Em pleno século XXI, as empresas que ainda não tiverem entendido a necessidade de desconstruir o erro enquanto questão cultural e, pelo contrário, incluí-lo no seu processo evolutivo, são empresas que correm o risco de estagnar na sua produtividade e, consequentemente, no seu ramo de actividade
POR MELANIE DE ALCÂNTARA CARREIRA

“Aquele que nunca pecou é menos confiável do que aquele que só pecou uma vez. E alguém que tenha cometido muitos erros – embora nunca o mesmo erro mais de uma vez – é mais confiável do que alguém que nunca cometeu nenhum”.
Nassim Nicholas Taleb

Segundo Karl Albrecht, autor de “Inteligência Prática” (que toma a perceção, a compreensão situacional e a habilidade de interação como chaves do sucesso no trabalho e na vida), existem cinco medos básicos que são comuns a todo o ser humano – todos os outros medos advêm de um destes cinco.

São eles o medo da extinção (medo da morte e/ou ideia de deixar de existir), o medo da mutilação (medo de perder partes do corpo e/ou de nos sentirmos fisicamente incapacitados), o medo da perda de autonomia (medo de paralisarmos e/ou ficarmos totalmente imobilizados), o medo da separação (medo de abandono e/ou exclusão) e o medo da morte do ego (medo de humilhação/vergonha). 

Ora, para o assunto que hoje importa, vamos focar-nos neste último.  

Quem não se lembra de ter enrubescido, na escola, ao ser chamado/a para ir ao quadro? Quem não se lembra de saber a resposta a uma questão e, ainda assim, não levantar a mão para responder? A quem é que nunca aconteceu sentir um nó no estômago, no dia de saírem as pautas, no final de um período letivo? A quem é que não tremeram as mãos e os joelhos no dia de apresentar um trabalho, defender uma tese, expor um projeto? 

De que é que tínhamos realmente medo? De errar? Ou da vergonha do erro? E se tínhamos medo da vergonha do erro, de onde é que ela surgiu? Nascemos com ela? Não. Óbvia e claramente, não. Foi-nos social e educacionalmente incutida. Todo o Sistema Educativo nos diz, desde cedo, que errar é mau. A percentagem negativa atribuída num teste. A reprovação de uma disciplina e/ou de um ano letivo. O mau desempenho numa tarefa. Dizem-nos que isto está errado, mas não nos dizem como é que o tornamos certo. Dizem-nos que isto está errado, mas não nos ensinam a ser autónomos e autossuficientes para aprender com os nossos erros, como se só houvesse uma forma de acertar/resolver e todas as outras estivessem redundantemente erradas. 

Assim, ultrapassada a fase do Sistema Educativo, para onde é que carregamos (carregar, sim, como um fardo) esta crença? Para o mundo do Trabalho, claro. Serão realmente os “Prémios de competitividade” e as atribuições de “Funcionário do mês” uma forma de minimizar o estigma do erro? Ou, pelo contrário, acentuam-no? É mais importante fazer saber os funcionários mais produtivos que o foram, ou dizer a todos os outros que o não foram? Ou será que é possível haver um sistema de equidade que torne as duas coisas igualmente importantes? Porque a verdade é que, quem já “faz certo”, terá sempre espaço para evoluir. E quem “faz errado”, só evoluirá se for instigado a fazê-lo e não aprisionado a uma pré-morte do ego, mergulhada na angústia da humilhação de nunca estar “do lado de quem faz certo”.

Em pleno século XXI, as empresas que ainda não tiverem entendido a necessidade de desconstruir o erro enquanto questão cultural e, pelo contrário, incluí-lo no seu processo evolutivo, são empresas que correm o risco de estagnar na sua produtividade e, consequentemente, no seu ramo de atividade.

O medo de errar faz com que milhares de colaboradores/as e funcionários/as em todo o mundo, evitem testar novas ideias e criar novos processos. Porque, hierarquicamente, há demasiados “não foi isso que foi pedido” para muito poucos “excelente ideia”! 

Sabia que a Coca-Cola foi o erro de um farmacêutico americano que, em 1886, pretendia criar um medicamento para a dor-de-cabeça? Um erro que se tornou no refrigerante gaseificado mais popular do mundo Inteiro!

É esta Cultura do Erro que urge ser absorvida, aprendendo-se a encarar o erro como uma oportunidade de aprendizagem, reciclagem e inovação e não como um retrocesso ou uma perda de tempo e/ou recursos. Se, por um lado, errar é inevitável no que à condição humana concerne, por outro, identificar o erro e ser capaz do processo criativo da sua resolução (ou reciclagem), é o segredo para o sucesso de qualquer Organização. 

Aqui, entram os Líderes. Qual é a melhor forma de perceber os erros basilares dentro de uma Organização? A “inspeção minuciosa” do trabalho de cada colaborador? O pedido de relatórios que acabam por ser só mais um monte de folhas em cima da secretária? Ou a auscultação das equipas e dos seus diferentes pontos de vista? Sim, Líderes, auscultem as vossas Equipas, comuniquem com as vossas Equipas, ofereçam-lhes um ambiente não castrador e não limitativo, quer da sua criatividade, quer da sua iniciativa. É essencial abraçar novas ideias para promover a inovação. Como é que o fazem? Isso fica para outro dia! 

“Aquele que nunca pecou é menos confiável do que aquele que só pecou uma vez. E alguém que tenha cometido muitos erros – embora nunca o mesmo erro mais de uma vez – é mais confiável do que alguém que nunca cometeu nenhum”.

Nassim Nicholas Taleb

Melanie de Alcântara Carreira

É formada em psicologia clínica dinâmica, criadora de Conteúdos/Copywriter (sobretudo) nas áreas do Bem-Estar Emocional e da Programação Neurolinguística. Abraçou a formação na by THF, onde assume adicionalmente um papel essencial no estudo e co-criação da abordagem formativa e metodologia própria, focada na humanização da Pessoa, num modelo de valor partilhado para uma liderança transformadora