A escassez de talentos é uma realidade que afeta empresas de diversos setores, e em Portugal essa situação não é diferente. A dificuldade em encontrar profissionais com as competências necessárias para preencher posições chave está a criar um ambiente competitivo onde a atração e retenção de talentos se tornaram prioridades estratégicas. Este fenómeno é particularmente evidente nos setores tecnológicos, que enfrentam uma procura crescente por profissionais especializados, impulsionada pela digitalização e transformação digital. A necessidade de inovação e adaptação às novas tecnologias tem levado as empresas a intensificar a busca por talentos, tornando a competição ainda mais acirrada
POR JOSÉ FONSECA PIRES
Neste contexto, as empresas estão a adotar estratégias mais agressivas para atrair e fidelizar os seus colaboradores. Pacotes de benefícios mais robustos e personalizados, oportunidades de desenvolvimento profissional e ambientes de trabalho flexíveis são algumas das iniciativas que visam não apenas atrair novos talentos, mas também reter os já existentes. A formação de talentos é outro aspecto crucial, com um crescente estabelecimento de parcerias entre empresas e instituições de formação executiva. Esta colaboração tem como objetivo garantir que as competências dos profissionais estejam alinhadas com as necessidades do mercado, promovendo uma força de trabalho mais preparada e adaptável.
A mobilidade global de talentos também desempenha um papel significativo neste cenário. Profissionais estão cada vez mais dispostos a mudar de país em busca de melhores oportunidades, o que acentua a competição entre empresas não só a nível nacional, mas também internacional. Este movimento de talentos tem um impacto direto nos negócios, uma vez que a capacidade de atrair e reter os melhores profissionais pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma organização.
A AESE Business School realizou um estudo sobre este problema, com o objetivo de entender os fatores que levam à saída voluntária de colaboradores (atrito) e aqueles que promovem a fidelização. A amostra incluiu alumni da AESE, com 751 respostas obtidas, representando uma taxa de resposta efetiva de 9.1%. Os resultados revelaram que 39,7% dos inquiridos pensaram seriamente em deixar a sua empresa no último ano, com uma maior incidência entre mulheres e pessoas com mestrado. Este dado é alarmante, especialmente considerando que a maioria dos respondentes (97%) ocupa cargos executivos e desempenha um papel crucial na estratégia e operação das empresas. Se olharmos para os resultados entre os “jovens executivos” (40-55 anos) este número ascende a 42,3%.
Os fatores de atrito identificados foram variados, mas destacaram-se a chefia tóxica e a cultura empresarial negativa como os principais motivos que levam os colaboradores a considerar a saída. Por outro lado, os fatores que promovem a fidelização incluem uma liderança que valoriza o trabalho, a oferta de perspectivas de carreira e um ambiente de trabalho positivo. Assim, para reduzir o atrito e impulsionar a fidelização, as empresas devem investir em lideranças competentes e humanistas, promover o reconhecimento e a valorização dos colaboradores, e oferecer oportunidades de crescimento e desenvolvimento.
Em conclusão, a batalha pelo talento é um desafio que exige uma abordagem estratégica e proativa por parte das empresas. Os jovens executivos (40-55 anos), muitas vezes negligenciados nos estudos sobre talento, são fundamentais para o futuro das organizações, pois são a faixa de talento que, na maioria das empresas, constituem os decision-makers, os profissionais executivos que pensam e assumem a estratégia da empresa e que lhes marca o rumo… Ao reconhecer a importância desta faixa etária e implementar ações que promovam um ambiente de trabalho saudável e motivador, as empresas podem garantir não apenas a retenção de talentos, mas também o seu crescimento e sucesso a longo prazo. A chave para o futuro das empresas reside, portanto, em valorizar e investir nos seus talentos executivos, reconhecendo-os como o verdadeiro coração das organizações.
Responsável Académico da Área de Factor Humano na Organização e Membro da Direcção da AESE