Aplicar os últimos desenvolvimentos em psicologia e neurologia para tornar os fundraisers mais influentes e capazes de captar recursos é o mote do livro “The Infuential Fundraiser”, que mostra, passo-a-passo, como conquistar a confiança e utilizar as técnicas e skills que garantem a construção de relações bem sucedidas com os doadores. O seu autor, Bernard Ross, veio a Lisboa entusiasmar uma plateia de 270 participantes, no Seminário de Fundraising da Call to Action, com a sua poderosa fórmula dos 5 P’s: Paixão, Proposta, Preparação, Persuasão e Persistência. Desafio? Não chegar a ouvir um ‘não’
POR GABRIELA COSTA

© Call to Action

Bernard Ross e Segal Clare, dois especialistas de renome internacional na área da captação de fundos por organizações sem fins lucrativos, escreveram um manual para o fundraiser influente, a partir da sua experiência prática e da mais recente investigação psicológica e neurológica.

The Infuential Fundraiser” oferece um conjunto de abordagens que, face às novas exigências dos doadores em receber propostas cada vez mais personalizadas sobre as causas a apoiar, permite ajudar os fundraisers a utilizar argumentos criativos e ‘à medida’, para uma angariação de fundos mais bem sucedida. Para os dois autores, a tendência para envio de propostas à distância, quase sempre via e-mail e com mensagens “desinspiradas” ou utilizando campanhas directas, por um lado, e os pedidos enunciados em jantares de angariação “maçadores”, por outro, constituem abordagens condenadas ao insucesso.

Conquistar a confiança e aprender as habilidades e técnicas necessárias para ser um fundraiser capaz de consolidar relacionamentos bem sucedidos e aumentar substancialmente os montantes de financiamento dos projectos é, pois, algo que se constrói, passo-a-passo, com abordagens presenciais a cada potencial doador.

Redigido num estilo acessível e envolvente, The Influential Fundraiser fornece informação sistematizada para uma actividade de fundraising “altamente eficaz e muito flexível”. O modelo dos 5 P’s preconizado no livro – Paixão, Proposta, Preparação, Persuasão e Persistência – ajudarão fundraisers e voluntários a retirar resultados de aptidões preciosas e essenciais para o êxito da angariação de fundos, incluindo como enfrentar os desafios específicos de cada doador; como apresentar as ideias em mensagens eficazes e memoráveis; como decidir o que pode ser obtido, em cada situação particular; como construir relacionamentos com pessoas ‘difíceis’ ou ‘diferentes’; como criar impacto em grupos de grande dimensão; como lidar com respostas negativas; e, em última instância, como aprender com o fracasso.

De âmbito internacional, a obra inclui sugestões úteis para lidar com uma ampla gama de questões culturais e de diversidade. Além disso, o livro explora a importância da influência estratégica, numa abordagem mais genérica, e fornece técnicas para persuadir os quadros dirigentes a investirem nas ideias do angariador, a contratarem um advogado poderoso para defender a sua causa, e a motivar as equipas, quando os níveis de confiança são baixos.

Com este conjunto de ferramentas apresentadas em diversas abordagens, “qualquer profissional sem fins lucrativos pode transformar-se num fundraiser influente”, garantem os dois autores de The Influential Fundraiser”, publicado em Dezembro de 2008 pela Wiley.

Bernard Ross e Clare Segal são, respectivamente, director e sub-directora do Manangement Centre (MC), uma consultora especializada na formação de estratégias de valor para as organizações, sediada no Reno Unido, que integra uma rede de consultoras a nível global, criada com a missão de transformar o desempenho das organizações sem fins lucrativos.

“Os doadores têm uma preferência psicológica pelas situações de crise” – Bernard Ross, autor de “The Influential Fundraiser” .
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As áreas de especialização de Ross – pensamento estratégico, liderança, mudança, inovação e transformação organizacional – levam-no a trabalhar com equipas séniores e quadros no desenvolvimento da capacidade estratégica em diversos pontos do globo. Ross desenvolve ainda actividade enquanto formador pessoal para inúmeros CEO de grandes ONG inglesas e internacionais e é um orador regular em plataformas internacionais, como a Association of Fundraising Professionals (EUA), o Instituto de Fundraising (Reino Unido) e a Resource Alliance.

Já Clare Segal é especialista em Comunicação e formação pessoal, trabalhando com diversos líderes de ONG e outras organizações do Terceiro Sector.

Segal é co-autora de outra obra publicada por Bernard Ross, Breakthrough Thinking for Nonprofit Organizations: Creative Strategies for Extraordinary Results, que ganhou em 2004 o Prémio Terry McAdam para Melhor Livro sem fins lucrativos, nos EUA (um galardão nunca antes atribuído a qualquer outro europeu).

Investir nas relações
Como em qualquer outra relação humana, no Fundraising “as pessoas têm de estar próximas da causa”. Quem o diz é Madalena Alves Pereira, sócia-fundadora da Call to Action que recebeu, no passado dia 21 de Março, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, 270 participantes, para assistirem e participarem no 4º Seminário de Fundraising.

Já em declarações ao VER, Mariana Rebelo de Andrade, também sócia-fundadora da Call to Action, avançou que nos questionários da avaliação recolhidos, ”mais de 80% das pessoas avaliou o seminário entre Bom e Muito Bom”.

A plateia era diversa, representando diferentes áreas do Terceiro Sector (da Saúde à Educação, passando pelo sector Social, Ambiente, Cultura, Desporto ou Religião) e algumas da área empresarial. Mas para todos a mensagem ao longo do dia foi clara: face à actual conjuntura de crise profunda, há uma inevitável “perca de motivação e confiança”. Neste contexto, é fundamental “alimentar as relações (de fundraising) que temos, com retorno a prazo”. É que, “estamos todos sensíveis a causas que nos toquem o coração”, defende Madalena Alves Pereira.

