As organizações devem afastar-se da insuficiência moral, tentando sempre a aproximação da excelência moral em todos os seus actos. Como cumprir este dever? Tentando aplicar os instrumentos éticos, como uma possível alternativa, demonstrando assim que a ética é, sim, um óptimo negócio
POR CARMINA NUNES

As organizações têm todos os dados para não conseguir o que, ao final de cada mês ou no final de ano, lhes é pedido, quer isso dizer obter um proveito ou lucro. Este artigo pretende demonstrar o contrário e, mais do que isso, que a ética e a sua finalidade podem acrescentar um valor final para qualquer organização, antevendo os riscos de um maior escrutínio, nesta era globalizada.

A nova era digital, incluída no mundo globalizado, para além do impacto tecnológico na sociedade e nas organizações, veio trazer também um maior escrutínio a todas actividades a todos nós enquanto indivíduos. Num ápice, todo um conjunto de informação que se julga confidencial, pode ficar disponível nas redes sociais e ter repercussões incontroláveis sobre os respectivos indivíduos, organizações ou sobre governos, originando uma destruição de valor que poderia ser evitável.

A imprensa, nos últimos tempos, está cheia de exemplos, de todos os quadrantes, paradoxalmente muitos deles realizados num enquadramento legal aceite ou sob o regulamento de entidades de supervisão. Contudo, apesar de legalmente possíveis, não deixam de levantar questões éticas para as organizações e respectivos governos. Levanta-se a questão se tudo o que é legal é ético no mundo dos negócios?

O normativo legal em cada sociedade estabelece as regras formais de actuação das pessoas individuais e colectivas, existindo, contudo, muitas outras regras não escritas que implicitamente determinam o que é aceite e não aceite. Este dilema leva a que muitas organizações vivam nos limites da legalidade, mas por vezes longe de uma conduta eticamente responsável para com as sociedades onde estão inseridas. Por outro lado, o lucro deve estar presente nos negócios, mas num mundo cada vez mais globalizado e competitivo, é cada vez mais problemático encontrar um espaço singular, entre as exigências de todas as partes interessadas em cada organização e os caminhos a seguir. Enfim. um puzzle complicado e difícil de conciliar. E é neste jogo que temos o dever de englobar a ética.

Negócios com ética

Aproximar, em termos organizacionais, o lucro e a ética já não é tão contestado como há algum tempo atrás. A ética não se constitui numa tarefa fácil, até porque não é uma ciência exacta, e por isso as discussões de conduta moral só conseguem aproximações às verdades que estão na base da ciência. Assim, se as organizações têm alguma orientação nestes tempos confusos, essa pode ser o sistema de valores que anima a conduta e as boas práticas. Em termos empresariais, temos de admitir que a ética não discute os factos, mas sim diferentes posições sobre questões de escolha moral, procurando registos evidentes. Assim, as organizações devem afastar-se da insuficiência moral, tentando sempre a aproximação da excelência moral em todos os seus actos. Como cumprir este dever? Tentando aplicar os instrumentos éticos, como uma possível alternativa, demonstrando assim que a ética é, sim, um óptimo negócio.

Todas as organizações devem reconhecer a importância e a necessidade de tomar em consideração alguns conceitos como a ética, a moral, a equidade ou a justiça e, de uma vez por todas, tentar implementá-los na sua cultura organizacional. Todavia, a abordagem dos problemas éticos nos negócios representa um problema continuo, não só no plano teorético, como também no plano prático.

A ética no contexto organizacional levanta várias perguntas, como por exemplo: permite criar um consenso social dentro da organização? A ética pode alcançar o bem supremo, nos termos organizacionais e distinguir o habitus económico, sendo essa a escolha que deve ser procurada por qualquer líder através de bondade, coragem, seriedade e livre arbítrio em decisões acertadas. Reflectir e agir de forma ética e responsável, ter a atitude mais correcta perante várias situações de natureza moral representam a resposta adequada das partes dos líderes.

Assim, somos responsáveis perante nós próprios, perante a sociedade, perante as organizações onde actuamos, para encontrar o caminho justo, e o princípio da ética pode ajudar-nos na tomada de decisões éticas.

Nota: A autora lançou recentemente o livro “Ética Organizacional – Uma Abordagem Estratégica

Doutorada em Gestão, docente universitária e autora do livro “Ética Organizacional - Uma Abordagem Estratégica”