Numa altura em que se verifica uma maior disposição das empresas em financiar instituições, o 6º Seminário de Fundraising da Call to Action pretende dar a conhecer organizações não lucrativas, em Portugal, que “ganharam uma nova dinâmica de angariação de fundos” e estão a ter sucesso. Em entrevista, Madalena da Cunha, sócia fundadora desta organização, faz a antevisão do evento
POR MÁRIA POMBO

Numa perspectiva de presente mas com vista para o futuro, o 6º Seminário de Fundraising da Call to Action terá lugar no dia 8 de Abril, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, sob a temática “Fundraising em Acção”.

As grandes novidades deste ano serão os casos de sucesso de algumas empresas portuguesas e uma série de sessões paralelas de manhã que se repetem à tarde, resultado “da vontade revelada por muitos dos participantes em seminários anteriores de poderem participar em vários temas que aconteciam ao mesmo tempo”, como revela ao VER Madalena da Cunha. Serão ainda apresentadas novas técnicas aplicadas a este tema, como sms fundraising e telemarketing, e analisada a forma como o voluntariado está a revolucionar a angariação de fundos.

Em destaque estará o keynote speaker deste ano, Tony Elisher, reconhecido como um orador de referência para o sector não-lucrativo. O fundador da THINK Consulting Solutions irá falar dos factores determinantes para o sucesso do fundraising em cada organização, bem como da importância da comunicação num “mercado muito competitivo”. Espera-se que a sua intervenção seja uma fonte de inspiração para os participantes do evento, alertando para aquilo que é preciso incluir nos planos estratégicos de angariação de fundos.

Segundo a sócia fundadora da Call to Action Portugal evoluiu muito, no que diz respeito ao conceito de angariação de fundos, desde o primeiro seminário realizado. A optimização de recursos e a capacidade de inovar com optimismo, que estiveram em destaque em seminários anteriores, já não suficientes.

Urgente será, daqui para a frente, as organizações não lucrativas criarem e desenvolverem formas de financiamento mais regulares. Este financiamento não será difícil, tendo em conta que “há uma vontade enorme das empresas em apoiarem a capacitação das organizações não lucrativas”.

Em entrevista de antevisão ao evento, Madalena da Cunha mostra-se confiante em relação ao trabalho já desenvolvido em Portugal, mas consciente dos passos que as organizações ainda precisam dar.

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Madalena da Cunha, sócia fundadora da Call to Action

 

Que antevisão faz dos principais temas em debate no 6º Seminário de Fundraising Call to Action pelos vários especialistas convidados? Quais serão os momentos chave do evento?
Inovar, ter criatividade e, especialmente, pensar no doador de forma a conseguir trabalhar para o envolver com a nossa causa serão pontos de destaque nesta edição.

Este ano, o keynote speaker é um grande orador de referência no sector não-lucrativo, e especificamente na área do fundraising. A sua experiência vai trazer-nos duas sessões muito inspiradoras, cujo objectivo é abrir a mente para tudo aquilo em que temos que pensar e que precisamos de incluir nos nossos planos estratégicos de angariação de fundos.

Tony Elisher irá fazer uma apresentação sobre as tendências e previsões do desenvolvimento do mercado não-lucrativo, evidenciando os factores que irão determinar o sucesso do fundraising de cada organização. Irá ainda falar do impacto enorme que tem a comunicação quando falamos da necessidade de crescer e atingir a sustentabilidade nas organizações não-lucrativas, tendo em conta que estamos num “mercado muito competitivo”.

Para além destes momentos com Tony Elischer, arrisco-me a dizer que todos os momentos são realmente chave, já que foi esse o nosso objectivo quando criámos o programa para este seminário. Contudo, os casos práticos de sucesso de Portugal, com experiências dadas em pequenas e grandes organizações, vão satisfazer muito os nossos participantes e não tenho dúvidas de que os vão fazer acreditar ainda mais no potencial que este tema tem.

Quais são as principais novidades que os participantes podem esperar, este ano?
As grandes novidades deste ano passam não só por alguns dos temas apresentados, sobre os quais trazemos casos práticos portugueses que vão ser uma óptima fonte de inspiração e exemplo, como também pelo facto de termos organizado um conjunto de sessões paralelas de manhã, que se repetem à tarde. Esta reorganização nasceu da vontade revelada por muitos dos participantes em seminários anteriores de poderem participar em vários temas que antigamente aconteciam ao mesmo tempo.

“Um processo de fundraising que permita trabalhar para a sustentabilidade financeira de uma organização só tem sucesso se tiver ‘quem’ o implemente”

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Vamos ainda ter uma sessão específica para as organizações na área da educação, em que a criação e envolvimento de uma comunidade de Alumni é crucial. Iremos ter o caso prático apresentado por John Arboleda, que foi director de Fundraising da ESAD Barcelona, e ainda o testemunho de António Murta, um empreendedor português, antigo aluno da Universidade do Minho e que tem sido um verdadeiro exemplo do potencial para envolver os antigos alunos nestas questões.

