A Fundación MásFamilia criou a certificação “efr” – Empresas Familiarmente Responsáveis, a qual reforça a conciliação entre as esferas laboral e familiar. Em Portugal, a certificação passará a ser co-emitida pela ACEGE, em resultado de uma parceria que será apresentada publicamente no próximo dia 15. Para aferir a eficácia desta prática em empresas portuguesas, o VER conversou com duas organizações que já a adoptaram – o Santander Totta e o Colégio Sol dos Pequeninos – as quais, sendo de diferentes dimensões e sectores, revelam estratégias e objectivos comuns
POR
MÁRIA POMBO

“O sonho de cada família é poder viver junta e feliz”

Este ideal foi expresso por Nelson Mandela mas pode pertencer a qualquer um de nós. E para que este sonho seja cada vez mais uma realidade, a Fundación MásFamilia criou, implementou e desenvolveu a certificação “efr” – Empresas Familiarmente Responsáveis, uma ferramenta de gestão já presente em cerca de 20 países de vários continentes, que pretende promover a conciliação entre a vida profissional e a familiar. Ao estabelecer-se como uma nova cultura sociolaboral e empresarial, baseada na flexibilidade, no respeito e no compromisso, esta certificação visa apoiar a igualdade de oportunidades e a inclusão social.

Em Portugal, foi recentemente constituída uma parceria entre a Fundación MásFamilia e a Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), a qual será apresentada publicamente a 15 de Maio, na sede do banco Santander Totta, em Lisboa. Através desta aliança, a ACEGE passa a promover a iniciativa “efr” junto das empresas portuguesas, estabelecendo-se como co-emissora da certificação. As duas entidades pretendem, assim, incentivar as organizações a envolverem-se na criação de uma nova cultura de trabalho que apoie os colaboradores em todas as vertentes da vida, e não apenas na profissional. O objectivo é simples: fazer as pessoas mais felizes, as organizações mais competitivas e a sociedade mais justa.

Esta metodologia pode ser adaptada facilmente a diversas organizações, desde empresas (grandes e pequenas, e de diversos sectores), a organizações sociais, órgãos municipais, etc. No fundo, e sem “fórmulas mágicas”, o que se pretende é apoiar os trabalhadores na criação de uma harmonia saudável entre a esfera laborar e a pessoal ou familiar, dando-lhes, por exemplo, uma maior flexibilidade temporal e espacial, a qual facilita a assistência a familiares (nomeadamente para deslocação a reuniões escolares ou acompanhamento a consultas de menores ou dependentes).

É por este motivo que os promotores desta iniciativa não vêem o equilíbrio entre o trabalho, a família e a sociedade como um fim em si mesmo, mas como um meio para atingir algo. E este “algo” traduz-se na satisfação da empresa com o funcionário, e vice-versa, e nos benefícios que esta relação saudável tem para a sociedade. Os efeitos/benefícios provenientes desta harmonia são, assim, infinitos e podem ter expressão quer a nível interno (quando falamos da empresa, da sua relação com colaboradores e dos lucros que a mesma pode obter), quer a nível externo (onde figura a relação desta com a sociedade, nomeadamente no que respeita à promoção da igualdade de oportunidades).

[pull_quote_left]O objectivo da certificação “efr” é fazer as pessoas mais felizes, as organizações mais competitivas e a sociedade mais justa[/pull_quote_left]

No seio das empresas, os principais benefícios são a liberdade e a responsabilidade que os funcionários “adquirem”, o bom ambiente laboral e a melhoria da relação entre colegas, mas também o compromisso que estes sentem para com a organização onde trabalham: saberem-se apoiados e acompanhados nas diversas vertentes da vida aumenta a sua produtividade e empenho, e cria a convicção de pertença à empresa. Para além disso, pode verificar-se o incremento da confiança das equipas de gestão nos seus funcionários.

Por outro lado, a promoção do bom nome das marcas (tratando-se de empresas) revela-se igualmente benéfica, pois este compromisso para com os seus trabalhadores transmite uma imagem forte, revelando determinação em aplicar os conceitos de flexibilidade e inovação. Este factor é potencialmente útil na atracção e retenção de talento, essencialmente junto de escolas de negócios, universidades, empresas concorrentes e sites de procura de emprego.

