A implementação da norma ISO 26000 pelas organizações de consumidores implica a valorização do conceito de cadeia de valor – extravasando o da cadeia do produto -, o qual deverá ser referencial na análise e recomendação dos produtos ou serviços testados. A propósito de uma das primeiras formações ministradas sobre a norma internacional de RS, a pedido do International Consumer Research and Testing, Cláudia Pedra, managing partner da Stone Soup, destaca o poder dos consumidores para exigirem responsabilidades às empresas A ISO 26000, norma internacional de responsabilidade social, foi aprovada a 21 de Maio, em Copenhaga, por um grupo de trabalho que integrou cem países e quarenta organizações internacionais, reunindo quatrocentos delegados de todo o mundo. Durante cinco anos, o Grupo de Trabalho da ISO 26000, que integrou representantes de empresas, governos, sindicatos, organizações não governamentais e consumidores, definiu em consenso os requisitos da norma, que foi depois votada e aprovada pelos 153 países que compõem a Organização Internacional de Normalização, entrando em vigor a 1 de Novembro de 2010.
Não constituindo um sistema de gestão standard, já que não configura propósitos contratuais ou de certificação e regulação, a ISO 26000 propõe a integração das organizações numa comunidade fortalecida pela satisfação mútua de necessidades, através do diálogo com as partes interessadas (stakeholders) e de estratégias colaborativas que permitam envolver essas partes e responder às suas expectativas legítimas. A implementação desta norma significa, na opinião do secretário-geral da ISO – International Organization for Standardization, Rob Steele, ter acesso a “uma ferramenta poderosa para ajudar as organizações a evoluírem das boas intenções às boas práticas”, no que diz respeito à Responsabilidade Social. No que diz respeito às componentes da ISO 26000 dedicadas ao Consumo, a norma constitui, também, um instrumento decisivo para que os consumidores possam exigir das empresas responsabilidades a vários níveis: na disponibilização de informação rigorosa, na transparência da sua comunicação, na promoção do consumo responsável, na não discriminação da sua oferta, na segurança dos produtos e serviços lançados no mercado e no respeito pela privacidade dos consumidores. “Os consumidores podem exigir das empresas responsabilidades” Em entrevista ao VER, Cláudia Pedra, Managing partner da Stone Soup, sublinha, a propósito desta norma, que “há por parte dos consumidores um instrumento poderoso – o de poder exigir das empresas responsabilidades”.
Como surgiu a oportunidade de realizarem uma formação sobre a ISO 26000 para o International Consumer Research and Testing? Quais foram os objectivos que presidiram a esta formação? No caso das organizações em questão, é de salientar a importância da ISO 26000 servir de referencial na análise da cadeia de valor, e da importância de a cadeia de valor ser tida em conta aquando da análise, e consequente recomendação, dos produtos ou serviços testados. Como é que as organizações, nomeadamente as de consumidores, devem interpretar a norma ISO 26000, com vista à sua implementação? Por sua vez, há por parte dos consumidores um instrumento poderoso – o de poderem exigir das empresas responsabilidades. Responsabilidades em fornecerem informação rigorosa, serem transparentes, promoverem o consumo responsável, desenharem produtos e serviços que não sejam discriminatórios e que sirvam todos os públicos, e garantirem que esses produtos e serviços tenham os riscos minimizados e que sejam desenhados de modo a proteger a segurança da informação pessoal e a privacidade dos consumidores. Podem também exigir que os produtos e serviços não tenham, na cadeia de valor, qualquer quebra das normas internacionais, e não apenas que a sua qualidade técnica esteja assegurada. O que quer dizer que o consumidor, assumindo o conceito de cadeia de valor como central, pode exigir não só que o flash de uma máquina de fotografar não estrague o contraste, mas também que algures na cadeia não tenha sido usado trabalho escravo. E pode responsabilizar as empresas que comercializam esses produtos ou serviços pelo seu não cumprimento, preferindo, inclusivamente, consumir outros produtos ou serviços que ofereçam essa garantia. De que modo devem as empresas aplicar a ISO 26000 enquanto ferramenta de apoio à melhoria das suas práticas? |
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Jornalista