A actuar na promoção da cidadania empresarial há treze anos, o GRACE é hoje “um pólo dinamizador de partilha de conhecimentos e aptidões em competências que tantos benefícios trazem para as empresas”. Numa entrevista em que defende o potencial da Responsabilidade Social Corporativa “num momento crítico para a economia em geral”, a nova presidente da direcção do GRACE, Paula Guimarães, diz que o caminho é apostar em “projectos inovadores que sirvam as empresas e a comunidade”
POR GABRIELA COSTA

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A nova Direcção do GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial tomou posse em Janeiro de 2013, ficando a presidência a cargo do Montepio, representado por Paula Guimarães. Segundo a também líder da área de RSE desta instituição bancária, a nova direcção está já a dar continuidade ao “trabalho ambicioso que herdou, procurando implementar projectos inovadores que sirvam as empresas associadas e a comunidade”.

O GRACE promove há já 13 anos a participação da sua rede de empresas associadas no contexto social onde se inserem, com vista à criação de parcerias para o desenvolvimento de iniciativas de cidadania empresarial.  Hojeassume-se, cada vez mais, como um espaço de intervenção em várias áreas que permitem o desenvolvimento de iniciativas com impacto social”.

Numa Grande Entrevista ao VER, Paula Guimarães defende que é cada vez mais estratégico para as empresas pertencerem ao GRACE, um “pólo dinamizador de partilha de conhecimentos, capacidades e aptidões em competências que tantos benefícios trazem para todo o contexto empresarial”.

Analisando o actual contexto para o tecido empresarial, a presidente da direcção do GRACE afirma que, em tempos de adversidade, “a Responsabilidade Social ganha um destaque premente, já que as empresas têm cada vez maior consciência de que a sua relação ética com o meio envolvente, bem como a coesão social, interna e externa, são cruciais”.

Para Paula Guimarães, actualmente, ser socialmente responsável “é aprender a estar atento aos colaboradores, fornecedores e clientes e às suas necessidades, e fazê-lo mantendo uma conduta séria, comprometida e positiva”. Nada que se consiga sem trabalhar, de forma sustentada, em “relações de parceria baseadas na continuidade”.

E se o voluntariado é “a manifestação mais evidente dessa conjugação de empenhos” em prol do desenvolvimento social das pessoas e das organizações, na área da Investigação é igualmente possível colher os frutos de parcerias sólidas, como sucede com a reflexão sobre Responsabilidade Social Corporativa que o GRACE irá publicar no final de Maio, um estudo pioneiro, já que “reúne pela primeira vez o contributo das principais empresas na área da consultoria”.

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Paula Guimarães, presidente da
Direcção do GRACE

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O GRACE promove há 13 anos a participação da sua rede de empresas associadas no contexto social onde se inserem, com vista à criação de parcerias para iniciativas de cidadania empresarial. Como se posiciona hoje este Grupo que integra quase cem empresas?
O GRACE assume-se, cada vez mais, como um espaço de intervenção em várias áreas que permitem o desenvolvimento de iniciativas empresariais com impacto social. Sentimos pelos nossos associados que, para as empresas, pertencerem ao GRACE é cada vez mais estratégico, já que é um “pólo” dinamizador de partilha de conhecimentos, capacidades e aptidões em competências que tantos benefícios trazem para todo o contexto empresarial.

Em que medida vem a vossa intervenção no domínio da RS reflectindo a evolução de Portugal no que concerne o reconhecimento desta como factor diferenciador para a gestão sustentável das empresas e das organizações sociais?
Neste contexto de adversidade, a Responsabilidade Social ganha um destaque premente, já que as empresas têm cada vez maior consciência de que a sua relação ética com o meio envolvente bem como a coesão social, interna e externa, são cruciais.

Actualmente, ser socialmente responsável é aprender a estar atento aos colaboradores, fornecedores e clientes e às suas necessidades, e fazê-lo mantendo uma conduta séria, comprometida e positiva.

Face aos grandes desafios que se colocam às áreas da RS Empresarial e da Sustentabilidade, com que estratégias e perspectivas para o biénio 2013/14 arranca a nova direcção do GRACE, a que preside desde o início do ano?
A nova direcção está a dar continuidade ao projecto de trabalho ambicioso que herdou, honrando as parcerias existentes e procurando implementar projectos inovadores que sirvam as empresas associadas e a comunidade.

