Gerir emoções com consciência e intenção deixou de ser apenas um traço pessoal desejável — tornou-se uma competência crítica para quem quer liderar com eficácia. O novo livro de Travis Bradberry transforma a inteligência emocional num roteiro acessível e poderoso para quem quer crescer e fazer crescer os outros
POR HELENA OLIVEIRA

A inteligência emocional está longe de ser uma ideia nova, mas Travis Bradberry, co-autor do best-seller Emotional Intelligence 2.0, propõe, no seu livro recentemente lançado –  The New Emotional Intelligence  – uma actualização ambiciosa: uma versão mais prática, cientificamente sustentada e adaptada aos desafios do mundo digital e acelerado em que vivemos. Com base em novos dados de neurociência e da psicologia, Bradberry apresenta 60 estratégias específicas para melhorar o QE (Quociente Emocional) e um novo teste de auto-avaliação que ajuda os leitores a traçar um plano concreto para se tornarem emocionalmente mais inteligentes.

Mais do que um conceito abstracto, a inteligência emocional, segundo Bradberry, é uma competência mensurável e treinável que tem um impacto directo nas relações pessoais, no desempenho no trabalho, na liderança e na tomada de decisão. O autor estima que cada ponto adicional no QE representa cerca de 1.700 dólares anuais de rendimento a mais, destacando o valor económico desta competência.

O que há de novo neste livro?

A grande novidade é a abordagem actualizada, dividida em quatro áreas-chave da inteligência emocional:

  1. Autoconsciência
  2. Autogestão emocional
  3. Consciência social
  4. Gestão de relações

Cada uma destas áreas é abordada através de estratégias concretas que se baseiam em hábitos simples e neuroplasticidade: pequenas acções que, repetidas, mudam comportamentos e, com o tempo, redesenham circuitos mentais e emocionais. Bradberry enfatiza que todos sentimos mais de 400 emoções por dia e que a capacidade de reconhecer e modular essas emoções é o que distingue os bons comunicadores, gestores, líderes e parceiros dos demais.

Bradberry descreve mais de 60 estratégias práticas. Seguem-se alguns exemplos:

  • Nomear para dominar: identificar com precisão o que estamos a sentir (“frustração” não é igual a “desapontamento”). Esta consciência refinada reduz a intensidade emocional.
  • A pausa estratégica: criar espaço entre emoção e reacção. Respirar fundo antes de responder num conflito pode evitar escaladas desnecessárias.
  • Feedback emocional: observar o impacto emocional que causamos nos outros é um espelho da nossa inteligência emocional. Saber como afectamos o outro é essencial para relações saudáveis.
  • Praticar empatia activa: escutar com atenção plena, sem preparar respostas nem julgar. Bradberry sublinha que empatia não é simpatia: é compreensão sem absorver ou distorcer.
  • Redesenhar narrativas internas: as emoções são alimentadas pelo que contamos a nós mesmos. Substituir pensamentos como “não sou capaz” por “posso aprender” é uma forma eficaz de gestão emocional.
  • Auto-avaliação regular: verificar semanalmente se reagimos melhor a situações que nos desafiavam. A medição é essencial para o progresso.

O novo teste de QE

O livro inclui acesso ao Emotional Intelligence Test™, desenvolvido especificamente para esta edição, com recomendações personalizadas para cada leitor. Este novo instrumento permite identificar pontos fortes e áreas a melhorar, e oferece um plano de acção claro com base nas respostas.

Bradberry enfatiza que a inteligência emocional não é uma qualidade inata, mas uma competência que pode ser treinada como um músculo: à medida que se pratica, melhora. E, ao contrário do QI, não se estabiliza com a idade.

Como manter o QE em contextos de alta pressão

Num dos capítulos centrais, Bradberry aborda como manter a inteligência emocional em contextos de pressão, onde é mais difícil pensar com clareza ou manter a empatia.

