O potencial de escala no meio empresarial é “um factor crítico de sucesso” da ACÇÃO 2020, projecto coordenado pelo BCSD Portugal que reúne cem empresas na implementação de iniciativas prioritárias em seis áreas estratégicas do desenvolvimento sustentável. O objectivo é implementar soluções conjuntas para contornar a degradação do contexto em que as empresas portuguesas operam, o qual está “a condicionar fortemente o seu desempenho”, explica Fernanda Pargana
POR GABRIELA COSTA

O BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável lançou a ACÇÃO 2020, que reúne um conjunto de soluções empresariais prioritárias para promover o desenvolvimento sustentável, impulsionando-o como motor-chave do crescimento económico e da estabilidade social do País.

Estas soluções, a implementar entre 2014 e 2020, materializam-se em treze medidas (ver Caixa) alinhadas com as prioridades definidas pelos líderes empresariais do BCSD, na sequência de uma ampla consulta realizada aos presidentes dos membros da organização, com o objectivo de definir acções “que respondam, conjuntamente, às principais necessidades das empresas nos campos do desenvolvimento sustentável”.
Organizadas em seis áreas-chave – Desenvolvimento Social, Economia, Capital Natural, Energia, Cidades e Infra-estruturas e Indústria e Materiais -, as propostas da ACÇÃO 2020 “são a resposta à vontade de dar um passo em frente no desenvolvimento sustentável do País, para resolver os problemas considerados prioritários e cuja resolução tem potencialmente um maior impacto para as empresas e para as pessoas”.

Este projecto agregador que, sob a coordenação do BCSD Portugal, será desenvolvido “em estreita colaboração” com cem empresas suas associadas, “é uma oportunidade para fomentar a inovação, influenciar a agenda empresarial, participar na definição das áreas prioritárias e contar com indicadores e ferramentas de medição do progresso” (já que todas as acções serão monitorizadas e avaliadas).

Em entrevista, a secretária geral do BCSD Portugal, Fernanda Pargana, explica que foram eleitas três acções para arrancar com o projecto em 2014, as quais “respondem à necessidade de se obterem quick wins, que facilitem o caminho para a realização das restantes acções”. E sublinha o “inabalável foco no que é essencial”, isto é, “no racional económico das nossas opções, sendo para nós evidentes, a todo o tempo, as vantagens de concretizar estas acções de uma forma conjunta”. Afinal, e como questiona, “quem melhor que as empresas que, com o seu pragmatismo e sentido de urgência, estão habituadas a resolver problemas”, para dar a volta à crise, com sustentabilidade?

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A ACÇÃO 2020 integra 13 iniciativas a desenvolver por cem empresas membros do BCSD Portugal, entre 2014 e 2020, para contornar o difícil contexto económico de Portugal. Que contributo pode efectivamente o meio empresarial dar no combate à crise, através do desenvolvimento sustentável?
O que os membros do BCSD Portugal constatam é que o contexto em que as empresas portuguesas estão a operar está a degradar-se de forma acelerada e a condicionar fortemente o desempenho empresarial. E constatam também que têm que encontrar soluções para os seus problemas comuns, porque os outros agentes da sociedade não têm conseguido dar respostas.

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Fernanda Pargana, Secretária Geral do
BCSD Portugal
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E quem melhor que as empresas que, com o seu pragmatismo e sentido de urgência, estão habituadas a resolver problemas? A ACÇÃO 2020 coloca parte da solução para o desenvolvimento sustentável na capacidade de escalar soluções, envolvendo as suas cem empresas associadas.

As empresas e organizações similares são entidades criadoras de emprego, riqueza e bem-estar, e são um pilar fundamental da nossa sociedade, pelo que o seu desenvolvimento sustentado é condição para melhorar as condições do País. Actuar na melhoria das condições dessa sustentabilidade, intervindo de forma pragmática em alguns aspectos críticos, é criar condições para um futuro melhor para todos.

