“Comunicação” e “Parcerias” foram as palavras mais proferidas na Conferência “Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa 2023”, promovida e realizada pela Business & Science Network e a Rede do Empresário, a que se juntaram cerca de 200 pessoas, em torno do tema central “Vamos acelerar a sustentabilidade” e marcado por um debate entre representantes das empresas, academia, ONG e Governo
POR LUÍS ROBERTO
Estamos a menos de sete anos do cumprimento das metas globais e o atraso no progresso da sustentabilidade faz-se notar.
Desde 2019 que se constata existir uma estagnação no progresso da sustentabilidade a nível mundial, em consequência da crise pandémica e da guerra da Ucrânia, pelo que é urgente refletirmos sobre o caminho a seguir, e ajustar a velocidade com o caminho que percorremos.
Em 2022 Portugal ocupou a 20ª posição no SDG Index Ranking existindo, de uma forma geral, o reconhecimento público das iniciativas desenvolvidas localmente sobre os diferentes pilares da sustentabilidade. Contudo é importante não baixar os braços e procurar estarmos focados no “move to action”.
Um passo importante para atingirmos as metas globais para a sustentabilidade é promover as parcerias e, com elas, desenvolver novas formas de inovação capazes de suportar práticas de sustentabilidade.
Não é por acaso que Agenda 2030 lançada pelas Nações Unidas contempla no seu ODS17, as parcerias para a implementação dos objetivos.
Como meta, ao nível local, pretende-se incentivar e promover as parcerias públicas, público-privadas e com a sociedade civil que sejam eficazes e capazes de gerar impacto. À escala global, o apelo ao reforço das parcerias multi-setoriais no apoio à realização dos objetivos do desenvolvimento sustentável em todos os países, particularmente nos países em desenvolvimento, é o grande desafio.
Aos países desenvolvidos, é-lhes pedido para canalizarem 0,7% do rendimento nacional bruto para apoio aos países em desenvolvimento, e alocar 0,15% a 0,20% desse valor para os países menos desenvolvidos.
No plano tecnológico, as parcerias para o desenvolvimento sustentável apostam em melhorar a cooperação Norte-Sul, Sul-Sul e o acesso à ciência, tecnologia e inovação, através da partilha do conhecimento e da capacitação.
Como tenho afirmado por diversas vezes, a sustentabilidade só será alcançada com sucesso se tivermos a capacidade e a disponibilidade para trabalharmos em conjunto.
O estabelecimento do diálogo e a colaboração entre os diferentes setores da economia – público, privado e a economia social –, o envolvimento do Estado no desenvolvimento de programas de apoio às empresas, a partilha do conhecimento e do saber académico, e a exploração de novos modelos e abordagens em resultado da experiência vivida pelos diferentes atores, são fundamentais ao avanço da sustentabilidade.
Até 2024, é desejável que os sectores da indústria na Europa possuam uma visão de sustentabilidade do sector, um plano de ação, e objetivos a atingir capazes de serem medidos e comunicados.
A sustentabilidade, a par das novas diretivas e normas como os Critérios ESG, a Taxonomia e os Relatórios de Sustentabilidade Corporativa, visando a transparência da sustentabilidade no mundo empresarial são, em si mesma, um desafio a todas as empresas, independentemente da sua dimensão ou do sector onde operam, pelo que a integração de uma estratégia de sustentabilidade na sua forma de fazer negócio, não pode ser mais adiada.
A nova legislação, que avança a passos largos, vem obrigar as empresas a serem mais transparentes na forma como abordam a sustentabilidade, tornando-se em indicadores vitais para a solidez da sua reputação e para o sucesso do negócio a médio e a longo prazo.
Na luta por um mundo mais sustentável, alicerçado nos pilares dos melhores impactos sociais, da proteção do ambiente e da responsabilidade corporativa, todos os atores são imprescindíveis, e é absolutamente vital que todos possuam a capacidade para interagir e comunicar com transparência.
No plano interno, a comunicação é essencial para a integração da estratégia de sustentabilidade no negócio.
Com integrá-la, o porquê de o fazermos, e quais as mudanças que daí decorrem, precisam ser comunicadas eficazmente a toda a organização.
A adoção de práticas de sustentabilidade, pressupõe a existência de uma cultura de sustentabilidade, e ela só é alcançada, quando todos os colaboradores interiorizam os seus princípios básicos, e assumem esse compromisso perante todos.
O nível de compromisso com as pessoas através da adoção de práticas de sustentabilidade ou de novos modelos de gestão sustentáveis, é determinante para a sustentabilidade das empresas e das organizações.
A partilha da informação sobre o desempenho social e ambiental, além do económico, é importante, na medida em que influencia a cadeia de valor, para o desenvolvimento de iniciativas que impulsionem o desenvolvimento sustentável.
Os meios de comunicação social têm também um papel fundamental na projeção e visibilidade sobre o que as empresas e as organizações estão a fazer para serem mais sustentáveis. Comunicar sustentabilidade implica apostar no que de melhor se faz na sociedade, nas notícias positivas e a deixar de lado quando “o homem mordeu no cão”.
Genericamente as empresas enfrentam o desafio da excelência da gestão, procurando o crescimento assente no diferencial competitivo, e o publico consumidor passou a estar mais atento com o propósito e o envolvimento dos seus fornecedores com a comunidade, passando este a ser um fator determinante na hora da escolha acertada.
Pensar sobre o caminho para a sustentabilidade, estar atento às mudanças geoestratégicas que ocorrem no mundo, e a compreender o impacto sobre as organizações, o negócio e as pessoas, é um desafio permanente da gestão.
A resposta à Covid-19 ensinou-nos que, a menos que cooperemos, não poderemos avançar em direção a qualquer que seja o objetivo traçado.
Este é o momento de estarmos coletivamente envolvidos na resposta aos desafios globais da sustentabilidade, onde o esforço e a coesão de todos, é absolutamente vital.
“Vamos acelerar a sustentabilidade” é o apelo a uma ambição renovada, ao diálogo e à cooperação entre os diferentes atores, rumo a uma Europa e a um Portugal mais sustentáveis.
“Comunicação” e “Parcerias” … sem dúvida!
Head of Business & Science Network – Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa
Rede do Empresário