POR MÁRIA POMBO
Com o objectivo de reforçar a sua política de sustentabilidade e de envolvimento com a comunidade, a REN – Redes Energéticas Nacionais criou, em 2014, o Prémio AGIR, que, anualmente, elege uma área de intervenção social na qual distingue três projectos de organizações sem fins lucrativos. A iniciativa pretende apoiar negócios que têm impacto nas famílias e na comunidade, e que dão resposta a problemas sociais concretos, valorizando a inovação de cada um.
A Bolsa de Valores Sociais (BVS) associou-se à REN, apoiando-a na selecção dos projectos vencedores e na avaliação do impacto social do montante doado, e monitorizando a utilização dos fundos doados. Esta plataforma que promove o investimento em Responsabilidade Social, através do financiamento de projectos da sociedade civil, cotando-os “em Bolsa”, apoia também a divulgação das candidaturas aprovadas, com o objectivo de captar potenciais investidores e recursos.
O estímulo à criação de emprego foi o tema da primeira edição do Prémio AGIR. Incentivar esta área é, para a REN, uma forma de impulsionar a economia nacional e criar riqueza, aumentando a qualidade de vida das populações. E, considerando a sua extrema importância no actual contexto socioeconómico, quer para os cidadãos “enquanto forma de rendimento e espaço de realização pessoal”, quer para a sociedade, dado ter um “papel estruturante e gerador de mudança”, apoiar a empregabilidade é uma questão estratégica para a empresa.
Privilegiando a intergeracionalidade, a 1ª edição do Prémio abriu candidaturas a todas as organizações portuguesas sem fins lucrativos e da sociedade civil que desenvolvem projectos com vista a promover a criação de emprego. Ao fim de seis etapas, que passaram pela candidatura, análise e enquadramento, visitas técnicas, aprovação, recepção de materiais adicionais, e divulgação dos projectos, foram escolhidos os três finalistas.
O Ouro, a Prata e o Bronze
Na edição de estreia, o grande vencedor foi o “GeriCuidar – Projecto de Formação Integrada para Mulheres Migrantes: Desenvolvimento de Competências em Geriatria”, criado e implementado pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), em Lisboa. São dois os grandes objectivos desta iniciativa: o primeiro é a integração, no mercado de trabalho, de mulheres migrantes; o segundo é o reforço dos cuidados prestados a idosos que vivem sozinhos.
Este projecto, que promove a inclusão social e profissional de 50 mulheres, tem a duração de 12 meses, sendo constituído por uma componente prática e uma componente teórica. A primeira é feita durante a manhã, no Centro Social Paroquial de São Domingos de Benfica, onde as formandas acompanham os técnicos sociais no apoio aos idosos. A segunda é feita durante a tarde, em ambiente de sala de aula. As disciplinas leccionadas pretendem preparar as formandas para qualquer tarefa que possam desempenhar, desde serviço doméstico, a culinária ou cuidados a idosos. Da formação fazem também parte técnicas de procura de emprego, técnicas psicoeducativas e de autoconhecimento, e desenvolvimento humano e espiritual.
[pull_quote_left]O projecto Gericuidar, do Serviço Jesuíta aos Refugiados, foi o vencedor da primeira edição[/pull_quote_left]
O JRS acredita que este projecto consegue fazer face à crescente procura de cuidadores de idosos, dando uma oportunidade real de inserção no mercado de trabalho e na sociedade a uma população altamente discriminada. O prémio, no valor de trinta mil euros, será usado para dar continuidade a esta iniciativa, tendo em conta o número crescente quer de mulheres que chegam à JRS a pedir ajuda, quer de idosos que vivem sozinhos.
Para Cláudia Santos, responsável pelo projecto, o facto de o JRS ter sido distinguido por esta iniciativa é fundamental para “conseguir dar resposta a necessidades de duas populações vulneráveis (migrantes e idosos), dando uma oportunidade de emprego a estas mulheres de uma forma inovadora e criativa.”
Ao projecto “As Maiatas”, da Santa Casa da Misericórdia de Maia, foi atribuído o segundo prémio, no montante quinze mil euros. As mulheres com mais de 40 anos e em situação de desemprego de longa duração são as grandes beneficiárias desta iniciativa, cujo objectivo é tornar-se uma cooperativa de solidariedade intergeracional que disponibiliza vários serviços, como lavandaria, serviço de costura, confecção de compotas e babysitting.
