições de políticas públicas, nas definições de novos caminhos para uma economia com um sistema financeiro mundial sustentável, em conjunto com o desenvolvimento de novas formas de produção de bens e serviços com a preocupação de gerar mais qualidade de vida com menor quantidade de recursos naturais.

Ideias simples são capazes de provocar grandes efeitos. Continuo a pesquisar as práticas actuais, os bons exemplos que existem pelo mundo, e tentarei estruturar o meu projecto de forma objectiva e prática, utilizando ferramentas de gestão pertinentes para alcançar o meu objectivo.

Espero que a partir deste projecto tenhamos a possibilidade de garantir a sustentabilidade dentro do quotidiano de cada aluno. Desejo que cada profissional que entrar no mercado de trabalho a partir da implementação do projecto seja um multiplicador da nova cultura. Que o profissional possa exercer o seu papel, focado não somente em ser o melhor do mundo, mas sim em ser o melhor profissional PARA o mundo.

Consultora e palestrante na área da Sustentabilidade e mestranda no ISCTE (Estudo do Ambiente e Sustentabilidade)