Sugestões:

  • Reconhecer gatilhos pessoais: saber que temas, pessoas ou contextos nos desestabilizam é o primeiro passo para manter o autocontrolo. Bradberry recomenda fazer uma lista desses gatilhos e observar padrões de reacção.
  • Preparar respostas previamente: antecipar situações de conflito ou pressão e ensaiar mentalmente respostas emocionalmente inteligentes. Esta prática cria “atalhos mentais” que podem ser activados no calor do momento.
  • Desacelerar para responder melhor: a velocidade emocional raramente é aliada da eficácia. Técnicas de respiração, ancoragem (um conceito da Programação Neurolinguística , que permite associar um estado emocional específico a um estímulo, como um gesto, uma palavra ou um som) e meditação são apresentadas como recursos de desaceleração intencional.
  • Recuperação emocional: depois de um momento intenso, é fundamental ter estratégias de recuperação como exercício físico, escrever num diário, pausas conscientes e contacto com a natureza. Estas acções ajudam a restaurar o equilíbrio neuro-emocional.
  • Gestão proactiva de energia emocional: manter o QE sob pressão não se resume a reagir melhor — também implica prevenir a exaustão emocional. Bradberry recomenda proteger os momentos de descanso, estabelecer limites saudáveis e cultivar relações de apoio.
  • Visualização positiva: antes de momentos desafiantes (reuniões críticas, apresentações, negociações), visualizar o sucesso e os comportamentos desejados aumenta a probabilidade de manter o QE em alta.
  • Diálogo interno construtivo: reformular pensamentos como “isto vai correr mal” para “vou dar o meu melhor e manter a calma” ajuda a modular a resposta do cérebro emocional.
  • Treinar sob pressão simulada: Bradberry sugere simular cenários difíceis (com um colega ou coach) para desenvolver a resistência emocional num ambiente seguro.

Estas estratégias reforçam a ideia de que manter o QE em contextos exigentes não é questão de sorte ou temperamento — mas de treino, intenção e prática consciente.

Como aplicar o QE na liderança

A liderança emocionalmente inteligente é um dos pilares mais enfatizados por Bradberry ao longo da sua obra. Um líder com elevado QE não só compreende e regula as próprias emoções, como também influencia positivamente o clima emocional da equipa. O autor propõe várias práticas que traduzem a inteligência emocional em acção no exercício da liderança:

  • Inspirar pelo exemplo emocional: líderes com QE elevado sabem que o seu estado emocional afecta toda a equipa. Demonstrar calma, empatia e escuta activa em momentos de incerteza ou conflito cria confiança e segurança psicológica.
  • Promover ambientes emocionalmente seguros: quando os colaboradores sentem que podem expressar ideias, dúvidas e até falhas sem receio de represálias, o desempenho e a inovação aumentam. O líder emocionalmente inteligente encoraja essa abertura.
  • Escutar com intenção: Bradberry salienta que “escutar de verdade” é uma das habilidades mais subestimadas na liderança. Líderes eficazes escutam para compreender, e não apenas para responder. Isso melhora as decisões e fortalece relações.
  • Reconhecer emoções colectivas: um bom líder é capaz de “ler a sala”, ou seja, captar o estado emocional predominante da equipa e agir com base nisso. Pode ser um momento de sobrecarga, de frustração ou de entusiasmo que merece ser acolhido e direccionado.
  • Desarmar conflitos com empatia: conflitos são inevitáveis, mas o modo como são geridos define a saúde de uma equipa. O líder emocionalmente inteligente aborda os conflitos com empatia, foco na solução e comunicação não violenta.
  • Dar feedback com inteligência emocional: a forma como o feedback é dado pode motivar ou desmotivar. Bradberry recomenda que o feedback seja claro, respeitoso e com foco em comportamentos observáveis, não em julgamentos pessoais.
  • Fomentar o crescimento emocional da equipa: líderes com um QE alto incentivam a equipa a desenvolver as suas próprias competências emocionais, através de conversas, mentoring ou formação. Um QE colectivo elevado é um diferencial competitivo.

A liderança emocional não é uma técnica, mas uma postura. Exige presença, escuta, autoconsciência e desejo genuíno de potenciar os outros. E é precisamente esse tipo de liderança que o futuro exige: humana, responsiva, adaptável.

Em modo de conclusão, Travis Bradberry defende que, num mundo onde a automatização cresce, a capacidade de gerir emoções com inteligência será um poderoso diferencial humano.

“A inteligência emocional é a pausa que protege as relações”, escreve.

Mais do que resistir ao mundo moderno, a proposta de The New Emotional Intelligence é aprender a viver nele com mais lucidez, empatia e intenção. A inteligência emocional passa a ser vista não apenas como um trunfo, mas como uma competência essencial para liderar, colaborar, decidir e crescer.

Imagem: © Arkadiusz Polak/Unsplash.com

Editora Executiva

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