O lançamento do Programa de Formação do IES dirigido pelo INSEAD e apoiado pela Fundação EDP, foi a grande novidade do IV Congresso do Empreendedorismo Social. Filipe Santos e Sérgio Figueiredo explicaram ao VER porque é que a formação é essencial para gerar impacto social: “desenvolver competências e ter acesso a conhecimento é uma das maiores necessidades dos empreendedores sociais”, defende o responsável pela Direcção Académica do ISEP, que deverá ser replicado para várias geografias mundiais
“A Força das Parcerias” foi o tema de mais um Congresso do Empreendedorismo Social promovido pelo IES. Este ano, como é, de resto, habitual, o dia ficou marcado por “muita partilha e aprendizagem de actores essenciais do empreendedorismo social em Portugal”. Todos os participantes “saíram fortemente entusiasmados e deram-nos feedback extremamente positivo”, garantiu ao VER a directora de Formação e Comunicação do IES: a avaliação geral do evento foi de 4.64 em 5. Segundo Rita Fortunato Baptista, “sentimos que o IES tem uma rede de parceiros ainda mais unidos e alinhados, com novos projectos concretos para avançar, com empreendedores sociais motivados, pontes feitas entre projectos e recursos e reconhecimento de casos de sucesso e de novas ideias”. Nesta IV edição do Congresso do IES foram debatidos conceitos e estratégias, avaliadas parcerias entre empresas, sector público e sociedade civil e apresentados diversos casos de sucesso. Mas a grande novidade lançada a 15 de Março, no Centro Cultual de Cascais, foram os Programas de Formação em Empreendedorismo Social IES powered by INSEAD. A relação de parceria IES e INSEAD foi, desde o início, um dos pilares da estratégia do IES de produzir e promover conhecimento de excelência em empreendedorismo social (ES). Em 2011, com o apoio dos parceiros promotores – Fundação EDP e Câmara Municipal de Cascais – serão desenvolvidos e realizados os primeiros cursos de Formação em conjunto, em português e com base nas realidades da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Portugal “atravessa uma fase de transição onde uma atitude empreendedora – criar e implementar soluções inovadoras e escaláveis de forma proactiva e partilhada – é essencial”, diz Rita Baptista. Perante os “muitos desafios sociais e ambientais que precisam de soluções sustentáveis” e numa fase quase de “falta de identidade e valorização nacional”, empreendedores sociais formados e motivados “são uma força de mudança incrível que pode contribuir para reverter todas essas tendências”, conclui. A iniciativa conjunta do IES e do INSEAD irá não só garantir a realização de “programas de formação de ponta a nível mundial” acessíveis em português, como a identificação e partilha pela rede mundial do INSEAD de vários casos de sucesso portugueses. “A inovação social tem de se sustentar em bases profissionais” No caso concreto desta colaboração que envolve o INSEAD, a Fundação “deu um salto”, em complemento das actividades que tem no terreno, a partir da constatação “de que é preciso muito mais do que vontade para fazer. É preciso mais do que uma vocação natural para empreender”, porque os projectos de inovação social têm de se “auto-sustentar em bases profissionais, com rigor, gestão e competência”, afirma, em declarações ao VER, o administrador delegado da Fundação EDP. Neste contexto, o novo Programa de Formação para empreendedores do IES “é crucial para a capacitação destes projectos”. Habituada a “consolidar os casamentos depois de namorar”, a Fundação EDP, na voz de Sérgio Figueiredo, abraça esta parceria “não por acaso”: os dirigentes do IES “reconhecem-nos uma forma diferente, num contexto empresarial e naquilo que é a RS clássica das empresas, de funcionar na interacção com a sociedade”, diz. Na sua opinião, “não compete às empresas arranjar todas a soluções para os fenómenos de exclusão social – essa é uma função do Estado – mas é nelas que “está a capacidade de inovação”, e é à sociedade civil “incluindo às fundações corporativas, que compete testar soluções novas para velhos problemas”. Concretamente em relação ao apoio prestado a este Programa do IES e do INSEAD, “foi-nos proposto arrancar com estes cursos de formação em, pelo menos, duas geografias: Portugal e Brasil. Por razões naturais – a EDP tem actividade no Brasil, onde funciona o Instituto EDP, homólogo da fundação portuguesa – “decidimos, não só por restrições financeiras, embora essa seja uma razão importante, no actual contexto, avaliar resultados nacionais, em 2011, para depois “exportar uma boa experiência europeia, a partir de Portugal, para outros continentes”, concretamente para os países de língua oficial portuguesa. Medidos os primeiros impactos, o objectivo é internacionalizar este grande investimento e a larga experiência do INSEAD na formação de empreendedores. Seria “muito importante que isso partisse de Portugal, considera Sérgio Figueiredo, adiantando que “será um prestígio para a EDP que as suas fundações possam estar nesse processo de expansão”. A exemplo dos MBA, que suprem as necessidades que as empresas têm de qualificar os seus gestores, “por maioria de razão, empresas que nascem por iniciativa do empreendedor, sem estrutura para contratar outros