Estas acções, propostas com o objectivo de “atacar” os problemas prioritários, foram definidas pelo seu potencial impacto para as empresas e para as pessoas. De que modo a sua implementação, monitorização e avaliação gerará esse impacto, e que expectativas têm quanto aos resultados a alcançar?
Esperamos resultados muito significativos, tanto para as empresas como para as pessoas. O impacto esperado destas acções advém da grande clareza na definição quer dos problemas quer das soluções, as quais são desenhadas pelos seus destinatários: as empresas. Que têm um pragmatismo e uma percepção clara de que é do seu interesse implementar estas soluções. É nossa convicção que estas são boas soluções, porque quem as vai implementar percebe o seu valor. O impacto significativo esperado obtém-se com a escala com que o podemos fazer, no âmbito do BCSD, que coordena a iniciativa.

As empresas portuguesas já deram provas de que conseguem contornar obstáculos e adversidades para se manterem activas e competitivas. Na ACÇÃO 2020 estão alinhadas para, em conjunto, procurar resultados que venham melhorar o seu dia-a-dia e a sociedade, como um todo.

Das treze propostas, o BCSD lança três em 2014, envolvendo algumas das áreas definidas como prioritárias: Desenvolvimento Social, Economia e Energia. A que se deve esta escolha, no actual contexto?
A selecção das acções que avançam desde já – adequar perfis de competências entre empresas e formação escolar; desenvolver uma plataforma de informação sobre a competitividade da economia portuguesa no âmbito dos serviços partilhados; e demonstrar o valor gerado por projectos de eficiência energética – foi feita pelos próprios membros, a quem pedimos que escolhessem as prioritárias. Embora as restantes entrem em fase de planeamento no decurso deste ano.

São também as acções que permitem algum equilíbrio sectorial, entre indústria e serviços, e que respondem à necessidade de se obterem quick wins, que ajudem a evidenciar as vantagens de se realizarem projectos desta natureza e que facilitem o caminho para a realização das restantes acções.

Contrariando a tendência que as empresas portuguesas têm para promover acções isoladas que não ganham escala, a ACÇÃO 2020 reúne uma centena de organizações para trabalharem conjuntamente iniciativas concretas. Como comenta o potencial de escala do projecto e o contágio que poderá ter no meio empresarial?
Essa é uma questão relevante e está identificada como um factor crítico de sucesso deste projecto. Cientes dessa característica, contamos a nosso favor com aquilo que é o modus operandi do BCSD, ou seja, temos uma razoável experiência de juntar empresas e fazer convergir as suas energias para um objectivo que é importante para todas. É essa a essência dos grupos de trabalho e demais iniciativas da nossa organização, que completa treze anos de existência em Portugal.

“As empresas portuguesas já deram provas de que conseguem contornar obstáculos e adversidades para se manterem activas e competitivas”

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Adicionalmente, algumas das acções previstas vão começar por ser testes piloto ou ser iniciadas numa escala menor, para depois aumentá-la com maior segurança nas soluções. Tendencialmente, a primeira fase irá acontecer com membros do BCSD, sendo que nas fases seguintes o projecto pode e deve ser alargado a todo o universo empresarial.

Contamos também com um inabalável foco no que é essencial, no que queremos de facto atingir e no racional económico das nossas opções, sendo para nós evidentes, a todo o tempo, as vantagens de concretizar estas acções de uma forma conjunta. O potencial de escala advém, em última análise, da nossa capacidade de manter os objectivos e de reconhecer o valor que os vários parceiros acrescentam, assim como de procurar, de forma contínua, os melhores meios para atingir esses objectivos.

Em que medida é que este projecto agregador que reflecte os resultados de uma ampla consulta aos líderes das empresas envolvidas constitui uma aposta inovadora e capaz de influenciar a agenda empresarial, rumo a um futuro mais sustentável?
Um factor diferenciador deste projecto é que não se limita a fazer um diagnóstico, mas passa à acção. Acreditamos que o impacto destas acções vai evidenciar que esta é uma boa forma de obter melhores resultados e, nessa medida, terá um efeito demonstrativo para todo o tecido empresarial.

