Será que algo do que está a ser feito em Portugal, para corrigir a situação actual, é solução sustentável? Será que os comportamentos causadores do despesismo, e as crenças a montante, serão alterados pelo caminho traçado? Será que o Estado é um bom exemplo para a sociedade, ou apenas reflecte a característica geral da mesma, razão pela qual nada se alterará até que cada um de nós actue, por si, de acordo com a qualidade de cidadania que queremos ter e ver? A começar pelos Valores, pela Ética e pela Responsabilização por aquilo que fazemos e aquilo que acreditamos ser aceitável na sociedade “Insanidade: continuar a fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes.” Já viu a última superprodução hollywoodesca, em exibição em todo o país? Eis a sinopse: Peter Rabbit está em apuros, ao herdar uma dívida de jogo crescente e que não tem como pagar. Ninguém o leva a sério; até os membros da sua quadrilha lhe perdem o respeito. O seu primo, arqui-inimigo e capanga-mor da quadrilha rival, Tony Safe, jurou vingança depois de ter sido levado, no passado, a colaborar com Peter na elaborada trama com que filaram uns cobres a uns agiotas para mascarar o problema do jogo – e consequente dívida – da família. Agora, com os credores no encalço e desesperado, a única solução que Rabbit encontra é juntar a quadrilha para um assalto massivo aos cofres da família, que lhe permita saldar a dívida. Conseguirá Peter salvar a face, que Tony nunca teve? Manterá o love affair com Angie, membro do gang de agiotas? Terá Rabbit a capacidade de travar o problema de jogo, ruinoso, da família? E que impacto terá a acção na relação com o seu mentor Tough Barry, representante não oficial dos agiotas que agora tem à perna? Drama q.b. e comédia negra em doses garrafais, para os fans do género e não só. Sem interrupções, sem intervalos para publicidade e sem fim à vista. Não perca, em exibição em todo o país.
Acha que esta será a mais recente produção série-B com Nicholas Cage a correr de explosão em explosão na pele de Peter Rabbit? Talvez com John Travolta no papel de Tony Safe, na interpretação da sua vida e candidato supremo ao Óscar de actor (absolutamente) secundário? Ou com a germânica Diane Kruger a concorrer ao Óscar de melhor Caracterização, adicionando 50 quilos e 50 anos para a sua transformação em Angie?! Não. Este filme tem actores menos galardoados mas nem por isso menos identificáveis enquanto tal: meros actores, numa trama que extravasa as suas respectivas personagens. A trama – jogo financeiro e consumo compulsivo quando não se tem capacidade económica para o fazer – é bem real; é um problema dos países do Sul da Europa (latinos). E os problemas de jogo não se resolvem com o mero saldar das dívidas; são patologias comportamentais que requerem solução a montante. Será que algo do que está a ser feito presentemente em Portugal, a nível da “correcção” da situação actual, é solução sustentável para os problemas do país? Todos os sectores, ideologias e ângulos de análise parecem ser unânimes na opinião negativa, certo? Mas será que sabem por que é que não é solução? A julgar pelos comentários e justificações diárias nos media e nas ruas, a resposta a esta última pergunta parece ser um rotundo NÃO. Uns dizem que não é solução porque são negativamente afectados pelas medidas Estatais e, claro está, não gostam (ou seja, não é solução para eles). Outros dizem que não é solução porque lhes interessa dizê-lo para não fazerem má figura (onde se incluem alguns que contribuíram directamente no passado para chegarmos à situação actual, e que agora contam com a falta de memória – e literacia – colectiva para papaguearem demagogias políticas mascaradas de “sabedoria”). Outros ainda, dizem que não é solução… porque se toda a gente o diz é porque seguramente não o será (fazendo lembrar a velha máxima “quem sabe fazer, faz; quem não sabe, começa a tentar explicar porque é que não se pode fazer”). A realidade é mais comezinha: simplesmente, nós temos aquilo que merecemos! Colectiva e individualmente, o que temos é um resultado do que fazemos. O que fazemos é uma consequência de como pensamos. E o nosso processo de pensamento assenta directamente nos nossos (1) sistema de crenças e (2) hierarquia de valores pessoais. A realidade vivida por cada um de nós é resultado último daquilo em que acreditamos e de como consequentemente nos comportamos. Quer a literatura de investigação (séria) sobre a mente