De acordo com um estudo recente publicado pela PwC, os CEOs estão menos preocupados com as alterações climáticas, ao mesmo tempo que são menos eficazes a enfrentar os seus riscos e oportunidades, do que os investidores gostariam. E o mesmo acontece com a eficácia da acção climática. Se para os investidores esta é uma prioridade, o mesmo não se pode dizer da maioria dos CEOs, sendo poucos os que registaram algum progresso nesta matéria. O facto talvez possa ser explicado por problemas mais complexos que surgiram entretanto, como o aumento da inflação ou a volatilidade macroeconómica, mas é urgente que as empresas percebam as implicações financeiras dos eventos climáticos extremos e da transição energética nos seus negócios
POR HELENA OLIVEIRA
São já mais de 2500 empresas que se comprometeram, com base científica, a estabelecer objectivos de redução de emissões nos últimos anos. Adicionalmente, cerca de 59 biliões de dólares foram já investidos por gestores de activos em emissões líquidas-zero. Todavia, e de acordo com um estudo recente desenvolvido pela PricewaterhouseCoopers (PwC), os investidores estão muito mais preocupados sobre os possíveis impactos financeiros das alterações climáticas nos seus negócios do que os CEOs. É também menos provável que os CEOs reportem se as suas empresas estão a tomar acções para mitigar as alterações climáticas, como por exemplo a criação de produtos e serviços “amigos” do clima, os quais são considerados pelos investidores como altamente eficazes. Estas conclusões sugerem que os CEOs podem colher benefícios se conjugarem a estratégia climática da sua empresa com as prioridades que mais preocupam os investidores – rentabilidade e inovação – e apostarem na acção climática em termos de criação de valor.
Como se pode ler no estudo da PwC, os efeitos das alterações climáticas podem afectar a capacidade das empresas em termos de criação de valor mediante duas formas.
Em primeiro lugar, os riscos climáticos físicos, tais como o aumento da temperatura e os fenómenos climáticos extremos, podem perturbar as operações comerciais. Em segundo lugar e através dos chamados riscos de transição – tendo em conta os factores que podem surgir durante a mudança para uma economia de baixo carbono -, de que são exemplo as novas regulamentações ambientais e a influência de clientes e investidores com preocupações climáticas, as quais podem enfraquecer os modelos de negócios das empresas.
Para perceber se os CEOs e os investidores partilham da mesma preocupação no que respeita às consequências financeiras destas forças complexas, a PwC inquiriu os primeiros sobre quão expostas as suas empresas poderão estar a perdas financeiras relacionadas tanto com os efeitos físicos como com os riscos de transição acima mencionados ao longo dos próximos 12 meses e num período de cinco anos. De seguida, os responsáveis pelo estudo perguntaram igualmente até que ponto os custos de transição para novas fontes de energia poderão afectar a rentabilidade na sua indústria ao longo dos próximos 10 anos. Aos investidores foram feitas as mesmas perguntas no que respeita às empresas em que investem ou que analisam para futuros investimentos.
Nos três horizontes temporais considerados, os investidores antecipam que as alterações climáticas e a transição energética terão efeitos mais fortes na performance financeira das empresas do que os CEOs. No que diz respeito à ameaça climática nos próximos 12 meses, os investidores foram 1,6 vezes mais propensos a indicar um nível de exposição a perdas financeiras mais elevado do que os CEOs, sendo que para os próximos cinco anos a probabilidade de os investidores indicarem esse mesmo nível foi quase o dobro comparativamente aos líderes empresariais consultados. Quanto aos próximos cinco anos de ameaça climática, os investidores manifestaram quase o dobro da probabilidade de indicarem um nível de exposição mais elevado comparativamente aos líderes empresariais auscultados. O mesmo aconteceu no horizonte temporal a dez anos no que respeita aos custos da transição energética na rentabilidade das empresas, com os investidores a demonstrarem mais 1,4 vezes de probabilidades de indicar que a extensão do efeito será maior comparativamente aos CEOs. Estes resultados indicam que estes últimos vêem as alterações climáticas como algo menos urgente do que os investidores.
E o mesmo acontece com a eficácia da acção climática. Se para os investidores esta é uma prioridade dos negócios, o mesmo não se pode dizer da maioria dos CEOs, sendo poucos os que registaram algum progresso nesta matéria.
No inquérito feito aos investidores, 44% dos auscultados concordaram que as empresas deveriam fazer da redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) relacionados com as suas operações e cadeias de abastecimento uma das suas cinco principais prioridades. No geral, a redução de gases com efeito de estufa ficou em quinto lugar na lista de prioridades dos investidores profissionais, atrás da inovação (em primeiro lugar, com 83%) e da performance financeira (em segundo lugar, com 69%).
