Os desafios e a incerteza que enfrentamos por causa do surto de Covid-19 não têm precedentes. A pandemia do coronavírus transformou-se numa crise mundial e a ameaça que representa tanto para as nossas vidas como para a nossa subsistência deixa-nos com sentimentos profundos de medo, insegurança e dor
POR ROLANDO MEDEIROS

Adicionalmente, e numa tentativa de “achatar a curva”, muitas instituições e organizações em todo o mundo foram encerradas, e muitas regiões, cidades e países implementaram as mais restritivas e alargadas quarentenas de massas: um terço da população global encontra-se agora em confinamento devido ao coronavírus.

O impacto massivo generalizado na economia mundial produziu um choque global; na oferta (porque muitas empresas não estão a operar) e na procura (porque as pessoas e os negócios estão a reduzir as compras devido aos encerramentos e ao distanciamento social). E a crise económica subjacente está a agravar a dureza e o drama desta situação perturbadora. Todas as empresas, independentemente da sua dimensão, estão a enfrentar desafios sérios e uma ameaça real de declínio significativo das suas receitas, de insolvência e de perda de postos de trabalho.

Manter as operações de negócios será particularmente difícil para as pequenas e médias empresas. Muitos trabalhadores estão impedidos de se deslocarem para os seus locais de trabalho ou de realizarem as suas funções, o que tem repercussões nos rendimentos, em particular para os trabalhadores informais ou para os temporários, para os desempregados ou em situação de subemprego, repercussões essas que irão ascender a níveis assombrosos.

Durante tempos como estes, quando somos sacudidos do conforto das nossas vidas normais e enfrentamos uma ameaça existencial, é imperativo que confiemos em primeiro lugar na nossa fé. Pessoalmente – e temeroso e perdido como muitos de vós talvez estejam – tenho encontrado um enorme consolo nas reflexões profundas do Papa Francisco, em particular as proferidas na sua bênção Urbi et Orbi a 27 de Março último. Ele afirma que fomos apanhados desprevenidos por uma tempestade inesperada e furibunda. E que esta tempestade expõe as nossas vulnerabilidades e evidencia as certezas falsas e supérfluas em torno das quais fomos construindo os nossos planos diários, os nossos projectos, os nossos hábitos e prioridades. E mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e comunidade. De forma lúcida, o Papa Francisco classifica esta altura como tempo de escolher entre o que conta e o que passa, de separar o que é essencial do que não é. E é também o tempo de reajustar a rota das nossas vidas rumo ao Senhor, e aos outros.

Encorajo cada um de vós a reflectir em profundidade sobre esta homilia na qual podemos encontrar não só conforto, mas também orientações com sentido para nos ajudar – e tendo em conta os nossos deveres enquanto líderes empresariais – a ultrapassar esta tempestade. E para encararmos esta crise também como uma oportunidade para demonstrar às nossas organizações e aos seus stakeholders o nosso firme compromisso, enquanto líderes de negócios cristãos, relativamente aos valores que pregamos: principalmente, o respeito pela dignidade de todos os seres humanos, e em particular pelos pobres, liberdade responsável, subsidiariedade, solidariedade, bem comum e o destino universal dos bens que abrange o cuidado com o ambiente natural e a sustentabilidade.

Ao aderirmos a estes princípios aquando da adopção das decisões críticas e difíceis que esta ameaça invisível nos coloca, seremos capazes de conduzir as nossas empresas para fora desta tempestade de uma forma mais humana e mais fortes; e a sermos desafiados, enquanto líderes de negócios cristãos, por um maior e mais profundo significado da vida. Teremos assim feito progressos significativos nesta busca de transformar os negócios numa nobre vocação.

Com toda a humildade, e com uma enorme esperança de que possa servir de ajuda a outros líderes empresariais da rede UNIAPAC, gostaria de partilhar de que forma a Elecmetal S.A. está a enfrentar esta tempestade. A Elecmetal é uma empresa global – da qual sou o CEO – com milhares de empregados espalhados pelo mundo e com unidades fabris em vários países da Ásia, África, América do Norte e do Sul. No documento em causa – um memorando interno da minha empresa – é possível encontrar orientações e acções específicas implementadas para gerir a epidemia Covid-19, assegurando a sustentabilidade das nossas operações a nível global, enquanto lidamos com os muitos desafios e questões provenientes desta crise e de uma forma que é consistente com os nossos valores. Estou igualmente disponível, e agradecido ficarei, relativamente a qualquer tipo de feedback ou sugestões que possam considerar apropriado partilharem comigo.

Caso considerem esta abordagem de valor, encorajo também cada associação pertencente à UNIAPAC a partilhar exemplos reais de como os nossos líderes empresariais estão a lidar com esta epidemia e com a consequente profunda crise económica. Estes exemplos, se partilhados entre todos nós serão, certamente, fontes de inspiração criteriosa para nos ajudarem a navegar de forma mais segura pelas águas revoltas desta tempestade turbulenta e inesperada. Para a UNIAPAC, esta é uma oportunidade para demonstrar solidariedade para com os outros, em particular para os que estão mais necessitados, mais vulneráveis e mais fracos. Uma oportunidade de sairmos desta situação em conjunto.

Finalmente, desejo-vos saúde e consolo. Tomem conta das vossas famílias, dos vossos colegas de trabalho e daqueles com quem se importam, tomando conta primeiro de cada um de vós. E que Deus vos abençoe a todos.

Presidente da UNIAPAC Internacional