Os líderes estão otimistas em relação ao futuro próximo. Apesar da multiplicidade de atuais desafios – inflação e a instabilidade económica, preços elevados de energia, guerra e as tensões geopolíticas – o mais recente barómetro C-suite da Mazars revela espírito de luta e perspetivas positivas entre as lideranças empresariais e corporativas
POR MARIA JOÃO VAZ
O otimismo revelado pelo barómetro deste ano é encorajador, em especial no que diz respeito ao crescimento. Apesar da instabilidade económica, dos preços crescentes de energia e das tensões geopolíticas, aliadas ao surgimento de novas tecnologias, 86% têm uma perspetiva positiva de crescimento em 2023.
No entanto, a confiança na capacidade para lidar com os desafios varia em função da sua natureza. O barómetro C-suite da Mazars revela que os líderes estão mais confiantes na aptidão para gerir tecnologias emergentes (54% muito confiantes) e menos em lidar com a instabilidade geopolítica (23% muito confiantes).
A agilidade dos líderes de negócios perante o aumento da volatilidade – que se reflete também nos preços da energia ou na escassez de talento – será decisiva para cumprir com o crescimento perspetivado. E estes elementos de volatilidade são algumas das barreiras ao crescimento das empresas.
Para tentar ultrapassar as barreiras, e o reconhecimento que as adversidades são mais significativas que no ano anterior, o C-suite revela que as organizações estão a investir na tecnologia e sustentabilidade.
De acordo com o barómetro, o investimento nestas áreas tem como objetivo garantir que os negócios estão preparados para o futuro e transformar a tecnologia da empresa na principal prioridade estratégica para os líderes nos próximos três a cinco anos.
Os líderes reconhecem a importância de tecnologias como IA, automação, big data e Web3 e têm a expetativa que as novas tecnologias impactem os negócios com grande magnitude. As ameaças cibernéticas continuam uma realidade diária, mas os líderes confiam que os seus dados estão protegidos.
Neste âmbito, uma das questões que se coloca é a quantidade de informação que as empresas menores – que adquirem soluções prontas – estão a deixar com os seus fornecedores de tecnologia e a quantidade de valor agregado que fica fora da sua própria gestão. A forma como as empresas implementam – e em que ordem – as tecnologias emergentes será decisiva.
A segunda prioridade estratégica do C-suite para os próximos três a cinco anos está numa abordagem de sustentabilidade nova ou revista. Segundo o barómetro da Mazars, mais de dois terços dos líderes (68%) planeia investir em iniciativas de sustentabilidade, reafirmando a importância do ESG (Environnmental, Social and Governance) na agenda.
A maioria das empresas (65%) produz um relatório de sustentabilidade, mas admite que a qualidade e o rastreamento dos dados podem ser desafiantes, e pouco mais de um terço (36%) sente-se totalmente pronto para os novos requisitos do relato ESG.
Tem havido algum progresso no que diz respeito às questões ESG, mas não tanto quanto deveria. As empresas que ainda estão nos estágios iniciais de sua jornada devem começar a entender quais os tópicos que têm mais impacto nos seus negócios e definir planos. A mensagem principal do barómetro é que as questões ESG ainda procuram o seu “espaço”, mas a evolução é notória.
Outro aspeto do Barómetro C-suite da Mazars, realizado no quarto trimestre de 2022, baseado na visão de mais de 800 executivos de 27 países em todo o mundo sobre o que entendem ser as suas prioridades e desafios, tem a ver com o reconhecimento da importância da diversidade e do talento.
Um quarto dos líderes diz que uma estratégia nova ou revista de atração e retenção de talentos é uma prioridade estratégica, com quase um terço (28%) a identificar a incapacidade de atrair uma força de trabalho qualificada como uma barreira para o crescimento da sua empresa.
Apesar de reconhecer a importância de uma força de trabalho diversificada, a verdadeira equidade permanece indefinida em muitas empresas, com pouco progresso em termos de diversidade de género entre os principais decisores. Os factos revelam que as mulheres estão muito sub-representadas no topo das empresas e que o status quo é inaceitável.
As mulheres estão no pool de talentos, mas fora das posições-chave de tomada de decisão. Quando o problema não está na origem, é preciso olhar para o processo. E tentar eliminar mais uma barreira ao crescimento.
Maria João Vaz
Head of Sustainability Services da Mazars em Portugal, conta com mais de 20 anos de experiência em consultoria na área da Sustentabilidade. Integrou empresas como a BSD Consulting, a PricewaterhouseCoopers e a Sair da Casca, É formada em Engenharia do Ambiente pela FCT-NOVA.