Através de um programa de formação em Geriatria, Intervenção e Empreendedorismo, certificado pelo IEFP, a Santa Casa da Misericórdia de Maia estima dar emprego a 20 mulheres, melhorando também a qualidade de vida dos 40 idosos em situação de vulnerabilidade, a quem prestará cuidados domiciliários.
As formandas serão acompanhadas por técnicos do Centro Comunitário Vermoim Sobreiro, em Maia, que lhes prestarão apoio social e promoverão actividades de capacitação interpessoal, com o objectivo de criar um grupo consolidado, que será a “empresa cooperativa”.
O terceiro prémio, de cinco mil euros, foi atribuído ao projecto “Ferreira Empreende”, promovido pela Esdime – Agência para o Desenvolvimento Local do Alentejo Sudoeste em parceria com a Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo. O principal objectivo desta iniciativa é apoiar a fixação de jovens empreendedores no interior de Portugal, fazendo face à desertificação dessa zona do País.
Através de um modelo de acção baseado no conceito de empreendedor-estagiário, e que potencia a criação de novas actividades com baixo risco para o promotor de uma ideia, a Esdime atribui aos jovens uma bolsa de 12 meses que lhes permite desenvolver e implementar os seus projectos.
[pull_quote_left]O Prémio AGIR 2015 promove o envelhecimento activo em áreas como a saúde o emprego[/pull_quote_left]
Estes jovens poderão usufruir do espaço do recém-criado Ninho de Empresas de Ferreira do Alentejo e terão um acompanhamento permanente mas flexível. Contam ainda com a possibilidade de criar uma rede de contactos com os restantes empreendedores. Para que as ideias se concretizem e tenham resultados efectivos, a Agência fará um teste real de actividade junto de clientes institucionais e empresariais.
Desta forma, é possível dinamizar o tecido empresarial da zona, promover a cultura e o espírito empreendedor dos jovens, e impulsionar o desenvolvimento económico do concelho, sublinham os responsáveis do “Ferreira Empreende”.
O projecto está, actualmente, no momento de conclusão da fase piloto, que conta com a participação de cinco jovens empreendedores. A próxima fase terá início brevemente, com outros jovens e novas ideias. Para os seus promotores, o Prémio AGIR representa, mais do que um reconhecimento nacional da iniciativa, “uma oportunidade de ampliar e aprofundar o seu impacto, reforçando e potenciando os recursos envolvidos e permitindo que a metodologia desenvolvida possa ser conhecida, divulgada e replicada noutros territórios que enfrentam desafios semelhantes”.
Curiosamente, ao promover o emprego dos seus públicos-alvo, cada um destes projectos consegue fazer face a pelo menos um problema adicional. Os dois primeiros estimulam a criação de empregos para grupos distintos de mulheres, ao mesmo tempo que promovem o acompanhamento de idosos em situação de isolamento e vulnerabilidade; o terceiro apoia o emprego e o espírito empreendedor dos jovens, promovendo também o povoamento do interior do País.
Os velhos não são trapos
O Envelhecimento Activo será o tema do Prémio AGIR em 2015. Considerando que Portugal tem uma população cada vez mais idosa, a REN vai apoiar três projectos de instituições ou organizações sem fins lucrativos que se dediquem à promoção da participação sénior na sociedade. Os projectos podem promover áreas como o emprego, a saúde ou a sensibilização social.
Entre os critérios de avaliação, destaca-se a adequação aos objectivos do Prémio AGIR, a viabilidade técnica e a sustentabilidade financeira, e a originalidade e o carácter inovador do projecto. A escalabilidade e a replicabilidade serão igualmente relevantes para a eleição dos melhores projectos, assim como o impacto social.
A BVS terá, tal como na primeira edição, um papel importante na captação de potenciais investidores e no acompanhamento dos projectos vencedores. As organizações da sociedade civil que virem aprovadas as suas candidaturas ao Prémio Agir 2015 terão, tal como na 1ª edição, os seus projectos cotados nesta Bolsa, por um período de 12 meses. O objectivo é dar visibilidade acrescida a cada um destes negócios sociais, permitindo a atracção de potenciais investidores, que poderão fazer os seus donativos através da plataforma criada para o efeito.
Os montantes atribuídos pela REN aos três melhores projectos serão de trinta mil euros, quinze mil euros e cinco mil euros. As candidaturas poderão ser apresentadas já a partir de 1 de Novembro, e até ao dia 15 de Janeiro de 2015.
Jornalista