Já “ninguém precisa que sejam os governos a impor ou a demonstrar que a economia verde é o futuro”. Agora são as empresas que “exigem que as estratégias de desenvolvimento dos países sigam o princípio da eficiência no consumo de todos os recursos”. No âmbito da sua vocação para a cidadania empresarial, o GRACE reforçou a presença portuguesa na Cimeira RIO+20, comprovando que as organizações estão mais conscientes do papel diferenciador da RS para o seu sucesso, como nos dizem, em entrevista, a presidente do Grupo, Conceição Zagalo e o especialista climático, Gonçalo Cavalheiro O GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial assinala em 2012 doze anos de actuação em prol de uma cidadania empresarial promotora da Responsabilidade Social, como factor diferenciador do desenvolvimento sustentável das organizações sociais e das empresas. Fazendo o balanço da actividade desenvolvida por esta associação sem fins lucrativos nesta última década, Conceição Zagalo sublinha ao VER que, se existe ainda (e sempre) um longo caminho a percorrer nesta matéria, também já muito foi feito em Portugal, e “com muita seriedade”. Defendendo que o GRACE é disso “um bom paradigma”, a sua presidente congratula-se com a crescente consciência, quer individual quer colectiva, e o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nas áreas social, ambiental e económica, crucial para o sucesso das organizações.
O GRACE tem por missão reflectir, promover e desenvolver iniciativas de RS das empresas, dinamizando um conjunto de actividades com a sua rede de associadas há já 12 anos. Que balanço faz da actuação desta associação vocacionada para a cidadania empresarial? E se é verdade que há ainda um longo caminho a percorrer, também já muito foi feito, e com muita seriedade. O GRACE é disso um bom paradigma. No final de 2006, éramos 26 empresas, actualmente (em Agosto de 2012), o GRACE é composto por quase uma centena de organizações (96). Temos aqui um excelente exemplo de que o número de empresas a desenvolver acções de RS e a relevar esta temática tem vindo a aumentar. Acima de tudo, é de louvar a maior consciência, quer individual quer colectiva, e o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na área social, ambiental e económica, pois não duvidemos que a intervenção nestes três pilares é um factor diferenciador e crucial para o sucesso das organizações. Que importância têm, na prática, as inúmeras acções que realizam a nível social – desde o programa regular de voluntariado G.I.R.O aos projectos desenvolvidos com os vossos associados e parceiros? É bonito registarmos que a cada iniciativa desenvolvida, a união faz a força, inter e intra empresas. Falo de uma união que no final de cada acção se transforma num forte contributo que multiplica resultados. Defendeu recentemente que “nas empresas, há cada vez mais espaço e razão para partilha de conhecimentos. No actual contexto socioeconómico, como está o meio empresarial português a desenvolver esta cadeia do conhecimento que fundamenta o princípio da gestão sustentável? Por outro lado, é muito interessante registar o cada vez maior número de pessoas que, muito por via dos programas e da pedagogia que têm vindo a ser desenvolvidos nas universidades, chegam às empresas e querem continuar a partilhar conhecimentos. Fazem questão de partilhar massa cinzenta em cenários de exclusão, e é essa vontade que também está a contaminar decisores, contribuindo para que a cadeia do conhecimento não pare de crescer, mesmo num contexto socioeconómico mais difícil. O Grito de Ipiranga O especialista em matérias climáticas e membro da Direcção do GRACE, Gonçalo Cavalheiro, foi o representante deste Grupo dedicado à cidadania empresarial no evento das Nações Unidas. Em entrevista ao VER, Cavalheiro explica a importância da mobilização da sociedade civil nas questões primordiais da economia verde, e como o caminho para o crescimento sustentável depende também hoje, em grande escala, das empresas e organizaços, e não só dos governos. Até porque “não existem troikas para concederem apoio externo” ao Planeta Terra…