Adicionalmente, ao melhorar a imagem das organizações e aumentar a sua confiança no mercado, esta certificação amplia fortemente o grau de competitividade das mesmas, favorecendo ainda a discriminação positiva em matéria de consumo e investimento, assim como a atracção de potenciais investidores e a possibilidade de recorrer a fundos de investimento socialmente responsáveis.

07052015_CertificacaoEfrUmaNovaCulturaSociolaboralQueConciliaTrabalhoEfamiliaDa banca à educação: conciliar a família e o trabalho é possível em diversos sectores

Para perceber o funcionamento das práticas “efr” e saber o resultado da aplicação das mesmas em empresas portuguesas, o VER conversou com duas organizações que já aderiram a esta conciliação – o Banco Santander Totta e o Colégio Sol dos Pequeninos –, as quais, pelas suas especificidades, demonstram que este modelo é viável tanto para empresas grandes como para as mais pequenas, podendo ser aplicado nos mais diversos sectores. E que a sua implementação é ainda mais urgente no período de crise económica que Portugal atravessa actualmente.

A representar o Banco Santander Totta, Natália Ribeiro afirma que esta certificação “foi um bom ‘motor’ para melhorar a monitorização do uso das medidas pelos colaboradores”, anunciando que “os indicadores mostram melhorias muito significativas”.

Já Sofia Anastácio, consultora “efr” do Colégio Sol dos Pequeninos, refere que esta certificação reconhece publicamente os valores de integração e empenho “revelando aos pais que estão perante uma aposta educativa realmente importante para o futuro dos seus filhos”.

[pull_quote_left]O Santander Totta e o Colégio Sol dos Pequeninos demonstram que conciliar a vida profissional e familiar não é uma utopia[/pull_quote_left]

Apesar de estarmos perante duas entidades completamente diferentes – uma do sector bancário e outra da área da educação –, é evidente a convergência no que respeita às medidas já adoptadas para promover a conciliação entre a família e o trabalho, de que são exemplo a dispensa de tempo para a família, principalmente nos “dias especiais” (como o aniversário ou o primeiro dia de escola dos filhos dos trabalhadores), ou ainda o reforço de lideranças responsáveis e de gestão eficiente dos recursos humanos.

Desta forma, o Santander Totta e o Colégio Sol dos Pequeninos demonstram que conciliar a vida profissional e familiar não é uma utopia e que as estratégias adoptadas favorecem os trabalhadores (porque lhes concedem algumas regalias), as organizações (porque beneficiam do aumento da produtividade e empenho dos colaboradores), e também a sociedade (tendo em conta o incentivo à inclusão social, assim como à igualdade de oportunidades e à não-discriminação).

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Do certificado “efr” resulta um compromisso de conciliação entre a esfera laboral e a familiar. Quais foram as principais motivações para aderir a esta iniciativa?

Natália Ribeiro (NR) – O Banco Santander Totta foi criando, ao longo de vários anos, condições que permitissem aos seus colaboradores conciliar a sua vida pessoal e profissional. A certificação permitiu estruturar melhor todo o trabalho já realizado e criar espaço para continuarmos a criar medidas facilitadoras da conciliação, ampliando também o reconhecimento do banco como empresa familiarmente responsável, de forma a estarmos todos comprometidos com a mesma.

Sofia Anastácio (SA) – O Colégio Sol dos Pequeninos tem como missão desenvolver um projecto distinto na área da educação pré-escolar, satisfazendo as necessidades diárias das crianças e das famílias. Garantir e salvaguardar o bem-estar das famílias é uma constante, facilitando o dia-a-dia dos pais em tudo o que seja possível, sem nunca os pretender substituir. Aliás, sabemos que a sua presença junto dos filhos é fundamental para um crescimento saudável e feliz. Pela importância da conciliação laboral e familiar, o Colégio Sol dos Pequeninos decidiu dar o exemplo, estabelecendo uma parceria com a Fundación MásFamilia e estudando a sua proposta de modelo de procedimentos para gestão dos seus recursos humanos.

Que políticas têm sido implementadas para melhorar a conciliação entre o trabalho e a família dos seus colaboradores e que iniciativas estão a ser desenvolvidas nesse âmbito?

