POR SOFIA SANTOS
O recente escândalo da Volkswagen veio trazer a debate vários temas e, entre eles, as questões da transparência, da ética e do ambiente. Muitas vezes estas questões parecem estar totalmente acauteladas na gestão das empresas, uma vez que estas têm estratégias de sustentabilidade e produzem anualmente os seus relatórios de informação não-financeira. A Volkswagen tinha tudo isto. Mas, em cinco dias, perdeu 14 mil milhões de euros na bolsa, ou seja, perdeu o equivalente a 8% do PIB Português, podendo estar sujeita a penalizações nos Estados Unidos da América na ordem dos 18 mil milhões de euros. E perdeu porque, afinal, a mentiu e falseou os resultados de uma tecnologia, para que as emissões de CO2 dos seus carros aparentassem ser mais baixas. E porquê?
Acima de tudo, é fundamental tentar compreender o porquê de tudo isto. Quais os motivos que levaram este gigante empresarial a mentir desta forma? Obviamente, não tenho informação para conseguir responder a esta questão, que será alvo de processos legais apropriados. No entanto, vale a pena tentar imaginar o que se passou. O que pode levar uma empresa a decidir mentir ao mercado? Será que não pensou nas possíveis consequências? Ou será que essas consequências eram percepcionadas como passíveis de ocorrer apenas no longo prazo?
Na realidade, as empresas cotadas em bolsa estão pressionadas com os retornos e dividendos trimestrais. Se os acionistas ambicionam obter o maior lucro possível no menor prazo, então este comportamento é mais do que expectável, pois, possivelmente, para se baixarem efectivamente as emissões, seria necessário um investimento significativo que poria em causa as rentabilidades de curto prazo ambicionadas. Tudo depende da missão da empresa e da forma como os accionistas compreendem e sentem essa missão. E no caso da Volkswagen, por incrível que pareça, não é possível encontrar o statement da sua missão. A única informação mais aproximada está relacionada com os objectivos do Grupo: O objectivo do Grupo é oferecer veículos atraentes, seguros e ecológicos que possam competir num mercado cada vez mais exigente, com padrões mundiais estabelecidos nas suas respectivas classes. E não sendo também possível encontrar os Business Principles da empresa, o site apresenta, todavia, um “Código de Conduta”, no qual a palavra “ética” apenas surge referida uma vez no documento. Este código de conduta tem regras e proibições, mas ignora a ética epistemológica de cada um dos humanos que constituem a empresa. E sem uma cultura de ética é praticamente impossível garantir práticas de boa gestão. Este caso vem comprovar tudo isto.
Este escândalo empresarial vem enfatizar os dilemas que os gestores enfrentam diariamente. O lucro no curto prazo que visa promover a carreira profissional do gestor versus uma decisão mais ponderada e preocupada com o longo prazo, mas que não é valorizada pelos accionistas de hoje e, como tal, em nada melhora a carreira profissional do gestor. A única forma de ultrapassar estes dilemas é atraindo gestores conscientes, gestores cidadãos, gestores que, quando tomam uma decisão, se preocupam com a opinião dos seus filhos e das gerações seguintes, face a essa resolução.
Por muitas regras e directivas que existam, o Homem, se não tiver um sentido ético e, idealmente, uma ética virtuosa, será sempre tentado a actuar no seu exclusivo e próprio interesse de curto prazo.
Assim, é necessário cultivar o ensino da ética dos negócios, das teorias de gestão humanista e da gestão do risco. Apesar de todas estas questões estarem relacionados, ainda não é uma realidade evidente. Apenas se torna claro quando um escândalo destes acontece. E, não sendo primeiro, não será, decerto, o último. E, entretanto, muitos accionistas serão apanhados em escândalos semelhantes e irão perder mais alguns mil milhões de euros. Mas essas perdas devem fazer parte do valor esperado de retorno pois, afinal, são os próprios accionistas que pressionam ao lucro de curto prazo, por considerarem que o longo prazo é longínquo demais. Acontece que hoje, as coisas acontecem mais depressa e o longo prazo chega bem mais cedo.
CEO da Systemic
O que o software da VW faz nos modelos c/ motores de 4 cilindros 2.0 TDI é apresentar dados de NOx nos testes mais baixos do que o real quando o carro rola na estrada. Não de CO2. Por motivos vários a redução dos NOx implica um aumento do consumo e da emissão de CO2. Os Diesel gastam menos e emitem menos CO2 que os veículos a gasolina mas emitem muito mais NOx que é muito prejudicial p/ a saude. Por isso as emissões de NOx têm vindo a ser muito limitadas, sendo que nos EUA já o eram há muito tempo (neste momento são metada das europeias). Dado o acima exposto maior parte dos construtores tem que ter equipamentos que embora aumentem ligeiramente o CO2 e o consumo reduzem o NOx. Este trade-off compensa dado os Diesel mesmo assim emitirem muito menos CO2 e consumirem menos que os gasolinas.
Comentários estão fechados.