humana, quer os textos biográficos (credíveis) sobre experiências de vida relevantes, evidenciam o nexo de causalidade Crer à Pensar à Agir à Ter. E não apenas a nível individual mas também a nível ecológico, ou seja, colectivo de toda uma população. A situação actual Portuguesa é resultado último da Identidade Cultural Nacional, e de aquilo em que colectivamente acreditamos. Não caiu do céu (nem do inferno); fizemos por ela. E fizemo-lo não por casualidade, mas porque temos uma “personalidade colectiva” que nos empurrou nessa direcção. Se não alterarmos aquilo que acreditamos ser aceitável, jamais teremos resultados sustentáveis diferentes. É esta a razão pela qual as medidas actuais, que se aplicam a nível de comportamentos e, pior ainda, ao nível do Ter e não de sistemas de crenças, não resolverão os nossos problemas. No contexto do nexo de causalidade resumido acima, vejamos o que nos coloca na situação actual. CRER Os países do Sul Europeu são verdadeiros campeões da desresponsabilização, técnica apurada durante décadas e elevada ao estatuto de desporto nacional (qual futebol, qual quê!). Nem anglo-saxónicos, nem germânicos nem nórdicos chegam, sequer, aos calcanhares dos latinos nesta prática. Desde logo, o equipamento necessário a este desporto é entregue a todas as crianças e jovens desde tenra idade (nas escolas, em casa, pelo exemplo da sociedade, etc) através de um sistema de crenças com a desresponsabilização como ingrediente fundamental da “receita para a vida”. Ao chegarem à idade adulta já são exímios praticantes! E, como este desporto nacional não requer instalações próprias para ser praticado, assistimos a exibições em qualquer lado: pratica-se na rua, em casa, nas empresas e demais organizações… e claro está, nos Governos e no Parlamento. PENSAR O problema é que os “outros”, com éticas bastante mais próximas da primeira pessoa na Europa Central e do Norte (e, por cá, em quem não se revê nessa identidade latina), obtêm resultados condizentes com essa postura, e que são muito mais positivos quer do ponto de vista económico quer social. E também sabem que é simplesmente eticamente indefensável serem punidos pelo seu bom comportamento e pelas escolhas responsáveis que fazem, através de presentes dados a quem pratica o desporto da desresponsabilização. AGIR Quando um Estado impõe medidas punitivas, como seja um aumento da carga fiscal, de maneira generalizada e que afectam a todos, seja-se ou não culpado da situação deficitária, está a desresponsabilizar quem originou esses problemas. Quando um Estado invoca (ilegitimamente) conceitos de “solidariedade” para justificar punições globais, está a premiar o ‘chico espertismo’ de quem teve comportamentos impróprios e que agora se aproveita da confusão geral para contribuir com menos do que deve para resolver o problema. Solidariedade é contribuir para o bem-estar daqueles que não conseguem obter resultados apesar dos seus bons esforços; não é desresponsabilizar os culpados com atitudes “Robin dos bosques” de roubar a quem tem (só porque tem) para dar a quem não quis fazer. Uma atitude de estupro como esta é, uma vez mais, eticamente indefensável. Vejamos o seguinte exemplo (e perdoe-me a família alargada dos “Silvas” pelo uso exemplificativo do apelido): o Silva comprou um carro de gama alta. Não tem capacidade económica para o fazer, mas como acha que andar de carro de gama alta é um símbolo de status (nota: não o é!), endividou-se e lá anda ele a passar por um estatuto que não merece, e a enganar (apenas) os que pensam como ele. Dado o panorama geral do momento, o Silva actualmente tem dificuldades para alimentar a família, já para não dizer o pagar das prestações do carro (que não vende para saldar a dívida). Porventura alguém defende que o Silva deva corrigir o seu endividamento pelo aumento da sua receita assaltando a prima Maria porque ela tem uns cêntimos debaixo do colchão? Não?! Então porque é que se acha que se a “família” for Portugal, o Estado já tem o direito de o fazer?! É porque é “espiritual” ser roubado por um Estado? Ou será antes porque a sociedade permite passivamente o estupro ideológico? TER Não é aumentando a carga fiscal generalizada que se resolve o problema de Portugal; isso apenas serve para diminuir a capacidade de consumo e rebaixar o nível de vida de uma população inteira. E sobretudo desresponsabiliza aqueles que, não tendo condições económicas para determinado consumo, ainda assim o