Adicionalmente, uma sólida maioria de investidores afirmou que a acção imediata será muito mais eficaz no que diz respeito à mitigação dos riscos climáticos. E entre as várias acções que as empresas podem adoptar, a implementação de iniciativas que reduzam as emissões foi indicada por 75% dos investidores inquiridos versus 27% dos CEOs, a par da inovação em produtos e processos (73% vs 26%) e do desenvolvimento de uma estratégia climática a nível empresarial e orientada para os dados (69% vs 23%).
E como se explica esta enorme discrepância?
De acordo com a consultora, é possível que estas disparidades encontradas em 2022 entre investidores e CEOs reflictam a urgência relativa de outras ameaças, como o aumento da inflação e a volatilidade macroeconómica. Em 2021, um terço dos CEOs inquiridos pela PwC afirmou estar “muito” ou “extremamente” preocupado com as alterações climáticas enquanto ameaça global, a qual poderia afectar negativamente as suas empresas nos 12 meses seguintes, muito mais do que os 14% de líderes empresariais que afirmaram a mesma coisa no inquérito de 2022.
Apesar de as percentagens de CEOs e investidores que afirmaram que as alterações climáticas constituem uma ameaça para as suas empresas nos próximos cinco anos serem menores, os inquiridos de ambos os grupos parecem acreditar que a transição energética poderá ter efeitos significativos na sua rentabilidade a longo prazo. Mais de um terço (37%) dos CEOs inquiridos afirmou que a transição para novas fontes de energia afectará a rentabilidade na sua indústria em “grande” ou “muito grande” medida nos próximos dez anos, em comparação com 14% que vêem a mudança climática como um risco durante o ano seguinte. Os investidores concordam: 50% dos inquiridos afirmaram que a transição energética terá um impacto “grande” ou “muito grande” na rentabilidade da empresa durante a próxima década. Em suma, os líderes empresariais que defendem a acção climática fariam bem em fundamentar a sua lógica nas implicações financeiras tanto dos riscos como das oportunidades climáticas, com os resultados da análise realizada ela PwC a apontar para diversas acções que as equipas de executivos poderiam considerar abordar de forma diferente.
Para os CEOs, afirmar que os programas climáticos estão centrados na criação de valor é apenas um ponto de partida. Os investidores também esperam que os executivos mostrem resultados financeiros positivos ao longo do tempo. De facto, quatro em cada cinco investidores (81%) afirmaram que não aceitariam mais do que uma redução de um ponto percentual no retorno global das empresas em que investem e que tomam medidas de sustentabilidade relevantes para os seus negócios.
Muitos dos investidores que responderam ao inquérito declararam igualmente que querem ver as empresas a revelar o efeito dos riscos e oportunidades de sustentabilidade nas suas demonstrações financeiras (70%), a relevância dos factores de sustentabilidade para o seu modelo empresarial (69%), e o impacto externo da empresa no ambiente ou na sociedade (60%). Para satisfazer estas rigorosas expectativas, os CEOs terão de exercer uma enorme disciplina na gestão e reporte do impacto financeiro dos seus programas climáticos.
A verdade é que são poucos os investidores que têm confiança nos relatórios de sustentabilidade e nas informações que são divulgadas pelas empresas. Menos de 40% dos investidores afirmaram confiar nos dados divulgados sobre a redução das emissões e apenas 61% afirmaram que usam os relatórios de sustentabilidade de uma forma “moderada”, “ampla ou “muito ampla” quando avaliam a forma como as empresas gerem os riscos e as oportunidades. Uma percentagem muito maior (89%) afirma confiar nas demonstrações financeiras e no diálogo com a empresa (81%) e mesmo em fontes de dados de terceiros (79%).
O mais preocupante de tudo isto assenta no facto de 87% dos investidores afirmarem acreditar que os relatórios de sustentabilidade contêm pelo menos algum tipo de greenwashing , sendo que a divulgação de mais informação com que os investidores se preocupam verdadeiramente poderia contribuir de alguma forma para melhorar a relevância deste tipo de reporte: 75% dos investidores afirmaram que um parecer de garantia razoável independente (com o mesmo nível de rigor das demonstrações financeiras) lhes daria um nível de confiança moderado ou superior na avaliação dos relatórios de sustentabilidade.
Em suma e como previamente enunciado, os investidores estão mais preocupados com as implicações das alterações climáticas nas empresas do que os CEOs. E estas preocupações deveriam levar os líderes empresariais não só a agir sobre o clima, mas também a apresentar uma justificação credível para as suas decisões. Ao ligar a acção climática à criação de valor, os CEOs podem proporcionar a liderança que os mercados de capitais estão a procurar.
Editora Executiva