Em Portugal, gostamos de dizer (ou pensar) que somos uma sociedade inclusiva para pessoas com deficiência, mas infelizmente ainda não somos. Aliás, temos um longo caminho pela frente e muito trabalho para fazer até alcançar esse patamar. Seremos uma sociedade inclusiva quando qualquer pessoa com deficiência sentir que não existem barreiras à sua realização pessoal e profissional, e que tem acesso às mesmas oportunidades independentemente da sua condição
POR JOSÉ PAIS LOPES
No passado dia 3 de dezembro celebrou-se mais um Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, uma data comemorativa promovida pela Organização das Nações Unidas desde 1992.
A celebração deste dia tem como objetivo sensibilizar a sociedade em geral para as questões relacionadas com a deficiência, bem como mobilizar as pessoas, as instituições e o Estado para a promoção da dignidade, direitos e bem-estar das pessoas com deficiência.
É importante celebrar este dia, mas não podemos ficar apenas pelas palavras e no plano das intenções. É necessário (e muito importante) passar das palavras à ação.
Estamos em 2022 e, apesar de toda a evolução tecnológica e de mentalidades, bem como a existência de um quadro legal de proteção à pessoa com deficiência relativamente robusto, continuamos a ter muita dificuldade em passar das palavras aos atos.
Em Portugal, gostamos de dizer (ou pensar) que somos uma sociedade inclusiva para pessoas com deficiência, mas infelizmente ainda não somos. Aliás, temos um longo caminho pela frente e muito trabalho para fazer até alcançar esse patamar. Seremos uma sociedade inclusiva quando qualquer pessoa com deficiência sentir que não existem barreiras à sua realização pessoal e profissional, e que tem acesso às mesmas oportunidades independentemente da sua condição.
Basta estar um pouco atento, olhar em redor e verificar as dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam. Vejamos, por exemplo, uma pessoa com mobilidade reduzida. Tente sair de casa numa cadeira de rodas e veja até onde consegue chegar. Possivelmente, não consegue sequer entrar no café da sua rua ou do seu bairro sem ajuda de terceiros. Muito provavelmente vai encontrar várias pessoas prontas para o ou a ajudar a entrar no café, mas a questão não é essa. Uma pessoa com deficiência quer simplesmente ter autonomia para executar essa atividade quando e onde quiser sem depender da boa vontade de terceiros. Está no seu direito. E este é apenas um exemplo simples e fácil de verificar e entender.
E o que é uma empresa inclusiva? Em termos conceptuais não difere muito de uma sociedade inclusiva, difere apenas no âmbito de atuação. Mas é possivelmente uma das dimensões mais valorizadas pelas pessoas com deficiência porque lhes permite conquistar também a sua autonomia financeira e tudo o que lhe está associado.
O Banco Santander Totta iniciou esta jornada há 12 anos com a contratação de um jovem de 18 anos com Trissomia 21. Hoje, ele tem 30 anos e continua connosco. Faz parte da equipa de Gestão de Pessoas, onde assegura um conjunto de tarefas administrativas. A simpatia, educação e alegria com que nos brinda todos os dias não tem preço.
Hoje ninguém estranha a sua presença no Banco e, felizmente, passou a ser normal cruzarmo-nos, trabalhar e conviver com colegas com algum tipo de deficiência. Mas nem sempre foi assim. Eu próprio, apesar de ser pai de um jovem com Paralisia Cerebral, que hoje tem 24 anos, recordo-me que, na altura, não percebi muito bem o alcance daquela ação do Banco. Há 12 anos, eu, que convivia diariamente com uma pessoa com deficiência – o meu filho –, estranhei a presença no Banco daquele jovem com Trissomia 21. Imagino a estranheza ainda maior daqueles que não conviviam com essa realidade no seu dia-a-dia.
Estamos em Dezembro de 2022 e, passados 12 anos após a contratação daquele jovem com Trissomia 21, o Banco Santander Totta conta já nos seus quadros com 13 colaboradores com necessidades específicas, na sua maioria contratados nos últimos 5 anos. E, para chegarmos aqui, há dois nomes incontornáveis. O Pedro Castro e Almeida, o nosso CEO, máximo promotor e patrocinador desta política de inclusão de pessoas com deficiência no Banco. E, o Fernando Vieira, uma pessoa com mais de 30 anos de experiência na área de Recursos Humanos e que abraçou incondicionalmente este desafio desde o seu início. Para eles, o nosso muito obrigado!
Nesta caminhada, contámos também com o apoio e colaboração de várias entidades externas, seja na identificação de candidatos para as vagas em aberto no Banco (Associação Salvador, Valor T e empresas de recrutamento) seja para formarem e ajudarem os managers e as equipas no acolhimento de colaboradores com necessidades específicas, de onde destacamos o Inclusive Community Forum (ICF) – uma iniciativa da Nova School of Business & Economics (Nova SBE) dedicada à vida das pessoas com deficiência e que conta com a participação de empresas, organizações sociais, pessoas com deficiência, instituições de ensino e alunos.
Recentemente, como forma de identificarmos o que poderíamos fazer melhor, pedimos aos colaboradores com necessidades específicas (e respetivos managers e/ou tutores) para nos falarem um pouco sobre o que é que tinha corrido bem (e menos bem) no seu acolhimento no Banco, as dificuldades com que ainda se deparavam no seu dia-a-dia e o que é que eles mais valorizavam no Santander.
As respostas foram esclarecedoras. Além de alguns detalhes ao nível das acessibilidades, que vamos melhorar, os pontos que sobressaíram foram: o excelente acolhimento que tiveram por parte dos managers e respetivas equipas, e a importância que dão ao facto do Santander não lhes ter oferecido mais um estágio, a somar a muitos outros que já tinham feito, mas de terem a oportunidade de mostrarem o que valem, independentemente da sua condição.
Terem um contrato de trabalho sem termo e saberem que daqui a uns meses não vão ter que se preocupar em procurar novamente outra empresa para fazer mais um estágio, permite-lhes olhar para o futuro de outra forma. Além de sentirem que o seu trabalho é valorizado, podem começar a planear a sua vida e definir novos objetivos, tanto a nível pessoal como profissional.
Outro facto interessante foi verificar que os colaboradores com dois ou mais anos de Banco já revelam outro tipo de preocupações, focando-se nas oportunidades de carreira e de mobilidade dentro do Banco, demonstrando assim que se sentem perfeitamente integrados na organização e que estão disponíveis para se desenvolverem como profissionais, bem como dispostos a abraçar novos desafios.
Por tudo isto, todos quantos estamos envolvidos mais diretamente neste processo, sentimos um enorme orgulho pelo trabalho realizado até ao momento, mas temos a perfeita noção que ainda estamos no início. Se equipararmos esta jornada a uma maratona, é fácil perceber que ainda temos um longo caminho pela frente. Estamos a aprender todos os dias e queremos fazer mais e melhor.
José A. Pais Lopes
Gestão de Pessoas | Talento e Desenvolvimento no Banco Santander