Face ao panorama negro do desemprego jovem qualificado, a Fundação Gulbenkian lançou o “Movimento para o Emprego”, em parceria com o IEFP e a COTEC Portugal. O projecto vai assegurar 5 mil novas oportunidades de estágio profissional até 2014, com vista a “manter a trabalhar no país aqueles que mais podem contribuir para a modernização da economia”, como sublinha, em entrevista, Artur Santos Silva Cientes dos “enormes” impactos sociais, económicos e financeiros resultantes da elevada taxa de desemprego jovem, que “implicam riscos sérios sobre a coesão social e nacional”, a Fundação Calouste Gulbenkian, a COTEC Portugal e o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) juntaram sinergias e assinaram, no final de Maio, um acordo de cooperação com vista à criação e dinamização do Movimento para o Emprego.
A iniciativa, que visa proporcionar a jovens desempregados com qualificação de nível superior uma experiência de trabalho, através da realização de estágios num universo alargado de empresas, assume-se como “uma resposta de combate” a este flagelo, aberta a todos os que queiram participar. E parte do envolvimento entre o serviço público de emprego, a sociedade civil e os empregadores em geral que “a realidade profundamente adversa” que vivemos “exige”. Numa primeira fase, o Movimento para o Emprego ambiciona mobilizar “o maior número possível” de empresas, entidades públicas e organizações da economia social para proporcionarem no biénio 2013-2014, no mínimo, 5 mil estágios em contexto de trabalho a estes jovens, no âmbito das medidas do Impulso Jovem – Passaporte Emprego e dos Estágios Profissionais do IEFP. E são já cerca de 130 as entidades aderentes. Em entrevista ao VER, o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva, considera que esta é “uma demonstração de Responsabilidade Social e de compromisso da sociedade civil para com a geração mais qualificada de portugueses”. O Movimento vai aumentar as oportunidades de contacto com potenciais empregadores futuros, adianta, o que representa, desde já e “nestes tempos de angústia e incerteza, um sinal de esperança no nosso futuro colectivo”.
Quais são os objectivos primordiais desta iniciativa que desafia empresas e entidades públicas e da Economia Social para uma mobilização colectiva de apoio a políticas activas de Emprego? Tratando-se de uma iniciativa aberta a todos os que se queiram associar, com vista à criação de estágios remunerados para os mais de 140 mil jovens licenciados que estão desempregados, o Movimento reuniu já cerca de 130 entidades. Que leitura faz desta adesão significativa, num espaço de tempo tão curto? De igual modo, a iniciativa pretende assumir-se, nestes tempos de angústia e de incerteza, como um sinal de esperança no nosso futuro colectivo. Só venceremos os desafios de relançamento do país se formos capazes de prosseguir os esforços na qualificação, na investigação e na inovação. Ao mesmo tempo temos que saber criar oportunidades que mantenham a trabalhar no país aqueles que mais podem contribuir para a modernização da nossa economia: os jovens mais qualificados. Face à realidade “profundamente adversa” do País, que relevância assume a “cooperação virtuosa” estabelecida entre o IEFP, a Gulbenkian e a COTEC, num envolvimento do serviço público de Emprego com a sociedade civil, que integra a colaboração dos empregadores em geral, no quadro da sua missão de RS?
Perante os enormes desafios que enfrenta, a Fundação optou pelo caminho da maximização do impacto das suas actividades, o qual prossegue recorrendo quer a uma planificação mais estruturada e de longo prazo e a uma avaliação mais exigente e continuada da sua intervenção, quer privilegiando uma acção em parceria, o que permite uma concentração de recursos e evita a duplicação das intervenções. As áreas mais procuradas pelos jovens – Engenharias, Informáticas, Economia, Marketing, Ciências Sociais e Línguas, por exemplo – correspondem àquelas onde se verifica maior desemprego ou também àquelas onde surgiram mais ofertas de estágios? Acredita que a maioria destes jovens terminará esta experiência com oportunidades acrescidas de empregabilidade, graças aos programas de Emprego do IEFP mas também à dinamização do Movimento junto das empresas associadas da COTEC e de parceiros da Gulbenkian, à formação complementar de estagiários e tutores e à realização de workshops com empresas? Na sua opinião, que impacto real terá esta iniciativa que se assume como uma “resposta de combate ao desemprego jovem qualificado”, face às graves consequências sociais, económicas e financeiras resultantes da elevada taxa de desemprego jovem?
E sabemos que mesmo no melhor cenário estaremos sempre perante um processo de recuperação lenta e gradual, tamanha é a dimensão e complexidade da situação que a Europa e o país enfrentam. Esta iniciativa constitui, pois, apenas o primeiro “andamento” de um objectivo mais vasto: construir uma verdadeira mobilização nacional em favor do emprego. E quais são, a seu ver, os principais efeitos para os jovens, e os maiores riscos sobre a coesão social e nacional desta conjuntura de crise que implica o agravamento do desemprego, a longo prazo? Acresce que estamos perante uma realidade que se pode vir a prolongar muito no tempo. Isto significa que as consequências financeiras, económicas e sociais poderão ser muito profundas, e que podem ser atingidas estruturas fundamentais da nossa vida colectiva. Esta é uma realidade nova e perturbadora, que pode alterar muito do que nos habituámos a ver como adquirido e estabilizado na sociedade portuguesa. É por esta razão que a resposta ao desemprego não é somente a resposta às preocupações da realidade presente dos portugueses. Partindo do pressuposto que os desafios da modernização só serão vencidos com uma forte aposta na qualificação, na investigação e na inovação, a promoção da formação qualificada e da empregabilidade são hoje áreas de intervenção estratégica para a Gulbenkian, no âmbito do seu amplo Programa de Desenvolvimento Humano? |
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Jornalista