As empresas responsáveis estarão focadas na geração de valor para si próprias e para a sociedade, capazes de responder às necessidades dos seus stakeholders, integrando a sustentabilidade nas suas estratégias de negócio. A transformação dos negócios não é mais um conceito moderno, mas uma obrigação económica e moral
POR LUÍS ROBERTO
Segundo a previsão do FMI, a economia portuguesa vai cair 8%, com uma taxa de desemprego a subir para mais do dobro. A confirmarem-se todas as previsões, o PIB registará a maior quebra desde 1928. São números que apontam para um impacto da COVID-19 pior do que o registado com a pandemia da pneumónica e a Primeira Guerra Mundial em 1918.
Mas não são apenas as estimativas que nos devem preocupar. A situação atual e real que as empresas, organizações e a comunidade em geral enfrentam neste momento são motivo para agirmos. No mês de maio, mais de um milhão de trabalhadores estavam em lay-off, os novos desempregados atingiram em março uma taxa superior a 30% quando comparado com o período homólogo, o Banco Alimentar recebeu desde o início da crise pandémica mais de 60.000 pedidos de ajuda, 28% dos alunos do ensino básico não têm computadores e, segundo o INE e o Banco de Portugal, 77% das empresas continuaram a reportar um impacto negativo no seu volume de negócios, apesar de uma ligeira estabilização ou variação positiva, resultante das últimas alterações das medidas de contenção.
A paragem parcial ou total das empresas, imposta pelo estado de emergência e de calamidade, levanta-nos uma questão. Estarão ou não as empresas preparadas para o Day After?
Inevitavelmente, as empresas vão ter a necessidade de redefinir o seu plano estratégico, adaptado à nova realidade e ao futuro novo. E porque as empresas são feitas por pessoas, terão de ser criadas as condições para que as equipas possam continuar a produzir. Gerir as alterações comportamentais por forma a garantir a implementação dos novos modelos de negócio exige que as empresas sejam imaginativas e tecnologicamente evoluídas, mas responsáveis. E ser responsável significa também marcar a diferença.
Foi notória a preocupação dos líderes e gestores para com a proteção dos seus colaboradores desde o início da pandemia, tendo adotado boas práticas de responsabilidade social interna.
Este continuará a ser o papel das empresas responsáveis na resposta aos seus desafios internos, através da adoção de práticas que envolvam os seus colaboradores. O nível de compromisso com as equipas vai ser determinante para a sustentabilidade das empresas.
As empresas responsáveis marcarão a diferença pelo reforço dos seus códigos de ética e de conduta, bem como na formalização de regras de gestão internas, claras e transparentes, aplicadas ao recrutamento, ao desenvolvimento e formação, ao equilíbrio vida profissional-familiar, saúde e segurança, diversidade e inclusão, no futuro do trabalho, e last but not least, no reconhecimento, por vezes esquecido.
No plano externo, as empresas irão deparar-se com uma nova realidade. A crise de confiança dos seus consumidores. Segundo o INE, desde o período da troika que o índice de confiança dos consumidores não registava um recuo tão grande, com uma forte redução da atividade económica, extensível a todos os países da zona euro. Paralelamente, as pressões sobre as empresas acentuam-se em virtude das crises cíclicas que têm abalado o mundo empresarial, com destaque para a fiscalidade, a corrupção e a precariedade laboral.
A crise pandémica veio também testar a solidariedade das empresas e a sua disponibilidade para apoiar os mais vulneráveis, nas mais diversas formas. Do local ao global, a solidariedade colocou a todas as empresas o dever de colaborar de forma construtiva, ativa e contínua. É a capacidade de partilha e de colaboração ativa entre empresas, independentemente dos setores ou dimensão, que as torna diferentes e as prepara para o Day After.
As empresas responsáveis estarão focadas na geração de valor para si próprias e para a sociedade, capazes de responder às necessidades dos seus stakeholders, integrando a sustentabilidade nas suas estratégias de negócio. A transformação dos negócios não é mais um conceito moderno, mas uma obrigação económica e moral.
No Day After, as empresas estarão fortemente envolvidas na resposta aos desafios sociais, ambientais e económicos, alinhados com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, e do European Green Deal.
Em 2024, é esperado que 35% das empresas na Europa estejam a implementar os seus projetos com impacto nos setores onde operam. Deseja-se que as lideranças sejam capazes de desenvolver parcerias que contribuam fortemente para o cumprimento das metas 2030, e se empenhem no apoio às mudanças sistémicas para alcançar uma Europa Sustentável.
A procura da eficiência energética, a gestão dos recursos naturais e financeiros, a digitalização com o objetivo de aproximar as pessoas e ligá-las à tecnologia, e o desenvolvimento da economia circular estarão na ambição das novas lideranças.
A COVID-19 ensinou-nos que, a menos que cooperemos, não poderemos avançar em direção a um negócio mais sustentável, contribuindo para a comunidade, protegendo os mais vulneráveis.
O GRACE, enquanto a maior associação portuguesa de empresas responsáveis, continuará a refletir e a promover as ações junto do poder político e dos seus parceiros sociais, que contribuam para o desenvolvimento do futuro novo. Estamos convictos de que as empresas capazes de agir como Responsáveis no Day After, integrando todas as dimensões da Responsabilidade e Sustentabilidade Corporativa nas suas estratégias, serão as empresas líderes em Portugal e no mundo.
Head of Business & Science Network – Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa
Rede do Empresário