Fazendo o resumo do dia, a responsável pela organização do evento sublinhou que, entre as principais conclusões do debate, é de destacar a perspectiva de “ser um bom fundraiser “ e de descobrir “como ser sempre melhor”. E porque “a sustentabilidade não é automática”, há que não descurar a importância da marca, até adquirir notoriedade. Processo que “requer paciência e dedicação”, mais para umas do que para outras organizações, comenta.

Igualmente importante (ou talvez até mais, nesta ‘altura do campeonato’), é atender às causas emocionais do doador, estudando-as tão bem quanto possível: “temos de conhecer o doadores e ‘pescá-los’ quase um a um”, conclui. Este conhecimento permitirá, por um lado, crescer  diversificar a carteira de doadores, impedindo a dependência de fundos e, por outro, fazer uma gestão integrada da actividade de fundraising, recorrendo a técnicas de proximidade, cada vez mais necessárias para convencer os doadores, como a comunicação personalizada (através de telefonemas individualizados, e não realizados por um call center, por exemplo).

Esta atenção ao doador é defendida veemente por Bernard Ross, um dos key-note speakers convidados pela Call to Action para vir a Portugal apresentar o modelo preconizado no seu livro, “The Influential Fundraiser”.

Com humor e ironia, Ross começou por fazer um parêntesis: seja em que actividade fôr, as pessoas têm de ter paixão por si próprias, para criar algo para os outros”. Dito isto, em clima de depressão (económica mas, principalmente, a nível afectivo), “há que continuar a ser apaixonado” e partir dessa “âncora” para captar a motivação dos doadores”.

Uma vez motivados (o que pode ser conseguido através de quase três dezenas de técnicas distintas, garante), a tónica tem de centrar-se nos interesses dos doadores e nas suas escolhas pelas causas filantrópicas, diz Ross.

O modo como se questionam os potenciais doadores é determinante, alerta, até porque independentemente da pergunta só há dois tipos de resposta: as positivas e as negativas.  Portanto, há que preparar abordagens eficazes.

Segundo a experiência de Ross, as conjunturas de risco muito negativas (como os vinte mil milhões de vítimas do HIV/SIDA, na África subsaariana, exemplifica), constituem fortes motivações para a mobilização de fundos. O apelo a um futuro mais positivo para tanta gente, é o mote para a angariação, diz.

Por outro lado, as causas imediatas, como a catástrofe no Haiti, mobilizam também em larga escala, pois os doadores “têm uma preferência psicológica pelas situações de crise”, conclui. Neste contexto, os fundraisers devem saber adaptar as suas propostas a esta tendência.

E quando se pede, há que saber pedir. Para Ross nunca se deve partir apenas de um única opção de montantes financeiros, mas de três: quanto o fundraiser quer, quanto precisa efectivamente, e quanto pode obter.

Uma das melhores formas de envolver os doadores é “questionando-os e mostrando interesse por projectos que já antes tenha financiado”, assegura, já que esta abordagem lhes permite “contar as suas histórias e fornecer-nos informação que vamos precisar”. Ao mesmo tempo, “é preciso escolher as fantasias para as quais queremos transportar as pessoas”, conclui.

E, se mesmo assim a resposta for não, saiba-se que existem nove formas distintas de resistência ao financiamento de uma causa social: o ‘Não para isto (para esta causa ou projecto); o ‘Não para si’; o ‘Não eu’ (mas outro); o  ‘Não, a não ser que’ (se negoceie uma contrapartida); o ‘Não desta maneira’ (mas de outra); o ‘Não agora’ (mas mais tarde); o ‘Não, é demais’ (mas talvez sim, se for menos); o ‘Não, é de menos’ (caso de Bill Gates que não quer colaborar na erradicação do HIV/SIDA, mas ser o homem que erradica o vírus no mundo); e, finalmente, o ‘Não vá-se embora’. Neste último caso, “é mesmo melhor ir”, brinca. Nem que seja para voltar mais tarde.

Fundraiser Inteligente num só dia
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© DR
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Os potenciais interessados em obter experiência prática ao nível das aptidões capacidades e técnicas descritas no livro “The Influential Fundraiser”, podem fazê-lo num só dia, participando no curso de formação com o mesmo nome, um programa liderado por Bernard Ross. Já para ter a oportunidade de formar rapidamente toda uma equipa de trabalho com base nas ideias e pressupostos defendidos nesta obra, o especialista em pensamento estratégico, liderança, mudança, inovação e transformação organizacional propõe uma sessão de formação intensa, ao longo de dois dias, dirigida pelo próprio ou um dos seus colegas credenciados do Management Centre (MC).

Esta consultora internacional especializada na formação de estratégias de valor para as organizações disponibiliza ainda sessões de coaching com Clare Segal ou outros especialistas do MC, dirigidas a quem pretenda situações de retorno mais elevadas e/ou personalizadas. Estas sessões são ministradas na sede do MC, no Reino Unido, ou directamente no local de trabalho dos formandos, deslocando-se para o efeito a equipa do MC ao seu país de origem.

O coaching é especialmente útil para preparar reuniões one-to-one com os major donors; preparar discursos para conferências; trabalhar sobre a forma de gerir uma reunião difícil; elaborar mensagens para uma visão inovadora do fundraising.

Entre as opções de formação na empresa, destaque para os módulos:

Para mais informações, visite www.managementcentre.co.uk/isf

Jornalista