Para o novo biénio, destaco o lançamento de um estudo sobre Responsabilidade Social, a publicação do Guia para a Promoção do Envelhecimento Activo e a cerimónia de entrega do Prémio GRACE de Investigação em Responsabilidade Social Empresarial.

Em termos estruturais, a Direcção do GRACE organiza-se através de um conjunto de Grupos de Trabalho (da angariação, às parcerias e projectos nacionais e internacionais), com vista a uma articulação eficiente com os diferentes stakeholders. Que importância tem esta relação estratégica com os parceiros para o sucesso de uma organização?
O GRACE tem vindo a fortificar a sua relação com parceiros nacionais e internacionais. Temos consciência de que todos os projectos que desenvolvemos e que estamos a preparar não seriam possíveis sem essas relações de parceria baseadas na continuidade. A nível nacional, temos o caso da Entrajuda, do ACIDI e da Liga Portuguesa contra o Cancro, sendo também de realçar a importância das parcerias internacionais como o BITC (Business In The Community), o Instituto Ethos e o CSR Europe.

Que impacto social têm os inúmeros projectos regulares do GRACE, no âmbito das vossas áreas de actuação prioritárias, desde as publicações especializadas em educação ou inclusão social, às acções de voluntariado, passando por projectos de promoção, empreendedorismo, encontros temáticos em áreas chave da RS, campanhas de sensibilização e prémios de investigação?
O GRACE interage diariamente com as largas dezenas de empresas suas associadas com a missão de aprofundar o papel das empresas no desenvolvimento social das pessoas e das organizações.

O voluntariado é a manifestação mais evidente desta conjugação de empenhos. Em doze anos de actividade, foi possível levar a cabo mais de oitenta acções de voluntariado com mais de 3700 colaboradores, e que tiveram impacto real em mais de quinze mil beneficiários.

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Na área do voluntariado empresarial, o GIRO é o maior evento que se realiza em Portugal. Que balanço faz desta iniciativa e que áreas de intervenção destaca?
O GIRO é o maior projecto que o GRACE realiza desde 2006 e pretende, sobretudo, lançar as sementes nas empresas e nos seus colaboradores, para que desenvolvam programas contínuos e incrementem o voluntariado na estratégia global da RSC.

Com o crescente aumento do número de associados que, cada vez mais, querem dar resposta a essa estratégia e aos mais variados pedidos das entidades do Terceiro Sector, o GRACE pautou por satisfazer as necessidades das entidades, de acordo com o apoio voluntário e monetário de cada associado. No final de cada edição, o balanço, por parte das entidades e dos próprios voluntários, é bastante positivo.

Inicialmente, o GRACE centrava-se em ações de remodelação de espaços de IPSS, mas tem vindo a alargar as suas áreas de actuação, dando assim resposta às questões ambientais, defesa dos animais e apoio a pessoas sem-abrigo, portadoras de deficiência e hospitalizadas, entre outras.

Como funciona o protocolo que estabeleceram com a ENTRAJUDA, com vista à rentabilização de recursos e experiências a nível de voluntariado?
O protocolo estabelecido tem como principal objectivo um trabalho conjunto de desenvolvimento da Bolsa de Voluntariadojá existente, oferecendo uma resposta adaptada às necessidades do Terceiro Sector e das empresas, nomeadamente com identificação de IPSS certificadas pela ENTRAJUDA e alerta do GRACE para despoletar o já habitual acompanhamento na preparação da acção de voluntariado, desde o seu pedido até ao dia da execução.

Para além de workshops dirigidos a instituições e empresas, também actuamos como simplificadores entre os associados e as campanhas promovidas pela ENTRAJUDA, como o Banco de Bens Doados. Neste sentido, os associados do GRACE poderão, através da plataforma online, dar a conhecer os recursos que têm disponíveis, e que consigam dar resposta às necessidades das entidades do Terceiro Sector inscritas. Esta plataforma cria assim um espaço único entre voluntários, empresas e entidades do Terceiro Sector.

