Estamos em plena crise da Covid-19, a doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, e estamos meio atarantados. Não só em Portugal, mas em todo o mundo. Isto é normal, mas não é motivo para entrarmos em pânico ou histeria colectiva
POR TIAGO FLEMING OUTEIRO

Os vírus são agentes infecciosos que se replicam dentro das células vivas de um organismo. São diferentes das bactérias ou parasitas, pois estes são organismos unicelulares capazes de se dividirem/replicarem, normalmente até fora das células do organismo onde se encontram.

Estima-se que existam milhões de vírus diferentes no ambiente, pelo que conhecemos apenas uma ínfima parte destes agentes, limitando a nossa capacidade de responder em casos de infecções mais generalizadas.

Os vírus contêm material genético, que é semelhante ao material genético das células que infectam, o que lhes permite utilizar a mesma maquinaria das células para se copiarem em larga escala, levando depois à morte das mesmas. Durante este processo infeccioso, manifestam-se então os sintomas característicos de cada tipo de doença, dependendo das células que os vírus infectam. No caso da Covid-19, são principalmente as células do sistema respiratório que são afectadas, o que explica os sintomas característicos que vamos agora conhecendo, à medida que o número de casos aumenta em todo o mundo.

Todos os países estão a tomar medidas no sentido de conter a epidemia, uma vez que a doença requer, em muitos casos, cuidados que não podem ser prestados de forma maciça, pois não há equipamentos disponíveis. A doença parece ser muito contagiosa, e isso assusta-nos. Mas também temos de perceber que estamos numa situação particular: somos capazes de confirmar os casos suspeitos, o que não acontece em anos “normais”, em que temos apenas o número de casos esperado de gripes e deste tipo de doenças respiratórias. Esta é daquelas situações em que o conhecimento gera algum alarmismo e, em muitos países, confusão. Mas, obviamente, é melhor termos conhecimento do que não termos, e é melhor estarmos mais preparados do que desprevenidos.

Apesar da situação preocupante, penso que devemos evitar o pânico, e temos algumas razões para isso. À cabeça, o facto de conhecermos e sermos capazes de identificar o agente causador da doença – o tal vírus SARS-CoV-2. Depois, o facto de sabermos que, apesar de ser uma medida drástica e extremamente disruptiva, podemos conter o vírus com medidas de contenção fortes. Podemos também reduzir o risco de contágio, com cuidados de higiene apertados, como lavar as mãos com frequência, evitar levar as mãos à boca, nariz, olhos, etc.

Depois sabemos que, felizmente, a maior parte das pessoas recupera da doença, e muitos nem têm sintomas fortes.

Finalmente, e como em outras áreas do conhecimento, a esperança vem da investigação. Há muitos investigadores em todo o mundo a estudarem o vírus, e temos ouvido alguns avanços importantes que podem formar a base de terapias, algumas estando já a ser testadas.

Em conclusão, é importante conhecermos este agente de dimensões tão reduzidas, reconhecer que está a afectar o mundo inteiro, mas também tendo consciência de que não devemos entrar em pânico. Devemos agir de forma firme, prevenindo o que for possível, e tratando da forma mais eficaz possível aqueles que precisarem.
Faço votos de que este deixe de ser um problema de 2020 o mais rapidamente possível.

Director do Departamento de Neurodegeneração Experimental, University Medical Center Goettingen, na Alemanha