Não vou dizer nada de novo, mas parece-me que vale a pena insistir neste ponto (e há tantas coisas em que vale a pena insistir!): existem duas maneiras de se ser socialmente responsável (bem, provavelmente, mais de duas)
POR ANTONIO ARGANDOÑA

A responsabilidade como virtude está nas pessoas. A empresa é uma comunidade de pessoas, de modo que todas elas devem sentir-se responsáveis… mas de quê? De tudo o que faz a empresa (e de tudo o que deixa de fazer ou deveria fazer). Claro que nem todas têm a mesma responsabilidade, a qual é máxima no alto da cúpula e se vai reduzindo à medida que vamos descendo pela sua estrutura. Mas não desaparece nunca.

Pensemos no trabalhador que atende um cliente: o seu sentido de responsabilidade (pessoal) deve levá-lo a tratar bem o cliente, a não lhe mentir, a respeitar a sua dignidade e os seus direitos. Mas estas responsabilidades pessoais são também responsabilidades sociais da empresa.

Ou seja, a Responsabilidade Social da Empresa (agora com maiúsculas) começa com a responsabilidade pessoal de todos os que trabalham na empresa (todos são empresa, que é uma comunidade de pessoas) e culmina com as decisões dos que a dirigem, com a atitude face aos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, com o cuidado relativo ao meio ambiente, a atenção face à comunidade local, etc..

A outra maneira de ver a responsabilidade é como “responsabilidade exigida”: por exemplo, tendo em conta a lei, o código de boas práticas da instituição, o que diz o regulador, o que pede a sociedade. Em termos materiais, coincide em muitos pontos com a anterior, a responsabilidade como virtude: se a empresa firmou um contrato com o seu cliente, deve cumpri-lo porque a lei assim o exige, e se a sociedade pede que a empresa cuide do meio ambiente, deve fazê-lo, porque é a sociedade que o pede. Mas em ambos os casos, fá-lo porque isso é o que deve fazer uma pessoa, digamos, decente.

Não me atrevo a fazer uma distinção drástica entre ambas as responsabilidades. Mas vejo, sim, duas atitudes. Na segunda, devo tratar bem o cliente porque assim me “exige” o código ético da empresa e devo economizar água porque a sociedade assim o “exige” (e quando esta exigência se converter em lei ou figurar no meu código de ético, então também por esta razão). Na primeira, a virtude, eu devo tratar bem o cliente porque é uma pessoa dotada de dignidade e eu não tenho o direito de a tratar mal, porque isso me degrada enquanto pessoa: não só a ele, como a mim mesmo, e isto é o que distingue a virtude da obrigação “exigida” pelo exterior.

Observo muita responsabilidade social da empresa do segundo tipo, a “exigida” e, parece-me, menos do primeiro, a virtuosa. Viva a exigência, se a causa é boa. Mas, se não se mudar a maneira de ser das pessoas, se esta não se converte em virtude, então o futuro não estará assegurado.

Professor Emérito, IESE Business School