A Comunicação é outra área de actuação prioritária para o GRACE, que reforçou recentemente a sua imagem e os canais de ligação a associados, empresas e público em geral. Que resultados esperam desta estratégia e quais são as vantagens da criação do Selo GRACE para a Responsabilidade Social?
O GRACE atingiu uma dimensão e uma dinâmica que exigiram uma renovação da nossa imagem. A ideia foi não só modernizá-la, mas também criar um logótipo que transmitisse de uma forma mais adequada este nosso posicionamento.

“Estava em falta um estudo agregador do conjunto de investigações em RSC”, como a publicação que o GRACE lançará em Maio .
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Aproveitámos o lançamento da nova imagem para rever todos os suportes gráficos e digitais. Assim, no ano passado, reformulámos a Newsletter, apresentámos um novo site, mais dinâmico e interactivo, e reforçámos a dinâmica da página do GRACE no Facebook. Os resultados mostram-nos que estas mudanças têm aproximado os associados e o público em geral.

O selo GRACE pode ser utilizado por todos os associados na sua comunicação e revela que aquela empresa, como associada de um grupo de reflexão sobre cidadania empresarial, tem preocupações  ao nível da Responsabilidade Social Empresarial.

O GRACE está a desenvolver uma reflexão sobre Responsabilidade Social Corporativa, que agregará um conjunto de estudos, com foco nos quatro pilares da RSC. Como é que estão a dinamizar esse trabalho e que nova visão trará esta publicação?
A publicação “Olhar para o futuro – Uma nova reflexão sobre Responsabilidade Social Corporativa”, que será lançada a 29 de Maio, tem como objectivo dar uma imagem actualizada do estado da RSC, não só através da análise de diversos estudos já existentes, de entidades especialistas na matéria, como pela análise de casos práticos de sucesso.

Estava em falta um estudo agregador desse conjunto de investigações e análises, aproveitando a produção teórica existente e minimizando custos, num momento crítico para o tecido empresarial e para a economia em geral. E, para isso, convidámos empresas de referência como a Accenture, Heidrick & Struggles, KPMG e PWC, e contámos também com a participação da AESE. Este estudo terá a visão destas temáticas do ponto de vista dos quatro pilares da RSC: o económico, o social, o ambiental e o cultural (pilar fundamental da RSC que não foi abordado até ao momento).

Trata-se de uma iniciativa pioneira, porque reúne pela primeira vez o contributo das principais empresas na área da consultoria.

Uma das iniciativas recentes do GRACE foi a realização do encontro “Liderança no Feminino”, assinalando o Dia Internacional da Mulher. Pela sua experiência enquanto líder, que obstáculos se colocam ainda às mulheres em Portugal para assumirem cargos de liderança empresarial? Como tem evoluído o mercado no que toca a oportunidades de conciliação das responsabilidades inerentes a esses cargos com a vida pessoal?
A plena igualdade entre os sexos existe constitucionalmente, porém, subsistem práticas e atitudes que põem em causa as aptidões e valor das mulheres nas organizações em que se inserem, como por exemplo uma certa hegemonia masculina tradicional e alguma dificuldade na compatibilização do que enfrentam diariamente. E são estas barreiras que devem ser denunciadas e combatidas. O percurso não tem sido fácil, mas há etapas vencidas e estou convicta de que assumiremos cada vez mais posições de destaque no tecido empresarial.

O objectivo do GRACE, com o encontro temático, foi precisamente alertar os responsáveis pelas empresas associadas e a comunidade em geral, que combater a desigualdade de género deve ser uma preocupação de todos e é um pressuposto de cidadania empresarial.

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O GRACE tem também desenvolvido inúmeras actividades no âmbito dos últimos Anos Europeus (Pobreza e Exclusão Social, Envelhecimento Activo, Voluntariado). O que está previsto para o Ano Europeu dos Cidadãos 2013?
No âmbito do Ano Europeu dos Cidadãos, o GRACE irá realizar, como habitualmente, a Acção de Voluntariado em Família e o GIRO. Como nova acção, o GRACE prevê realizar uma sessão de formação administrada por colaboradores das Sociedades de Advogados a entidades do Terceiro Sector, sob o tema dos Direitos Europeus.