NR – O banco tem cerca de cinquenta medidas certificadas, no âmbito do apoio à conciliação. A dispensa do primeiro dia de escolaridade ou da tarde do aniversário dos filhos dos colaboradores até aos 12 anos são alguns exemplos. A certificação foi um bom “motor” para melhorarmos a monitorização do uso destas medidas pelos colaboradores, e os indicadores mostram melhorias muito significativas. Nesta fase, estamos muito focados em reforçar lideranças responsáveis que considerem esta estratégia como uma ferramenta sua – e não apenas dos recursos humanos – para uma melhor gestão das pessoas.

SA – Referindo alguns exemplos de boas práticas “efr” no Colégio Sol dos Pequeninos, temos políticas que, de acordo com a sua natureza, se dividem em quatro tipos: políticas de qualidade no trabalho, de flexibilidade temporal e espacial, de apoio à família e de desenvolvimento profissional.

– Políticas de qualidade no trabalho: gestão eficiente de reuniões internas, almoço a cargo da organização, encontros de confraternização, exercício físico (cedência de espaço para a prática e monitorização a um preço acessível), seguro médico, descontos em serviços de saúde e outros;

– Políticas de flexibilidade temporal e espacial: dia de aniversário livre, escolha do período de férias, voluntariado em horário laboral;

– Políticas de apoio à família: educação gratuita para filhos até aos cinco anos, apoio à educação a partir dessa idade, apoio em situações relacionadas com a saúde e com as férias dos filhos dos colaboradores.

– Políticas de desenvolvimento profissional: apoio na formação superior e apoio na divulgação de serviços babysitting promovidos pelas colaboradoras, junto da comunidade do Sol dos Pequeninos.

E quais são os principais benefícios, gerados por estas políticas, que identifica?

NR – Os colaboradores conhecem bem as medidas que têm ao seu dispor na empresa e sentem que a mesma se preocupa com eles. Os sucessivos Questionários de Clima Interno que realizamos mostram níveis de satisfação muito elevados em algumas dimensões (para exemplificar, conseguimos uma taxa de 90% no factor ‘Orgulho de trabalhar no Santander Totta’), que consideramos resultado da Oferta de Valor, enquanto empregador, que o banco desenvolveu. A comunicação tem um papel fundamental para que a informação chegue a todos os colaboradores, e as hierarquias são um factor igualmente crítico, devendo ser “embaixadoras” e facilitadoras da implementação destas políticas.

SA – O Colégio Sol dos Pequeninos pretende ser um exemplo neste domínio, pois trabalhar para que as necessidades das pessoas caminhem a par com as expectativas da entidade é conseguir a satisfação dos colaboradores e a melhoria da eficiência e da produtividade da organização. Desde a sua fundação, implementámos uma dinâmica integradora em toda a estrutura profissional, ganhando por essa razão um excepcional ambiente de trabalho, com dedicação, empenho e entusiasmo a todos os níveis e em todas as actividades e iniciativas. A certificação “efr” reconhece publicamente esses valores, revelando aos pais (os primeiros educadores) que estão perante uma aposta educativa realmente importante para o futuro dos seus filhos. Não há melhor demonstração do retorno das boas práticas que o envolvimento das famílias dos colaboradores em diversas acções.

Considerando que o tecido empresarial português é composto essencialmente por PME e que Portugal atravessa, como sabemos, um período muito difícil do ponto de vista económico, como comenta a importância desta certificação no nosso país?

NR – A certificação “efr” permite às empresas ter medidas que possam suprir a falta de outros instrumentos de recursos humanos, que não podem ser utilizados face ao enquadramento económico. Existem medidas não financeiras que podem fazer a diferença nas pessoas e no sentimento de pertença às empresas.

SA – Gostaríamos e queríamos dizer que não, mas como empresa, como serviço e como parceiro de educação, estamos sujeitos à mesma conjuntura que todos os outros. Repudiamos a crise nos valores, objectivos educativos e de civilização, convictos de que a crise financeira, económica e social é uma verdadeira oportunidade de mudança. No entanto, o ritmo de vida a que as famílias estão expostas deixa hoje muito pouco tempo disponível aos pais para proporcionarem aos filhos a atenção de que tanto necessitam. Por esse motivo, é preciso tempo para a família, sendo a conciliação laboral e familiar fundamental na primeira infância.

Jornalista