Por último, destaco a apresentação dos resultados do projecto “Envolver os Associados” – um projecto em parceria com o Montepio, em que a Call to Action trabalhou com a Associação Portuguesa dos Diabéticos de Portugal na reactivação dos seus sócios, utilizando o telemarketing e o marketing directo.

Quais são, actualmente, as grandes ameaças para o sucesso de um processo de fundraising em Portugal? E quais são as principais oportunidades?
No meu entendimento, as grandes ameaças estão centradas dentro da própria organização. Ou seja, um processo de fundraising que permita trabalhar para a sustentabilidade financeira de uma organização só tem sucesso se tiver “quem” o implemente. E, infelizmente, em Portugal a realidade é que a maioria das organizações não tem capacidade para recrutar uma pessoa específica para esta área, e inclusivamente com as competências devidas. Enquanto esta situação não for resolvida, é muito difícil dar passos em frente com grandes frutos.

Quanto às oportunidades, poderia referir muitas, mas vou cingir-me a uma, que é aquela que nos pode resolver a grande ameaça: haver apoio das empresas e fundações no financiamento de recursos com competências em fundraising e marketing. Vemos que há uma vontade enorme das empresas em apoiarem a capacitação das organizações não-lucrativas, e por isso mesmo, a decisão de apoiar a possibilidade de criar um lugar de fundraiser é uma enorme oportunidade.

Ouvimos sempre as empresas dizerem que gostavam que existissem instituições mais sustentáveis para apoiarem… E esta é, precisamente, uma enorme urgência, porque é o fundraising profissional que permite gerar mais receitas e, dessa forma, conduzir à sustentabilidade financeira.

De que forma evoluiu o País, neste sentido, desde o primeiro seminário da Call to Action sobre este tema?
Evoluiu muito! O número de participantes sempre crescente, a cada ano, prova o interesse no tema. No entanto, é o nível de satisfação que mais prova a necessidade de abordar o fundraising como se aborda neste seminário, de se trazerem casos práticos de sucesso, e mesmo de termos sempre alguém de referência que seja muito inspirador.

Portugal é um país onde o fundraising ainda está muito pouco explorado. Nós acreditamos que o conhecimento de fora, o trabalho de consultoria em fundraising como o nosso, e toda a vontade de evoluir que as organizações não-lucrativas têm são os factores-chave que nos permitem chegar a um bom porto.

Por outro lado, não posso deixar de referir o interesse das empresas nesta área, que permite que este evento tenha o maior sucesso possível. Somos um dos países europeus em que as empresas são um dos maiores “doadores” destas organizações, e que mais se envolvem com elas, principalmente desde o início da crise. A crise veio mudar a forma de dar das empresas, e elas próprias estão muito concentradas na necessidade de desenvolver competências em várias áreas, perante as quais o fundraising representa também um grande interesse.

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A optimização de recursos e a capacidade para inovar com optimismo ainda são os principais desafios que se colocam ao País, em geral, e ao Terceiro Sector, em particular, no actual contexto?
Penso que temos de dar um passo em frente: a optimização dos recursos é o que as organizações do terceiro sector têm feito mais nos últimos anos, e sinceramente há já muitas que não podem fazer mais. A criatividade e inovação são de facto muito importantes, mas não chegam.

É preciso começar a desenvolver o fundraising com todas as técnicas possíveis, com um planeamento muito estruturado e com um trabalho aprofundado na pesquisa de novos doadores. Mais do que tudo, diria que é preciso:

  1. Criar novos e mais fortes laços com os doadores particulares, que dêem um donativo regular, porque só assim as receitas podem ser regulares;
  2. Continuar a desenvolver novas fontes de receita.

E para que isto seja eficaz nos resultados, é preciso ter fundraisers com o perfil dos que encontramos nas grandes organizações internacionais (e aqui incluem-se tanto as ONG internacionais, como as Universidades de topo que fazem um trabalho exemplar com os Alumni).

Quais são, na actual conjuntura socioeconómica, os requisitos fundamentais para a implementação de um processo de fundraising por uma OSC?
1 – Criar um plano e estratégia de fundraising a 3/5 anos;
2 – Trazer para dentro da direcção pessoas-chave da sociedade ou empresas, que possam ser fonte de inspiração e de mudanças fundamentais na procura de novas fontes de fundos;
2 – Criar uma boa base de dados de contactos actuais e potenciais, com software adequado;
3 – Ter recursos humanos a trabalhar especificamente o fundraising.
E tudo isto deve ser feito com consultoria específica, sempre que necessário, para começar de forma correcta e saber que passos dar e, tão ou mais importante, que passos não dar.

Jornalista