A vida contemporânea, em especial nos negócios, é muito exigente, dramática, insegura. A cada momento sentimo-nos debaixo de pressão, mergulhados em incerteza, carregados de angústia. Por isso, para ir à luta quotidiana, todos precisamos de uma base sólida, de uma referência segura, de um apoio revigorante
POR JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Onde está, realmente, a minha confiança? Qual é o fator nuclear e decisivo que me permite levantar da cama com resolução, andar na rua de cabeça levantada, decidir a vida, o trabalho, os negócios com serenidade?

Será a aptidão e competência? Charme ou fama? O capital e o rendimento? A confiança do chefe? Família e amigos? Solidez da empresa? Qualidade do produto? Tradição e valores? Ou será antes o amor pessoal de Deus, Senhor do universo, que chegou ao ponto de atravessar os céus para viver e entregar-se por mim?

Dizendo-me cristão, sei que o primeiro mandamento é «amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças.» (cf. Mc 12, 29-31; Mt 22, 37-40 cf. Dt 6, 4-5). Isso não deixa espaço para mais nada. Vou à missa regularmente, ouço lá coisas lindíssimas, mas que ligação tem isso com o levantar-me da cama, andar na rua, decidir negócios? Ou a minha confiança está exclusivamente colocada em Deus, ou não posso realmente dizer-me cristão.

Claro que confiar em Deus não quer dizer desprezar aptidões, riquezas, amizades ou valores. Elas são obras boas de Deus, que mas confiou como talentos para as pôr a render. Mas devo atender-lhes apenas porque, e na medida em que, são dons de Deus. Isso significa que, se nelas existir algo de vicioso e distorcido, têm de ser descartadas, por muito importantes que pareçam. E, mesmo quando legítimas, nunca podem perder a transparência que permite ver, detrás delas, o poder do Senhor que lhes dá existência e benefício. Pois, realmente, eu sei que todas essas coisas, mesmo as mais magníficas e imponentes, são frágeis, voláteis, passageiras; enquanto eu, em Deus, sou eterno.

Mesmo quando aceito e compreendendo que eu e tudo o que me rodeia está nas mãos de Deus, o peso da minha natureza leva-me a esquecê-lo a cada momento, e a deixar-me seduzir por aquilo que não existiria se não existisse n’Ele. Por isso é que, cada vez que me levanto da cama, ando na rua ou decido negócios, tenho de me relembrar d’Aquele em quem pus a minha confiança (cf. 2Tm 1, 12).

Saber que a minha vida depende, não das coisas e pessoas, mas do Senhor omnipotente, que me acompanha pessoalmente a cada momento e me segura a cada passo, constitui uma alegria incomparável. Mas isso abre a porta a um pecado ainda maior que a tibieza de quem só é fiel durante a missa. Porque a confiança em Deus não é para Ele fazer o que eu quero, mas eu fazer a Sua vontade. Se eu tomar o Senhor como instrumento para o meu interesse, o meu sucesso, o meu lucro, então faço-me patrão de Deus, uma loucura sem limites.

Nos negócios é preciso ser pragmático: o que significa realmente fazer a vontade de Deus? Significa ser pobre de espírito, manso, misericordioso, puro de coração, pacificador, com fome e sede de justiça, ser perseguido e chorar. Fazer a vontade de Deus chama-se santidade e a Igreja, além de nos dar milhares de exemplos de santos, também nos fornece os meios para isso, incluindo o melhor dos instrumentos de gestão, a Confissão.

Ter a confiança em Deus não quer dizer que tudo vá correr bem. Quer dizer que aquilo que vier, mesmo que não pareça, é bom, por ser aquilo que Deus mandou. O mundo é de Deus, o reino é de Deus, tudo é de Deus. Quando parece que sai mal, «o Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor» (Job 1, 21).

Por isso, o modelo supremo de confiança em Deus é a paixão e morte do Seu Filho; aquela que se renova em cada momento da minha vida, aquela que acontece continuamente em cima do altar que é a minha secretária ou a mesa do conselho, porque Jesus estará em agonia até ao fim dos tempos: «Não se faça a minha vontade, mas a Tua» (Mt 26, 39; Mc 14, 36; Lc 22, 42).

Economista, professor catedrático na Universidade Católica e Coordenador do Programa de Ética nos Negócios e Responsabilidade Social das Empresas

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