POR PEDRO ANICETO
Na pré-história da comunicação electrónica, rapidamente os utilizadores perceberam a importância de vários novos vectores das ferramentas que os poderiam levar mais longe quando em causa estava o poder de espalhar uma mensagem. Não foi uma questão de nicho ou segmento profissional (os técnicos e os integrantes do métier electrónico foram os mais rápidos adoptantes do e-mail), mas muito depressa o utilizador comum percebeu que a rapidez, o baixo custo e até a personalização eram aliados de monta numa batalha de comunicação eficaz.
E a comunicação interessava a todos, de amigos a empresas, de passivos a agressivos, todos a seu jeito se engajaram na ferramenta. Foi um longo caminho solitário o do e-mail até aos dias em que começaram a despontar outras formas de passar a palavra. Quem não se recorda do “êxito” de plataformas de Petição Pública que o correio electrónico nos trazia em catadupa? Ou das tentativas de nos levar pela emoção a fazer algo que tantas vezes se confundia com um boato? (Já alguém decidiu ir salvar aquele pobre coitado que precisava – há décadas – de sangue Tipo B- ?)
O Twitter foi apenas um dos ramos da árvore comunicacional. É certo que para a maioria das pessoas é um parente pobre das redes sociais; não podiam estar mais enganados, mas não é a altura certa para desmontar essa apreciação. É uma ferramenta de texto curto, mas de boa disseminação. Um tweet (um conjunto de apenas 140 caracteres) pode parecer curto em demasia (mas também há quem morra com uma lâmina de canivete), mas pode ser de uma eficácia extrema face a um texto elaborado noutra rede social.
O activismo no Twitter (como em muitas outras plataformas) não depende apenas de uma parcela para atingir o sucesso. A influência do emissor é tremendamente importante. Para o utilizador comum, o retweet de uma causa não é automático apenas pela importância/peso da causa em si, mas por uma soma de factores que pode ser algo complexa de analisar. A relevância do emissor é, bastas vezes, determinante. Um texto de um activista obscuro pode estar condenado ao fracasso (sendo que o fracasso ou sucesso é medido pela taxa de disseminação de uma mensagem ao longo da rede e do espaço temporal) pela sua baixa relevância, mas pode sofrer verdadeiros impulsos dramáticos se no processo um utilizador relevante (figura pública ou estrela) se juntar aos esforços de publicação. E aí tudo recomeça. O factor bola de neve existe, mesmo que a nossa bola pareça estar quase a imobilizar-se no fundo de uma ravina.
Não estou com isto a condenar os activistas menos conhecidos a um fracasso certo nas suas iniciativas. Nada disso. Quando se trata de impulsionar uma causa (por mais patética ou séria que ela seja), todos os utilizadores contam e a persistência, ao contrário de outras qualidades que se poderão demonstrar online, acabam por pagar dividendos. Mas não é apenas por este prisma que o sucesso do activismo deve ser analisado. Ser activista no Twitter é uma actividade extenuante, quase full-time. Há muita gente equivocada neste tema. Desde empresas a comunicar esparsamente sem acompanhar em tempo real as dúvidas e questões colocadas, porque decidem pura e simplesmente alocar um par de horas por semana a alguém que executa mil outros instrumentos, a gente que acha que comunicar é apenas uma estrada de um só sentido, são erros primários que deveriam constar de qualquer manual básico de postura numa rede com a especificidade do Twitter. Para se ser um activista de sucesso (e é tão relativo o sucesso), precisa mais do que sentir-se legitimado, é ser-se legitimado pelo público consumidor de causas. Sim, porque o há.
As almas mais sensíveis estarão neste momento a interrogar-se sobre o facto de eu mencionar empresas e activismo no mesmo parágrafo. Tenho notícias para vós: Há uma linha muito fina (e não é um underscore!) que separa a comunicação empresarial no Twitter do Activismo. Na sua essência, levar alguém a apoiar uma causa, doar uns euros, assinar uma petição, inscrever-se numa newsletter, participar numa sardinhada da Liga dos Amigos das Lagartixas Tigradas do Alqueva ou comprar um produto, apreciar um site ou gostar de uma marca tem muitos aspectos em comum.
Nos últimos anos, o activismo político tem florescido no Twitter. Utilizadores com convicções políticas fortes que discutem longamente a actualidade com os seus seguidores acabam referenciados como activistas de uma dada facção política. Passam a ser “activistas” rotulados como apoiantes de A ou B. Isso não os torna activistas de per si, mas são-no aos olhos dos receptores da informação, o que não deixa de ser peculiar. Elementos de grande preponderância na cena Twitter são muitas vezes tomados como motores de causas e os verdadeiros activistas tentam captar-lhes a atenção e torná-los veículos da mensagem propagada.
O activismo de rede social não deixa de ser um grandioso ecossistema de múltiplas simbioses e o do Twitter não é excepção. Assim que os blocos políticos descobriram a efectividade do meio, não tardaram em explorá-lo de forma intensiva. Activismo disfarçado em diversas capas. Os tais utilizadores relevantes foram, na sua grande maioria, alimentados por agências de comunicação. Este alimento pode não ser necessário em algumas situações, mas as agências não estão propriamente a dormir na formatura. É simples montar um processo de monitorização. É simples entrar devagarinho numa conversa ou numa discussão alargada e ir semeando a mensagem que se tem para propagar. Não é activismo na essência, mas acaba por “contaminar” positivamente. Se uma conversa decorrer menos bem, se existir oposição forte, é também simples desvanecer o tom e acabar por deixar morrer o foco de incêndio.
É no meio de tudo isto que se move um activista Twitter. Muitos deles, que começaram por ser meros activadores de ideias, são hoje reconhecidos e a sua opinião é valorizada. Aprenda a distinguir o trigo das outras ervas. É um exercício longo, mas aprenderá muito na viagem.
Consultor de TI