Uma das iniciativas que está sob o “chapéu” do Ano Europeu dos Cidadãos é o Projecto Mentores ENGAGE.  Gerido por uma parceria entre o GRACE e o ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural), pretende criar em Portugal uma experiência de encontro e entreajuda entre cidadãos portugueses e imigrantes, promovendo, ainda, o voluntariado e a Responsabilidade Social Corporativa. O objectivo é criar uma bolsa de mentores (voluntários das empresas) que disponibilizem apoio, acompanhamento e orientação para a resolução de dificuldades ou preocupações dos imigrantes, com vista à sua integração. Este projecto é co-financiado pelo Fundo Europeu para a Integração de Nacionais de Países Terceiros.

O Prémio GRACE de Investigação em RSE distingue o melhor projecto de investigação académica na área, com aplicabilidade no meio empresarial português. Que balanço faz desta 2ª edição que reuniu 11 candidaturas elegíveis e cujo vencedor será conhecido brevemente?
Este projecto, que conta com o patrocínio da FLAD e o apoio da United Airlines, recebeu nesta 2ª edição candidaturas com projectos de investigação muito interessantes e pertinentes. A missão do júri não está a ser fácil, mas estou convicta de que o vencedor, que será conhecido em Maio, aproveitará ao máximo a sua experiência nos EUA, numa associação congénere do GRACE.

O manual “Economia Verde 2020”, publicado em Dezembro último, assume-se como uma referência nesta matéria, a partir dos contributos de um conjunto de peritos. Que valor tem esta publicação para o meio empresarial?
O GRACE tem o maior orgulho nesta iniciativa. É um manual que reúne o conhecimento e a visão de vinte especialistas da área ambiental, pilar também fundamental da Responsabilidade Social Corporativa. Trata-se de um conjunto de pistas de reflexão, cujo objectivo é identificar os principais desafios e oportunidades que as empresas e o país enfrentarão.

O GRACE fez-se representar em 2012 na Cimeira Rio + 20. Que leitura faz da aprovação da declaração ‘O Futuro que Nós Queremos’, por unanimidade, naquela que foi a maior conferência das Nações Unidas de sempre?
A declaração “O Futuro que nós queremos” é um reflexo do Mundo em pleno século XXI, muito diferente do da Cimeira da Terra em 1992. Na altura, predominavam os países do “Norte”, como os EUA e a Europa. Agora, a situação geopolítica mudou.

“Todos os projectos que desenvolvemos não seriam possíveis sem relações de parceria baseadas na continuidade” .
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Se, por um lado, os países emergentes (em particular, China, Índia e Brasil) recusam continuar a seguir os “ditames” dos países ricos, por outro recusam prescindir do estatuto especial que lhes permite ir sacrificando muitos aspectos do desenvolvimento sustentável em prol de um chamado desenvolvimento económico. É daqui que resulta o facto de a declaração que saiu da maior conferência da ONU alguma vez realizada ter sido aprovada ao nível técnico e não ao nível dos mais de 150 Chefes de Estado que se fizeram representar.

É uma declaração pouco ambiciosa, que dificilmente terá o impacto que tiveram os documentos aprovados vinte anos antes. Ressalva-se, talvez, o lançamento do processo para a definição dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, que podem vir a ser algo de extraordinário, mas também uma desilusão. Estes objectivos, a adoptar até 2015, substituem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. O sucesso (ou não) da implementação destes será, certamente, um bom prognóstico da importância dos objectivos de desenvolvimento sustentável.

O GRACE valoriza desde sempre a área do ambiente. De que modo estão as empresas e a sociedade civil a evoluir face a um imprescindível compromisso efectivo com o Clima, através de iniciativas de desenvolvimento sustentável?
É inegável que, cada vez mais, as empresas e as pessoas se sentem preparadas, responsabilizadas e motivadas para proteger o ambiente. Nem sempre é fácil, mas tem que ser claro para todos que proteger o ambiente não significa não interferir. Significa fazer mais com menos, isto é, eficiência e poupança.

Até hoje, os recursos ambientais foram sempre dados, nunca se lhes atribui um custo e como as pessoas tendem a só reagir bem aos custos, nunca houve o cuidado de poupar. Agora, em parte pela cada vez maior escassez de recursos ambientais, passou a ser necessário atribuir-lhes um valor, que se traduz em dinheiro ou em pressão social. É por isso que o caminho rumo à eficiência na utilização dos bens ambientais é inexorável. Dela depende a nossa sobrevivência. E a necessidade de sobrevivência é ainda um outro estímulo a que as pessoas e empresas reagem bem!

Jornalista