Para muitos vivemos já tempos de uma “nova guerra”, económico-financeira de “modernidade especulativa”, iniciada com a vaga da globalização, para a qual os políticos europeus não fizeram e continuam a não fazer tudo o que deviam! Com todo o mal que vem aportando às sociedades mais desenvolvidas, como é o caso da nossa Europa, por cá vivemos no mundo de uma equidade política a roçar o latrocínio industrial, num gritante desprezo pelos valores humanos e éticos. Com um destino resumido a mais austeridade e mais pobreza? É tempo de sermos inteligentes, começando por fazer o balanço da nossa participação comunitária e o seguidismo das políticas orientadas por Bruxelas, nomeadamente pela troca em incentivos voláteis de curto prazo (dinheiro/cheques), por estruturas produtivas, de longo prazo (físicas), como as nossas Indústrias. Na realidade os “centros do saber político” em Bruxelas iniciaram o ciclo de reformas europeias pela aposta na sociedade do conhecimento, nas altas tecnologias e pelos serviços, numa claríssima orientação para a deslocalização daquilo a que chamaram de manufacturas tradicionais (vulgo Indústria). Numa segunda fase “descobriram” que os serviços eram importantes, mas para absorver o saber e as tecnologias seria necessário a capacidade de aplicação Industrial, cujo tecido europeu cada vez mais é e será de base PME, já que as ditas “manufacturas tradicionais” de dimensão, únicas ou consolidadas, já estavam a gerir em zonas de mão-de-obra barata. A palavra Indústria passou a ser conotada como de suja, poluente, old fashion, para as decisões políticas europeias, ofuscadas pela onda verde ambiental, até ao próprio ensino (pró-serviços) e pela simples supressão de Ministérios da Indústria. Como sempre Portugal como seguidor e “bom aluno”, pela via do mais fácil. É evidente que nem todos os países são seguidistas e a favor de facilitismos financeiros, sendo mais uma vez a Alemanha a dar os bons exemplos, de como a estrutura industrial é a base de uma relação económica e social saudável, ou outro bom exemplo, como o da Suíça, onde também aqui se investe em todos os sectores, do primário ao terciário, resultando numa grande solidez doméstica. É tempo dos políticos portugueses pararem para pensar, ouvirem quem sabe e apostarem num projecto de re-Iindustrialização em Portugal, pró-emprego, pró-estabilidade e de futuro. Tenhamos coragem de dizer que foi um erro, ou mesmo um crime, o trocar as tecnologias agro-industriais e de pescas por dinheiro e acabemos com a falsidade de intitular a indústria como o sector dos “bens transaccionáveis” (denominação de nouvelle vague política para as ditas “manufacturas tradicionais”). As indústrias modernas são tecnológicas e ambientais. Falar em indústria é dar vida à própria indústria! Homens da política, parem para pensar e meditem sobre a crise portuguesa onde o único sector positivo actual se chama exportação. Exactamente essa exportação, em grande parte apoiada nas PME´s e nas ditas “manufacturas tradicionais” (resultado prático do estudo encomendado em tempos a Michael Porter, pela aposta do empresário privado português em termos individuais ou em rede, como são hoje os exemplos de excelência de vários clusters, seja pelos têxteis, calçado, cerâmica, automóvel, plásticos, vidro, gráfica, embalagem, electrónica, metalomecânica ou cortiça), que de forma notável conseguiu, apoiando-se nos centros de conhecimento (Universidades do Minho e Aveiro, FEUP, UCP, Citeve, Centi, Piep, Centimfe, etc.) criar mais-valias através de inovação diferenciada, levando as nossas mercadorias pelo mundo fora. Ao contrário do que por vezes se propala, erradamente pondo o empresário português como parte do problema, as novas gerações de industriais e seus modernos fluxogramas são a prova provada do êxito que as exportações vêem confirmando.
Com a globalização estamos perante novos desafios e novos problemas, como sejam as estruturas empresariais de mega dimensão, verdadeiros monopólios consolidados, com orçamentos superiores aos de muitos países e onde o tema da regulação já não terá acolhimento a um nível europeu, mas em termos de uma nova exigência direccionada a uma regulação global. Estamos perante novos e perigosos poderes financeiros globais, sem rosto, e sem visionarmos quaisquer alertas dos mandantes europeus. Mas como em tudo, há novas oportunidades a explorar. Perante a avalanche do volume e do barato, os mercados, cada vez mais, pedem pequenas encomendas de respostas rápidas, sendo que em Portugal a sua indústria sempre soube bem tratar exactamente estas novas exigências dos mercados. O que seria de Portugal hoje, se ao lado da aposta nos serviços (importante) existisse uma visão estratégica pró-indústria? Seguramente os problemas da dívida e do emprego estariam minimizados. Vamos sempre a tempo, mas deve haver uma nova lógica de desenvolvimento ético e humano, com muita humildade e muita verdade, para levar a cabo o que os diversos estudos elaborados seguramente mostram, à saciedade: que a deslocalização da indústria europeia foi feita de forma ligeira, sem discussão, até promovida, resultando que, pela sua falta, desenvolvemos hoje na Europa altas tecnologias, como é exemplo a energia fotovoltaica, cuja produção industrial está em força localizada na Ásia. O maior cego é aquele que não quer ver! Ou será que só vê de forma interessada? Investir na indústria como solidez estrutural e de conhecimento, fazer uma aposta primária no doméstico, pela compra do que é português (a começar pelas entidades públicas), pró-emprego, pró-inovação, pró-segurança e pró-economia social, substituindo importações, com o apoio de linhas de crédito para quem merece – numa visão de Eestabilidade e de futuro, pela indústria moderna, limpa, amiga do ambiente, contributiva para a pegada do carbono, dirigida por quadros qualificados, e com objectivos exportadores. |
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ACEGE - Núcleo do Porto