fazem (ou fizeram) apesar das consequências negativas (e totalmente previsíveis) que daí advêm para si próprios. Quer a nível individual quer a nível organizacional, a começar pelo sector público e a terminar em todos aqueles cujo sobreendividamento resulta de opções de consumo exagerado para concorrer com o vizinho Silva. Não descurando a necessidade de endividamento para habitação, é relevante ainda assim fazer notar que não é “preciso” endividar-se em €300.000 para comprar uma casa; pode-se endividar em €150.000 para comprar uma casa mais barata, que também as há (nota: o valor médio do crédito à habitação andava alegadamente pelos €80.000 em Março de 2012). Ou seja, mesmo o crédito à habitação (consideremo-lo “necessário”, o que é discutível a vários níveis), ainda assim é determinado por critérios de consumo, e logo perfeitamente sujeito a análise no âmbito da responsabilização. Só tendo poder de compra e sendo directamente responsabilizado pelo consumo que se faça com esse poder de compra é que se contribui para a responsabilização individual e colectiva de uma sociedade. Não entrando em detalhes que requerem debate alongado, na situação actual isso poderia passar por sobretaxar ao nível de IVA e não de IRS: o que bem modelado permitiria que as pessoas tivessem dinheiro na mão e fossem taxadas pelas escolhas de consumo que fizessem com o seu pecúlio. Bens de primeira necessidade com pouca sobretaxa para garantir a subsistência de todos, bens de luxo com sobretaxas mais elevadas para permitir que fossem adquiridos por quem tem capacidade económica real para o fazer… se assim o desejar. Isto adicionalmente à responsabilização daqueles que contribuíram activamente para a situação actual (não “em vez de”). E se de facto se quisessem (mesmo) resolver os problemas do País? (1) Falta de visão de longo prazo para crescimento económico e social do País – a que está associado a facto de uma tal Visão não se coadunar com períodos de mandatos de quatro anos, findos os quais os novos mandatários da coisa pública revogam ou alteram a implementação da referida visão por agendas políticas (sendo notório que sempre as sobrepõem aos interesses do país); (2) Porque a iliteracia (vulgo analfabetismo funcional) e desresponsabilização neste país são de tal ordem que as pessoas crêem que o seu sucesso e bem-estar, individual e colectivo, é garantido pelo Estado ou por aquilo que o Estado faz. Ora, em parte alguma do mundo isto assim é (e em Portugal também não, lamento desenganar-vos). O bem-estar do país é um colectivo do bem-estar individual, e este resulta daquilo que cada um de nós fizer pelo seu bem-estar. Que por sua vez resulta da maneira de pensar e dos sistemas de crenças e Valores de cada um, e não de um cenário macroeconómico específico, qualquer que ele seja. Já estou a ouvir os protestos da brigada do um-por-todos-e-todos-por-um ao lerem este artigo: “cá está mais um defensor do individualismo; com um egoísmo de cada-um-por-si destes não vamos longe!” Pois é, mas acontece que ao contrário do que querem fazer crer os “colectivistas”, porque lhes dá jeito para as suas agendas políticas e porque a iliteracia generalizada ajuda às suas demagogias, individualismo não é egoísmo. Individualismo é tão-só dar atenção ao cuidar de si para poder contribuir positivamente para a sociedade, em vez da atitude (colectivista) da desresponsabilização e de ser um fardo para essa sociedade, esperando que os outros paguem pelos erros que cometermos. O progresso e a inovação assentam na iniciativa individual; a alternativa medíocre do “nivelamento por baixo” e pelo “mínimo denominador comum” traduz outra característica bem Portuguesa, que sai no entanto fora do âmbito deste artigo: a inveja. Nada do que está a ser feito pelo Estado português neste momento é solução sustentável para o problema nacional, porque nada actua ao nível das mentalidades (Valores e sistema de crenças). Está-se a actuar ao nível dos comportamentos e resultados sem endereçar as causas a montante. A correcção do défice económico não origina uma correcção no défice de atitude e de responsabilização. O que é um garante que, futuramente, os problemas irão reaparecer; assim que os défices económicos estiverem corrigidos ir-se-á, quer a nível colectivo quer individual, voltar aos comportamentos despesistas em Portugal, simplesmente porque se acredita visceralmente neste país que isso é um comportamento correcto e aceitável para