Trabalho há mais de 15 anos na área de alterações climáticas, contudo a minha mota ainda é uma 1.100 cc que consome mais do que um pequeno utilitário. Nem sempre me lembro de apagar as luzes de casa, viajo bastante de avião e como frequentemente carne. No entanto, há um ponto em que não sou hipócrita. Acredito que tenho um papel nesta sociedade que passa por transformar o meu conhecimento em estratégias e ações que levem a que cada vez mais pessoas sejam um bocadinho menos hipócritas todos os dias
POR LUIS COSTA
Como hipócrita que sou tento esconder a minha falta de capacidade ou vontade de mudar por trás de algumas boas ações que pratico no dia a dia. Reciclo, faço compostagem, investi em revestimento e janelas para a minha casa ser mais eficiente do ponto de vista térmico, aqueço a água que consumo com painéis solares e também gero parte da energia elétrica que gasto.
Mas há algo em que eu não sou hipócrita. Eu entendo que “o caminho se faz caminhando” e que o mais importante é ter consciência do impacto que individualmente tenho na sociedade. De uma forma simplista, o meu impacto direto é de 1 em 10.000.000 se nos referirmos a Portugal, ou 1 em 9.000.000.000 se a referência for o planeta Terra. Importante, mas não absolutamente relevante.
No entanto, se considerarmos a forma como posso exercer a minha profissão e influenciar pessoas, empresas e governos a traçar um caminho que esteja em linha com o que o famoso acordo de Paris preconiza, a história é bem diferente. Objetivamente, conseguir influenciar a nossa forma de viver, com o objetivo de que o nosso mundo não ultrapasse 1.5ºC (vá, 2ºC no máximo, só para o nome da minha empresa se manter atual).
Neste ponto não sou hipócrita. Acredito que tenho um papel nesta sociedade que passa por transformar o meu conhecimento em estratégias e ações que levem a que cada vez mais pessoas sejam um bocadinho menos hipócritas todos os dias.
O mesmo se pode dizer de todos os líderes que vão participar na COP 27 (na qual estarei presente). Acredito que podem seguir dois caminhos: a) transformar estas reuniões em eventos com a escala de uns jogos olímpicos, com o espírito dos mesmos (onde todos os participantes tentam obter o melhor resultado possível para o seu país, mas sempre num espírito de bem comum) ou b) transformar estes eventos numa espécie de WWE (World Wrestling Entertainment), onde na verdade se monta um ótimo espetáculo para ver os lutadores principais a baterem nos secundários, mas onde à partida já se sabe qual vai ser o resultado final.
Neste momento penso que ambas as opções ainda estão em aberto. Se a COP não perder imediatamente o rótulo que a Greta Thunberg já lhe colocou (“Greenwashing”), poderemos passar a ter num futuro próximo um evento bastante caro com uma produção espetacular, mas que passará a ser unicamente uma feira de vaidades para alguns.
É fundamental tornarmos rapidamente a COP no próximo evento de interesse global. Como? Em duas palavras: ambição e compromisso. A fórmula mágica para recolocar o nosso planeta no caminho entre 1.5 e 2ºC.
Para que tal aconteça, todos os países devem apresentar as suas NDC (Contribuições Nacionais Determinadas) onde se espelhem políticas e medidas que se traduzam numa redução de emissões globais anuais superiores a 7% ao ano.
Em alternativa, para o ano compramos um saco grande de pipocas e continuamos a regozijar-nos com a nossa hipocrisia.
Partner Get2C
Luis Costa
Partner da Get2C
Sou advogado e/ou jornalista português, tenho 8 séculos de idade e sou hipócrita!! – E, no âmbito de Valores, Ética e Responsabilidade a nossa Fundação Geolíngua está a desenvolver uma minuciosa investigação profissional, nestes dois “profissionais” desde 1992, com destaque ao que aconteceu no hotel Sheraton de Lisboa em 2004 (local onde a nossa Fundação nasceu e possuía a sua sede) e no que aconteceu com a efeméride 8 Séculos da língua portuguesa, apresentada na Assembleia da República em 2012. – A intenção é “separar o joio do trigo” entre os dois citados. Entretanto, desde 2004 só tenho encontrado o joio, infelizmente.
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