O que destaca da participação da participação do GRACE na Cimeira Rio+20? Se dentro da cimeira oficial propriamente dita, tínhamos stakeholders de todos os quadrantes, do ambiente à saúde, da agricultura às finanças, da economia à água, nas cimeiras da sociedade civil (como a Cúpula dos Povos) podíamos encontrar aquelas pessoas, aqueles grupos que, representando as raízes das mais distintas sociedades do mundo, se encontram normalmente excluídas das cimeiras oficiais por, nos respectivos países, se encontrarem genericamente arredadas dos círculos do poder. É neste contexto que o envolvimento especial do GRACE nos eventos fora da cimeira oficial se revestiu de uma importância especial. O GRACE pauta-se por ser uma organização empresarial com uma missão de abertura à sociedade e comunidade muito ampla. É por isso que aproveitámos esta oportunidade para perceber a oposição de muitas das organizações de base, de raiz, em particular dos países em desenvolvimento, ao conceito de economia verde, conceito esse que o GRACE apadrinha e promove. Ficámos a saber que muitas organizações temem que o conceito de economia verde venha a significar um conjunto de regras que impeça o acesso dos produtos dos países em desenvolvimento aos mercados dos países desenvolvidos. Ficámos também a saber que as empresas portuguesas, que se esforçam cada vez mais para aceder aos mercados externos, podem ter aqui um papel a desempenhar, demonstrando, pelo seu exemplo, que a eficiência no consumo de (todos) os recursos – na realidade, o princípio base da economia verde – é o caminho para o crescimento e para a sustentabilidade. Em que medida sentiu que esse receio pelos efeitos da economia verde sobre a exploração dos recursos pelas grandes corporações se estende às organizações que representam os povos indígenas brasileiros, que considerou terem uma “completa repulsa” pelo conceito? O que se pretende com o protesto contra a economia verde é chamar a atenção para a necessidade de se garantir que os serviços ambientais prestados pelos ecossistemas são pagos a quem deles trata, a quem os protege ou a quem depende deles para sobreviver. E esta é uma questão que extravasa em muito a relação países ricos – países pobres. É algo extremamente importante em qualquer país. Em Portugal, esta questão pode claramente identificar-se na relação interior-litoral. As pessoas e as empresas do interior do país têm uma relação de protecção/dependência do ambiente mais estreita do que as pessoas e empresas do litoral ou, em particular, das grandes cidades. São temas fundamentais para discutir e considerar no desenho de um futuro sustentável. Que outros temas destaca do debate realizado no RIO+20, incluindo “o papel das religiões rumo ao desenvolvimento sustentável”? As organizações religiosas não podem, por isto, deixar de ser encaradas como um parceiro fundamental nestas matérias. Com que sentimento deixou a Cimeira, depois de uma “morte anunciada” pela ausência dos principais líderes mundiais (como Obama e Merkel), do anúncio da não criação de uma agência das Nações Unidas para o ambiente, de uma Declaração Final já criticada pelos ambientalistas como sendo “vaga e sem ambição”, e depois de uma sociedade civil altamente mobilizada ter considerado que o Encontro ficou “muito aquém das expectativas”? O resultado da Cimeira do Rio+20 foi devidamente comedido pela Real Politik. Pelo menos não andámos para trás e apontaram-se algumas agendas para o futuro. Importante agora é a mobilização da sociedade civil e das empresas, em particular. Pegar no que se conseguiu e no que não se conseguiu no Rio de Janeiro e seguir em frente, rumo à economia eficiente. Que leitura faz de, apesar de a generalidade dos políticos presentes ter considerado o evento “positivo”, terem sido as empresas e a sociedade civil a dar os maiores passos, face a um compromisso efectivo com o Clima, através de iniciativas de desenvolvimento sustentável?
Esse é um dos principais resultados da Cimeira Rio+20? Face a essas conclusões, o que se perspectiva para o tecido empresarial português em termos de RSE? Com que objectivos é que o GRACE preparou e entregou a Declaração GRACE Rio+20 ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e ao Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, tendo em conta as especificidades do nosso País face à definição da estratégia nacional para uma economia verde? Quais são próximos desenvolvimentos previstos no âmbito deste “manifesto” que apela à consulta e participação das empresas e comunidades na definição dessa estratégia? Que expectativas tem o GRACE perante a possibilidade de obter evoluções positivas na implementação dos sete pontos que recomenda e insta o Governo português a adoptar, neste Documento? Temos noção que Roma e Pavia não se fizeram num dia e que, tal como na Cimeira do Rio o momento não foi o mais propício para resultados espectaculares, também este não é o momento para achar que Portugal se vai focar – apesar desse ser necessariamente o caminho – na construção de um mapa para essa estrada. Como encara o GRACE a criação de um fórum para o desenvolvimento sustentável, anunciada na ocasião por Pedro Passos Coelho?
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Jornalista