Sobre a capacidade de influenciar a agenda empresarial, sabemos que as empresas não trabalham em silos, mas sim que interagem com os restantes agentes da sociedade, pelo que o projecto vai começar no seio das empresas mas vai agregar quer a sociedade civil, quer as organizações não-governamentais quer os decisores de políticas públicas. O envolvimento de todos é condição de sucesso da escala que se pretende atingir.

No entender do BCSD e das empresas que lideram o projecto, quais são as prioridades de Portugal no que toca ao desenvolvimento sustentável?
As prioridades de Portugal nesta área partem das nossas condições particulares que permitem que se cumpra o desenvolvimento sustentável, ou seja, deixarmos para as próximas gerações tantas ou mais opções do que aquelas que nós temos actualmente. Dito de outra forma, as prioridades correspondem a reduzir os estrangulamentos e a potenciar as melhores soluções, tendo em vista o desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista prático, as seis áreas-chave do projecto ACÇÃO 2020 respondem a esta questão.

Poderemos sintetizar as prioridades da sustentabilidade empresarial de Portugal da seguinte forma: melhorar a educação para a empregabilidade, evidenciar as boas infra-estruturas que o País tem para atrair investimento externo e demonstrar as vantagens da eficiência, em particular no campo da energia. O valor económico do capital natural, a melhoria das cidades e as sinergias no sector industrial estão igualmente entre estas prioridades.

Que balanço faz dos resultados já alcançados com a iniciativa do WBCSD Visão 2050, e de que modo é que a ACÇÃO 2020 pode alavancar as metas estipuladas até 2050?
A Visão 2050 é a matriz de todo o trabalho desenvolvido pela nossa organização. Estabelece um conjunto de caminhos que são essenciais para se concretizar a visão de que, em 2050, “os nove mil milhões de pessoas que habitam a Terra vivem bem e em respeito pelos limites do planeta”. Publicada em 2010, tem sido um caso exemplar de disseminação, com um número muito significativo de países a adoptar e a adaptar estes princípios nas suas realidades locais. Em Portugal, têm sido utilizados na definição de estratégias de médio prazo de algumas organizações.

A ACÇÃO 2020 é um projecto que visa tornar tangível a Visão 2050, no horizonte temporal de 2020, traduzindo em acções algumas das prioridades, adaptadas à realidade de Portugal. De referir que o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) está a desenvolver um projecto similar à escala global, já que conta entre os seus duzentos membros com muitas das maiores empresas do mundo.

Treze soluções sustentáveis até 2020
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DESENVOLVIMENTO SOCIAL
ACÇÃO 1: Adequar perfis de competências entre as necessidades das empresas e as opções escolares
ACÇÃO 2: Caracterizar perfis de competências de desempregados acima dos 40/45 anos

ECONOMIA
ACÇÃO 3: Apoiar as PME que integram a cadeia de valor das empresas
ACÇÃO 4: Desenvolver uma plataforma de informação sobre a competitividade da economia portuguesa no âmbito dos serviços partilhados

CAPITAL NATURAL
ACÇÃO 5: Fomentar a criação de negócios que valorizem o Capital Natural
ACÇÃO 6: Melhorar a investigação aplicada nas actividades económicas do Capital Natural

ENERGIA
ACÇÃO 7: Demonstrar o valor gerado por projectos de eficiência energética
ACÇÃO 8: Mapear soluções de medição de consumo energético existentes no mercado

CIDADES E INFRA-ESTRUTURAS
ACÇÃO 9: Adoptar indicadores de sustentabilidade no contexto das Cidades e Infra-estruturas
ACÇÃO 10: Mapear as necessidades de mobilidade em grandes centros urbanos

INDÚSTRIA E MATERIAIS
ACÇÃO 11: Potenciar sinergias entre empresas do BCSD na área dos resíduos e subprodutos
ACÇÃO 12: Criar um manual de compras sustentável
ACÇÃO 13: Identificar oportunidades de substituição das importações e aumento do valor acrescentado nacional nas exportações

Fonte: BCSD Portugal

Jornalista

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