POR MÁRIO PARRA DA SILVA
No passado dia 22 de Janeiro comemorámos o 15º Aniversário do Global Compact das Nações Unidas em Portugal, distinguindo as organizações fundadoras que aderiram aos 10 Princípios em 2004 e que se mantêm ininterruptamente comprometidas com a iniciativa. Na mesma ocasião assinalámos o 3º Aniversário da Aliança ODS Portugal, que, por iniciativa da rede do Global Compact em Portugal, se constitui como uma parceria para a concretização dos objectivos globais da Agenda 2030, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Setembro de 2015.
Neste período, foi evidente a adopção da Agenda 2030, dos seus 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e das respectivas 169 metas como guia de políticas e acções a todos os níveis e em todo o tipo de organizações e instituições. Não poderia deixar de ser assim, já que uma das mais emblemáticas mensagens da Agenda 2030 é “que ninguém fique para trás”.
Há, no entanto, pelo menos duas dimensões em que temos de trabalhar com urgência para obter resultados.
A primeira é a incorporação da Agenda e dos ODS nas estratégias das Empresas e da Economia em geral.
Se nas grandes empresas globais (onde se incluem as grandes empresas portuguesas) há trabalho concreto neste domínio, para a generalidade das organizações empresariais e PMEs esta continua a ser terra incógnita. Para muitos dirigentes empresariais a Agenda 2030 é vista como uma acção de propaganda dirigida aos países menos desenvolvidos para gerar negócios de ONGs. É um sério erro. Na realidade, a sensibilidade das opiniões públicas do hemisfério norte apurou-se e converteu-se em opções de compra que nenhuma empresa deve ignorar, porque contêm as grandes oportunidades de inovação e negócios futuros.
Mas será também um sério erro ignorar que contribuir para a resolução dos problemas globais evitará a degradação do ambiente de negócios. Todos reconhecerão que essa degradação se converte sempre em acréscimo de custo, aumento de impostos e mesmo o desaparecimento da possibilidade de operar e o encerramento.
O desafio que a Agenda coloca é o de tratar os Objectivos Globais com Negócios Locais. Temos de assumir definitivamente a visão positiva de “negócio” como actividade, como ocupação (negação do ócio), que responde a necessidades oferecendo soluções. E, portanto, estimular a inovação e o empreendedorismo alinhados com a Agenda e as suas metas.
[quote_center]Acredito que a Agenda 2030, ao criar um programa global para a Humanidade, criou também a maior oportunidade de negócio da História[/quote_center]
Para citar apenas dois exemplos: quantos negócios poderão prosperar à volta da mitigação das alterações climáticas? Que estamos perante uma necessidade global não há dúvidas, que é um negócio para dezenas de anos, infelizmente, também não há duvidas.
E na Economia Circular? Alguém não está consciente da limitação crescente da extracção de recursos naturais? Alguém ainda não compreendeu que a linha produzir-consumir-destruir tem de ser alterada para um ciclo que recupere, reutilize e reaproveite recursos escassos? E quantos novos negócios e formas diferentes de fazer negócios são precisos para responder a esta necessidade global?
Acredito que a Agenda 2030, ao criar um programa global para a Humanidade, criou também a maior oportunidade de negócio da História.
A segunda é a resposta às questões sociais que emergem desta nova economia. Como sequela das transformações nas organizações, da circulação da informação, da incorporação de robots, da inteligência artificial, do comércio online, das redes sociais e da melhoria global da saúde, novas vagas de pessoas aspiram a uma vida melhor que agora sabem que existe em algumas partes do mundo e que querem também para si e para os seus filhos. Novas vagas de deserdados da fortuna estarão dispostos a grandes sacrifícios para viverem livres da guerra, da fome e da exclusão.
Eliminar a pobreza e a fome, bem como alcançar a paz em todo o lado, deixaram de ser objectivos apenas dos governantes para se tornarem em Objectivos Globais. O que significa que são também objectivos das organizações empresariais e objectivos dos negócios. Já não está em causa ganhar dinheiro no curto prazo para o próximo relatório à Bolsa. Está em causa garantir a estabilidade e a continuidade do nosso modo de vida, porque, até ver, é o melhor que conhecemos. Por isso, o futuro será exportar desenvolvimento, disseminar cultura e competências, construir alianças e parcerias, descobrir semelhanças mas estimar o diferente, admirar a diversidade das comunidades humanas, mas garantir espaços de respeito e possibilidade de vida e afirmação a todos.
Será seguramente mais fácil a dimensão técnica do que a dimensão humana e cultural da Agenda 2030.
Por isso, cabe uma especial responsabilidade a todas as organizações globais na disseminação da mensagem e na mobilização das vontades. A começar, como é natural, pelas organizações das Nações Unidas que responderam com vigor ao apelo da Assembleia Geral, lideradas por um Secretário-geral de formação técnica, económica, mas, acima de tudo, humanista como é António Guterres.
Outras grandes organizações, onde se inclui a Igreja Católica e a voz imensa do Papa Francisco, têm incansavelmente chamado as pessoas à “construção do mundo que queremos”, onde a Economia e a Política estejam ao serviço da Humanidade e do seu Ecossistema, garantindo às Gerações Futuras a possibilidade de usufruir, no mínimo, do mesmo que nós usufruímos. Afinal, é a grande mensagem do Desenvolvimento Sustentável e de uma Ética de Responsabilidade que nos deve orientar a todos.
Presidente da Global Compact Network Portugal; Presidente da Aliança ODS Portugal