A porta de uma casa de família diz a família que nela habita, a porta de uma empresa diz a missão da empresa, a porta de uma catedral, ou de qualquer igreja, diz o Mistério Pascal. Assim, na sua dimensão mais espiritual, vemos como é importante a porta de uma Igreja que nos desvela e permite a passagem (Páscoa) até uma comunidade cristã que tem o poder de nos acolher, de nos envolver e de nos encher de Esperança
POR Pe. JOSÉ PINHEIRO
Este ano a festa litúrgica do Natal de Jesus ficará marcada pelo início solene do Ano Santo, proclamado pelo Papa Francisco, com o tema Peregrinos da Esperança. Este momento, vai ser celebrado, como é tradição, pela abertura da Porta Santa, na Basílica de São Pedro, em Roma, no dia 24 de dezembro. Este gesto, presidido pelo sucessor de Pedro, aponta-nos para a razão da nossa Esperança, que é Jesus, a Misericórdia de Deus.
No seu sentido mais comum, a porta é o elemento físico que faz a transição entre o exterior e o interior de um determinado espaço físico, é um lugar de passagem, que de alguma forma, já revela a realidade que iremos descobrir se arriscarmos nela entrar.
«Na Roma antiga a porta (em latim janua) era personificada numa divindade com duas faces (a porta é para abrir e para fechar, que se chamava Janus). Era o deus “Porta”, o protetor das portas. Deste Janus, vem o nome do nosso primeiro mês do ano, Janeiro (em latim, Januarius), depois do solstício do Inverno, que era a “porta” entre um ano e o outro» [1] .
A porta de uma casa de família, diz a família que nela habita, a porta de uma empresa diz a missão da empresa, a porta de uma catedral, ou de qualquer igreja, diz o Mistério Pascal. Assim, na sua dimensão mais espiritual, vemos como é importante a porta de uma Igreja que nos desvela e permite a passagem (Páscoa) até a uma comunidade cristã que tem o poder de nos acolher, de nos envolver e de nos encher de Esperança.
Na Sagrada Escritura, Jesus identifica-se como a Porta: “Eu sou a porta: se alguém entrar por Mim, estará salvo” (Jo 10, 9). Sendo assim, quem passa pela Porta, torna-se Porta. Ao longo de todo o próximo ano, cada um de nós é chamado a passar por Jesus, a Porta Santa, a fazer esta experiência profunda de se unir a Jesus e de assumir a missão de ser porta de salvação para os homens e mulheres de hoje, como Jesus ordenou aos discípulos no dia da Ressurreição: “Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós” (Jo 20,20).
Como gestores e empresários, como líderes cristãos, recebemos esta missão, de sermos, para aqueles que connosco trabalham, as portas que levam a Jesus. Ser porta é tornar presente a comunidade cristã no nosso dia-a-dia de trabalho. Somos desafiados a uma nova atitude, na vivência da fé.
Na Bula da Proclamação do Ano Santo, o Papa Francisco convida-nos a tornarmo-nos peregrinos da esperança. Nas nossas empresas, tal como a luz, não precisamos de pedir autorização para iluminar com o nosso testemunho os que não acreditam, os que não querem saber de nada ou os que estão contra qualquer sinal religioso.
Nossa Senhora foi a primeira discípula de Jesus, a primeira a passar pela Porta, com o seu “sim” à vontade de Deus, a primeira a tornar-se a Porta Coeli (Porta do Céu). Que o exemplo de Maria nos inspire neste Natal a passar por Jesus e a sermos, para os outros, passagem para Jesus.
[1] (Alves, Herculano: 50 Símbolos na Bíblia. – Difusora Bíblica, 2017).
José Pinheiro
Assistente Nacional da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE); Pároco da Cova da Piedade, Almada, Diocese de Setúbal; Director Espiritual do Seminário Maior de São Paulo de Almada; Presidente da Comissão do Sínodo dos Bispos da Diocese de Setúbal (2021-2023).