gestores, precisam também de obter essa qualificação”: tratam-se de “projectos que podem vir de qualquer sector de actividade, mas cujos resultados têm de ter impacto social efectivo”, conclui. O que o ES traz, nesse aspecto, é um “contágio positivo do ecossistema, a todos os níveis: cultural, ambiental, ambiental e económico. A Fundação EDP vai dar apoio à iniciativa financeiramente, mas também a nível logístico e, principalmente, a nível relacional: “podemos fazer o projecto beneficiar da capacidade que o grupo EDP tem, ao estar presente em doze geografias diferentes, para, através desta nossa rede de influência, promovermos o crescimento dos projectos. Achamos que podemos contribuir muito mais para a expansão deste projecto como facilitador do que como mecenas. Portanto, o fundamental para a Fundação é ser “o driver que leva um projecto destes para outras geografias”. Concretamente na CPLP, e tratando-se na maioria de países em desenvolvimento, “é fácil perceber como é que, quando o Estado funciona de forma precária e a economia de mercado não está consolidada, o que está entre os dois – a sociedade civil – tenha de nascer empreendedora: é uma questão de sobrevivência”. Nessa matéria, “o Brasil dá lições ao mundo em ES”, conclui. Ora, é precisamente “na conciliação de duas culturas, uma em que o ES é quase inato, e outra que labora, dá método, dá formação e tem uma capacidade de gestão que pode por ao serviço doutros povos, que “existe um caminho muito promissor”. E quando assim é, “a escala da ambição deixa de ser mudar um contexto nacional para mudar vários”, através de um programa de âmbito global, acredita o administrador da Fndação EDP. Por cá, e como explica, em entrevista ao VER, Filipe Santos, professor Associado de Empreendedorismo no INSEAD e responsável pela Direcção Académica do Programa de Empreendedorismo Social do INSEAD (ISEP), importa “alargar a rede de agentes de mudança”, para cuja dinamização “o IES tem um papel central”.
Como surgiu a oportunidade de lançar os Programas de Formação para Empreendedorismo Social do IES dirigidos pelo INSEAD? Que importância assumem estes cursos para líderes do sector social, valorizando o capital humano nas organizações através de uma formação ministrada por uma das melhores business schools do mundo? As organizações do sector social em Portugal têm-se revelado uma fonte surpreendente de inovações. Trabalhando com os empreendedores sociais no seu dia-a-dia, percebemos que desenvolver competências e ter acesso a conhecimento é uma das suas maiores necessidades. Ao mesmo tempo, esse processo vai permitir-lhes, de forma mais directa, aumentar a sua eficácia, fazendo o bem melhor e de uma forma mais sustentável. A formação é uma excelente via para mais impacto social. Entre esses líderes, quais são os destinatários preferenciais do Programa ISEP? Para o Bootcamp, o público alvo são pessoas que têm uma ideia ou conceito inovador para resolver um problema social e/ou ambiental e que procuram desenvolvê-la – desenhando o modelo de negócios e o plano de implementação -, bem como apresentar a ideia a parceiros e investidores.
Como vão dinamizar os Boot camps e o Programa ISEP Portugal, ao nível de conteúdos e formato, em articulação com o IES e demais parceiros? De que modo serão valorizadas boas práticas e como é que estes programas podem alavancar o desenvolvimento de projectos inovadores e com capacidade de gerar emprego? As boas práticas que surgirem ou que forem desenvolvidas nestes programas vão entrar na comunidade do IES e dar acesso a oportunidades de outros programas de capacitação e à rede de associados e parceiros desta associação. O importante é alargar a rede de agentes de mudança em Portugal, para que possam colaborar e aprender a agir em conjunto. O IES tem um papel central no desenvolvimento e dinamização dessa rede. Em relação à CPLP, como irá funcionar esta parceria para dotar os empreendedores destes países com o conhecimento e as ferramentas essenciais para que desenvolvam acções com impacto social nas suas comunidades? Após a avaliação da experiência deste ano, iremos procurar o modelo certo, em termos financeiros e académicos, para expandir para o países africanos e para o Brasil, os quais têm um potencial enorme para o empreendedorismo social. O Brasil, em particular, tem sido um laboratório de experiências e modelos inovadores em empreendedorismo social. Se tudo correr bem, gostaríamos de estar em Angola e no Brasil em 2012. Face à actual conjuntura socioeconómica, como vê a capacitação de empreendedores e de iniciativas de ES para alavancar soluções que resolvam os problemas emergentes de um modo sustentável? Por outro lado, o modelo centralizado de apoio dos Estados tem limitações em encontrar e potenciar estas oportunidades de criação de valor. O empreendedorismo social funciona assim como um mecanismo descentralizado para identificar problemas da sociedade negligenciados pelo mercado e pelos governos, propondo e implementando soluções inovadoras para esses mesmos problemas. Isto torna o modelo capitalista mais resistente e equilibrado, conduzindo a Economia a um desenvolvimento mais sustentado.
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Jornalista