Talvez para muitos, este seja o primeiro ano em que verdadeiramente se vive um tempo de Advento integral. Quero dizer, viver o sentido e o sentimento de “preparar” e de “esperar” – nas várias dimensões da nossa vida e sem separar o profissional do pessoal – o Natal
POR SOFIA SALGADO
Vivemos um tempo em que tanto mudou e muito foi posto em causa. Nas empresas e organizações, modificaram-se os tempos de permanência nas instalações, alterando-se de seguida as formas de trabalho das equipas e de cada um. Mudaram os formatos de consumo, diminuiram as vendas, perderam-se clientes e fornecedores, descobriram-se novos clientes e fornecedores, surgiram talentos, enfim, nada ficou igual. Estas alterações tiveram também um grande impacto nas famílias. Na sua forma de viver a casa, na forma de partilhar os seus espaços, nos tempos mais convividos e partilhados, mas também nas diferentes necessidades físicas e ou emocionais, sentidas por cada um e/ou partilhadas por todos. Mudou certamente a forma como vemos os nossos vizinhos, amigos e a comunidade onde vivemos. Cada um de nós, foi e é chamado a um estar diferente, na família, no trabalho e na comunidade e, certamente, levado a questionar-se e a conhecer-se melhor a si próprio.
Sabemos que o futuro será diferente. Mas quão diferente? O que esperar? Como nos devemos preparar? E estamos nós no Advento!
Esta pandemia colocou-nos num verdadeiro tempo de advento. O Advento do Natal coincide com este advento de um tempo pós-pandémico. Se acreditamos no Espírito Santo, acreditamos que não é coincidência, mas que estamos chamados a fazer, com Jesus, este caminho de preparação para o que vem a seguir.
Se é a preparação para o Natal que nos pode inspirar e ajudar a preparar o caminho que temos de fazer nas empresas, comunidade, família e connosco próprios, ou se pelo contrário, é este caminho que já estamos a fazer que nos faz viver melhor a preparação para o Natal, dependerá de cada um. Acredito que se procuramos fazer o caminho de construção do Reino de Deus e de acolhermos o Espírito Santo que renasce em cada um de nós, então este é o tempo. Um tempo de preparação que nos é dado para a Vinda e para a Chegada. Um tempo de nos concentrarmos na nossa preparação pessoal, para que Jesus possa nascer mais na nossa vida. Só se Jesus nascer mais na nossa vida, o veremos ou deixaremos nascer mais nas nossas empresas, nas nossas famílias e na nossa comunidade.
Contrariamente a outros períodos de dificuldade e/ou crise que alguns de nós já viveram, não vejo, desta vez, ninguém resignado ou sem esperança. Podemos ter mais ou menos informação e ter uma perspetiva temporal mais ou menos longa de nova mudança. Mas todos em geral, falamos e acreditamos que este não é um tempo “normal” a continuar, mas que um “novo tempo”, novas formas de trabalho e de vida virão mais à frente. Apesar das perdas e dificuldades, olhamos com esperança para os próximos tempos e, nas diferentes dimensões da vida, preparamos esse tempo.
E o que podemos preparar nas empresas e organizações?
Para mim parece-me evidente que o foco deve ser nas pessoas. Nas pessoas que servimos, os clientes da empresa, nas pessoas com quem servimos, os trabalhadores, nas pessoas que colaboram na nossa atividade, os fornecedores e outros parceiros, nas pessoas com quem nos cruzamos, a comunidade em que estamos inseridos. Devemos focar-nos nas necessidades a que a empresa ou organização deverá dar resposta. Necessidades que são diversas, porque temos grupos distintos de pessoas, mas também porque tanto mudou. Mas também mudou o que sabemos ou podemos saber das pessoas. Também descobrimos novas capacidade e talentos. Também podemos considerar outros parceiros e ou fornecedores. A forma como vemos os espaços – quem os utiliza e como os utiliza – terá também de ser diferente. Por exemplo, se um colaborador trabalha em casa deveremos assegurar que dispõe do espaço e conforto adequados para tal. A atenção mantém-se centrada na pessoa e na sua necessidade. Se, pelo contrário, vemos o trabalho remoto como um meio para poupar recursos, e que o espaço passa a ser responsabilidade e custo do colaborador, então temo que o resultado não será o melhor.
Ao pensarmos nas pessoas e na forma de servir as suas necessidades, iremos certamente pensar nas formas de trabalho, nos processos, nas estruturas e nos procedimentos. Vamos equacionar novas formas de motivar, de liderar e até de tomar decisões. Precisamos avaliar o que resultou bem neste tempo de emergência e transição e decidir o que tem de ser diferente ou melhor.
O tempo de preparação para a pós-pandemia pode e deve ser integrado, e assim iluminado, pelo Advento do Natal em 2020, na certeza de que Jesus está connosco, que vem e que virá. Pelo que este tempo não podia ser mais entusiasmante! Vivemos um tempo de excelência para a preparação. Para iniciar caminho. Um tempo de alegria, de expectativa, de atenção ao outro, “o meu próximo”, e de promoção da fraternidade. Que bom tempo então para pensar na mudança que a empresa precisa! Já sabemos o que mudou, apesar de desconhecermos o que pode ser o futuro. Conhecemos agora melhor algumas dimensões, mas escapa-se-nos todo o seu potencial.
É tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Menino Jesus.
Desejo um bom tempo de Advento para todos, para que o Natal e o tempo que se lhe segue possa ser verdadeiramente mais Santo!
Professora auxiliar na Católica Porto Business School, na área de gestão de serviços e operações