Não houve, nas décadas mais recentes, um período tão interessante e desafiador para os profissionais da gestão. As mudanças que começaram a definir-se na passagem do milénio têm vindo a ganhar uma crescente relevância e a transformar a gestão, que necessita de novas competências para responder a estes desafios. Para responder a estes desafios, é fundamental uma postura de aprendizagem contínua, porque, para um processo de decisão eficaz, é fundamental conhecimento e análise
POR RODOLFO OLIVEIRA

Não houve, nas décadas mais recentes, um período tão interessante e desafiador para os profissionais da gestão. As mudanças ao nível do negócio, tecnológicas e sociais que começaram a definir-se na passagem do milénio têm vindo a ganhar uma crescente relevância e a transformar a gestão, que necessita de novas competências para responder a estes desafios. Esta transformação é consequência, entre outros factores, de uma realidade omnipresente nos dias de hoje – a Internet, que criou um espaço novo de interacção para empresas e consumidores e tornou possíveis muitos dos cenários que hoje damos como garantidos, da mobilidade às redes sociais, ao comércio electrónico e à criação de plataformas de serviços, entre muitos outros. Com uma profunda diferença – qualquer negócio, após a criação de uma base sólida ao nível operacional e da sua cadeia de valor, pode ambicionar vender num mercado global.

Façamos uma breve resenha histórica de alguns recentes desenvolvimentos tecnológicos e de gestão e vejamos as datas em que estes termos foram cunhados, iniciando a sua caminhada para o mainstream. Os exemplos são inúmeros. Conceito fundamental e com crescente adopção por empresas em todo o mundo, o design thinking foi popularizado com o nascimento da IDEO, em 1991, que o define como um processo de inovação centrado no indivíduo e que integra as necessidades das pessoas, as possibilidades abertas pela tecnologia, e os requisitos para o sucesso das organizações.

Por seu turno, a economia da partilha, uma realidade dos dias de hoje, é um termo cunhado no início da década de 2000. A que é considerada como a primeira seed accelerator reconhecida como tal, a Y Combinator, foi lançada em 2005, e o número de projectos e iniciativas de empreendedorismo, nas diferentes fases da sua evolução, não tem parado de crescer.

O Cloud Computing, embora seja um conceito antigo da computação, foi cunhado pelo CEO da Google, Eric Schmidt, em 2006, sendo agora uma tecnologia a ter em consideração para qualquer estratégia de crescimento empresarial. O livro Blue Ocean strategy, um manual de referência de gestão, foi lançado em 2006.

A quarta revolução industrial, com a introdução de novos e revolucionários métodos de produção, foi apresentada conceptualmente pela primeira vez por um Think Tank do Governo Alemão em 2011. E, não menos importante, a digitalização da economia, englobando muitos destes conceitos, está em curso e, pela sua transversalidade, não irá deixar qualquer setor de atividade intocado.

[quote_center]Hoje qualquer negócio, após a criação de uma base sólida ao nível operacional e da sua cadeia de valor, pode ambicionar vender num mercado global[/quote_center]

Na sociedade, existem também um conjunto de mudanças comportamentais, sociais e de expectativas que estão a transformar as organizações, porque as exigências quanto ao seu comportamento mudaram radicalmente. Como exemplo óbvio, a geração Millenial que está a entrar na força de trabalho é uma geração nativa digital e que tem em consideração nas suas decisões factores anteriormente ausentes, como é o caso do propósito das organizações com que se relacionam e para as quais trabalham. Estas mudanças levam as organizações a adequar a sua estratégia e também na forma como definem o seu principal objectivo.

Tradicionalmente, a gestão estava focada no crescimento contínuo da organização e na sofisticação dos serviços e produtos fornecidos, criando valor para o accionista. Esta abordagem mais tradicional, embora na génese ainda válida, tem limitações e contribuiu para a criação de fenómenos actuais como a desigualdade, a prossecução do lucro em detrimento do benefício de colaboradores e clientes, e a pouca atenção real dada aos restantes interlocutores das organizações.

Num contexto de profunda mudança, como anteriormente caracterizado, a grande maioria dos gestores ainda enfrenta os desafios actuais com as ferramentas e os conhecimentos adquiridos anteriormente, e mesmo muitos planos curriculares e de formação ainda estão a adaptar-se e a consolidar estas novas realidades, porque muito deste conhecimento ainda está em evolução.

Para responder a estes desafios, é fundamental uma postura de aprendizagem contínua, acompanhando a evolução de muitas destas tendências ainda em fase de afirmação. Porque uma decisão baseada em opinião e não em factos, conhecimento e análise concreta é uma decisão meramente hierárquica.

Se, para muitos profissionais que apostam na formação contínua, a resposta a estas mudanças é um desafio, quem não procurou renovar os seus conhecimentos em programas de gestão, MBAs, cursos executivos ou outros, nos últimos dez anos, mesmo estando familiarizado com alguns dos conceitos anteriormente descritos, terá uma dificuldade acrescida em compreender o impacto de todas estas mudanças na sua organização.

O objetivo de qualquer gestor deve assim ser o de identificar as competências necessárias para uma gestão eficaz no futuro mas, mais importante, para as exigências de gestão dos dias de hoje.

Managing Partner da BloomCast Consulting