uma sociedade e para um indivíduo. Se o Estado quisesse realmente resolver os problemas do país, estaria a actuar em duas frentes onde, de todo, não está: 1) Responsabilização, para efeito imediato Muitas situações de défice pessoal ou familiar resultam de sobreendividamento indevido (pelo crédito fácil ao consumo) largamente promovido em anos recentes. As pessoas, famílias e instituições que o promoveram e usaram podem e devem ser responsabilizados por esses comportamentos. Mas não o são, optando-se em vez disso por penalizar toda a gente pelos erros óbvios de alguns. O défice público actual tem origem no comportamento de vários Governos anteriores. A correcção desse problema faz-se, tal como no caso das famílias, através da redução da despesa pública, não pelo aumento da receita por sobre-taxação generalizada, nem a quem tem pouco, nem a quem tem muito. Um “roubo” não passa a ser ético só por ser feito ao rico em vez de ser ao pobre; é um crime em qualquer dos casos. A economia paralela pode ser controlada e mitigada ou vastamente reduzida. O fracasso actual resulta unicamente da incompetência do Estado para o efeito. Se não o sabem fazer, podem aprender com quem o faz bem noutros países da Europa. 2) Educação, para efeito (de investimento no) futuro Em particular falha por não incluir como disciplina fundamental em todo o currículo escolar (todos os anos lectivos e todas as escolas, garantindo igual oportunidade a todas as crianças e jovens) ensinamentos que são reconhecidamente factores críticos de sucesso pessoal – e logo contribuidores para o sucesso colectivo – tais como, a saber:
Só numa sociedade sem analfabetismo funcional é que o processo democrático leva à eleição de órgãos Estatais condizentes com os melhores interesses do país. Só um sistema educativo que previne essa iliteracia forma uma sociedade avançada. Portugal tem um défice enorme neste aspecto (muito maior do que o défice económico, que é uma consequência do primeiro), resultando nos Estados e Governos que tivemos até à data e onde, tal como nos indivíduos e nas famílias, identificamos repetidos comportamentos impunes de destruição sucessiva do Valor criado pelas empresas e demais agentes económicos. O crescimento económico que Portugal tem tido na sua História recente deve-se aos esforços de cada cidadão dadas as regras a que está sujeito, apesar do Estado e definitivamente não por causa deste. O sistema educativo deve fazer aquilo que hoje largamente não faz: ensinar as crianças e os jovens a pensar, preparando-os para serem responsáveis e agirem de maneira Ética na sua contribuição para a sociedade, não só profissionalmente mas pelo comportamento diário em todas as áreas sociais, independentemente das escolhas que façam sobre o rumo concreto da sua vida (portanto, não confundir com dizer-lhes o que pensar, que não é de todo o meu ponto). Inclusivamente, é necessário em muitos casos defender as crianças e os jovens dos exemplos familiares que têm, já que são estes exemplos que desfazem algum (ou muito) do valor criado pela educação escolar. Com raras excepções, as escolas não estão sequer preparadas para introduzir estas matérias curriculares, até porque grande parte dos profissionais do sistema educativo não são a solução de nada e sim parte integrante do problema, já que se comportam eles próprios de maneira exemplarmente reprovável, alimentada por um sistema de crenças e Valores desresponsabilizador, tão desajustado ao êxito como o de qualquer outro profissional. Só um enfoque sério nesta matéria permitirá que, a prazo, a sociedade Portuguesa adopte progressivamente atitudes e comportamentos mais de acordo com os melhores interesses de progresso do País, quer a nível económico quer a nível social. Integração europeia? Really?! Só o vírus mental da desresponsabilização Latina faz crer o contrário. Várias opiniões demagógicas têm vindo a lume ultimamente sobre a “legitimidade dos povos do Sul se endividarem à custa do resto da Europa para se desenvolverem.” É curioso o entendimento deturpado de “desenvolvimento” destas pessoas; e como só se acham com direitos; não têm deveres! Não acham que devam ser responsáveis por aquilo que fazem com os fundos que recebem para esse desenvolvimento. Não acham que devam investir esse endividamento na criação de medidas estruturantes – a começar pelo sistema educativo, base da sociedade futura – para garantir a desnecessidade de endividamento futuro. Não acham