A IA exige um novo tipo de liderança, onde o julgamento humano e a visão estratégica são cruciais para o sucesso da organização. A IA ou a automação são apenas uma ferramenta para dar às empresas uma nova capacidade. As tecnologias não criam, por si só, nem destroem postos de trabalho. Isso é feito por empresas, que são lideradas por gestores que fazem escolhas específicas
POR MARIA DE FÁTIMA CARIOCA

Na realidade, 2025 pode definir-se, de forma aparentemente paradoxal, como um ano de estabilidade em tempos de instabilidade. Quer isto dizer que muitos dos problemas prementes, como as questões geopolíticas, políticas e sociais, são já conhecidos e ir-se-ão manter. Na Economia, também nada de novo: a Ásia a liderar o crescimento mundial, as economias emergentes a crescerem a um ritmo robusto e a Europa com um crescimento anémico. E, finalmente, as chamadas tendências em temas determinantes para o futuro como a Inteligência Artificial, a Sustentabilidade ou as novas formas de viver e trabalhar irão continuar a ser tendências, a dar que falar, a evoluir a um ritmo não muito ousado.

Em 2022, na mesma Rubrica, este autor, com razão, caracterizava o mundo como disfuncional e dividido. Argumentava, entre outros motivos, que tal se devia a uma recuperação desigual da pandemia que nos distanciou; problemas de inflação devido à rutura das cadeias de abastecimento; uma crise climática sem resolução à vista; uma nova reação tecnológica após a investida por parte dos reguladores e a polarização da sociedade e da política, muitas vezes suportada em mensagens, nem sempre verdadeiras, difundidas via os gigantes tecnológicos.

Se bem virmos, em todos estes argumentos estão presentes duas razões de fundo, que continuam ainda hoje a criar distância e desigualdades, em termos mundiais: a tecnologia e a economia. Apesar de todos os méritos da inovação digital e do sucesso económico e financeiro que, globalmente, acarretou e continua a potenciar, o panorama atual revela que algo correu mal. Perversamente, os meios que serviram para nos aproximarmos no século XX, estão, em vez disso, a separar-nos a tal ponto que, colaborar para encontrar soluções em conjunto parece um conceito pitoresco de uma era passada.

Daí a expectativa que colocamos neste ano que ainda estamos a estrear. Não tanto uma expectativa quanto à incerteza que o futuro promete: já nos “habituámos” a lidar com o improvável e o inimaginável. Mas um desejo profundo de que este seja o ano em que o mundo “disfuncional e dividido” mude e avance. E para isso, tal como a pergunta sugere, o papel dos líderes será determinante.

Tomemos como exemplo o campo da Inteligência Artificial. Por agora, já nos vamos apercebendo do profundo impacto da IA em todas as atividades profissionais, em todos os setores económicos, em toda a nossa vida. Já estamos, mais ou menos, conscientes dos grandes benefícios da IA como uma ferramenta para alavancar a produtividade e a capacidade de raciocínio e decisão de forma mais informada. Também já bastante se estudaram as consequências mais nefastas da veloz evolução da IA, a par de um poder de computação que a torna amplamente acessível. Ora, todos estes movimentos têm implicações profundas para as pessoas e para a forma como as empresas se organizam. Não há respostas fáceis para lidar com o impacto e otimizar a adoção da IA. Como tal, umas empresas nem falam no assunto, outras são audaciosas e pioneiras, aproveitando para repensar e refazer os modelos e processos de negócio de forma generalizada e outras ainda (a grande maioria) vão realizando, de forma mais ou menos cautelosa, esta mesma (r)evolução. Mas todas são unânimes em que esta transformação não acontece automaticamente – requer líderes que entendam o potencial da IA e possam traçar estratégias para a aproveitar de forma eficaz.

A IA exige um novo tipo de liderança, onde o julgamento humano e a visão estratégica são cruciais para o sucesso da organização. A IA ou a automação são apenas uma ferramenta para dar às empresas uma nova capacidade. As tecnologias não criam, por si só, nem destroem postos de trabalho. Isso é feito por empresas, que são lideradas por gestores que fazem escolhas específicas. Qualquer uso de IA para aumentar ou automatizar o trabalho humano não é uma característica inerente à tecnologia, mas uma decisão tomada por líderes humanos.

E o papel dos líderes é mesmo fundamental, porque se trata de ir ao coração do negócio, voltar a imaginá-lo e recriá-lo. Se os principais processos de negócios são transformados pela IA, isso não é algo que um líder possa delegar a terceiros ou simplesmente deixar acontecer. Cada um tem a responsabilidade pessoal de aprender, de se atualizar sobre as tecnologias, de desenvolver uma compreensão conceptual sólida do que é (e não é) a IA, da sua aplicação ao seu negócio, de como e quando a integrar. A sua capacidade de liderar e motivar é crucial para impulsionar toda a organização através desta jornada transformadora.

E nasce a questão: em 2025, teremos líderes que correspondam às nossas expectativas? Na AESE, aqui estaremos cientes da nossa responsabilidade e disponíveis para preparar tais líderes. Seja na resposta à IA, seja a tantos outros desafios empresariais e mundiais a exigirem liderança e colaboração, todos esperamos (estamos no jubileu da esperança!), que 2025 revele muitos e bons líderes. Líderes que tenham a coragem de, hoje, antecipar o futuro. Líderes que comecem, agora, pelo possível, para que amanhã estejamos a viver o que parece impossível. E que tudo isto aconteça, independentemente de todas as surpresas que este ano nos trouxer!

Artigo originalmente publicado no Jornal de Negócios. Republicado com permissão.

Professora de Factor Humano na Organização e Dean da AESE Business School

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