vergonhoso que o mau uso dos fundos postos à sua disposição não seja sancionado. Não acham indecente que eles próprios, quando responsáveis directos pelo mau uso dos fundos, não sejam directamente responsabilizados por isso. Preferem “justificar” a situação pela economia paralela e “impossibilidade de a controlar”. Ou seja, acham que a incompetência de um Estado para evitar abusos deva ser liminarmente desconsiderada e, em vez disso, se devam deixar de honrar compromissos assumidos com quem lhe empreste dinheiro. Estas pessoas são, na realidade, parte integrante do problema e não solução alguma para o país. Atitude Pessoal O único factor explicativo do sucesso (lato sensu: financeiro, económico, pessoal, profissional, social, familiar, etc) é a atitude pessoal. Não é o cenário macroeconómico, nem são as regras impostas pelo Estado; é a maneira como cada um de nós “navega” por essas regras com vista a resultados positivos para si próprio, e daí colectivamente ao nível familiar, organizacional e do país. Recuperando o nexo de causalidade: os nossos Valores são determinantes na nossa maneira de pensar, e daí no agir e no obter de resultados. Sem mudar as nossas crenças não vamos ter outros resultados! Quem apregoa o contrário sofre de insanidade e precisa de ajuda médica especializada – é aliás uma patologia conhecida pelo menos desde os tempos de Einstein. Não precisamos de nos tornar nórdicos para ser responsáveis, não precisamos de deixar de ser Latinos para ser responsabilizados por aquilo que fazemos. É simplesmente uma evidência Ética, e esta não é apanágio de uma qualquer Identidade Cultural, é transversal às sociedades modernas. Enquanto continuarmos a formar cidadãos em que a Ética da primeira pessoa não seja central na sua personalidade, continuaremos a fazer divergir as sociedades Europeias (porque as Culturas do Centro e Norte da Europa fazem-no). Enquanto continuarmos a desresponsabilizar (maus) comportamentos, e a punir (boas) opções de consumo e de poupança, continuaremos a hipotecar (ainda mais) o futuro de Portugal. Conclusão A eliminação do défice público económico como objectivo último por si mesmo nem sequer tem o valor de dar um peixe a quem tem fome (está-se a retirar precisamente os meios da mais elementar subsistência a muita gente). Quanto mais o aproveitar da situação actual para ensinar as pessoas a pescar! Portugal tem um problema de jogo grave. Quer a nível público quer a nível privado, o dinheiro é gasto em consumo (e frequentemente em consumismo) e não aplicado em poupança ou em investimento. Isto constitui um comportamento de alto risco, desconsiderando a incerteza inerente quer ao funcionamento da sociedade actual quer ao facto de sermos interdependentes com outros países e pessoas, com comportamentos sobre os quais não temos controlo e vice-versa. Esta “aposta cega” (i.e. jogo) em como o futuro será um jardim de rosas independentemente do comportamento no presente não é optimismo, é meter a cabeça na areia numa atitude de “quem vier atrás, que feche a porta” (como se as rosas não tivessem espinhos). Tal como em qualquer outra fantasy land dada a produções hollywoodescas, em Portugal quando ocorrem problemas de dívidas é mais fácil montar um assalto “a onde está o dinheiro” do que resolver os problemas a montante, que originam as dívidas. E com os Estados cinéfilos que temos, que baseiam o seu entendimento da sociedade naquilo que viram num qualquer filme, é mais fácil punir quem ganha, quem poupa e quem investe do que assumir as responsabilidades e culpabilizar quem esbanja. É assustadora, gritante, aviltante e vergonhosa a falta de responsabilização que vemos quer a nível individual quer consequentemente a nível colectivo em Portugal. Só com iniciativa e atitude pessoal de cada um de nós assente em Valores, Ética, Responsabilidade e Responsabilização, a começar pela auto-responsabilização da Ética da primeira pessoa, poderemos não só obter bons resultados e bem-estar apesar dos Governos – porque estes não o promovem – mas ainda poder ter a ambição de convergir com a Europa da “primeira velocidade”. Até lá, ainda muito caminho há a percorrer para conseguir algo na sociedade Portuguesa e que ainda falta neste país, quase 40 anos depois de uma revolução: entender que ter a Liberdade para fazer algo não é o mesmo que ter uma justificação para o fazer. |
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Valores, Ética e Responsabilidade