Uma vez que estamos no caminho para um aumento de temperatura de, pelo menos, 2,6ºC, nesse mesmo cenário o PIB mundial poderá diminuir 13,9% e o europeu 8%. Se a coisa correr mesmo muito mal e se a temperatura subir para os 3,2ºC, o PIB mundial poderá baixar, pelo menos, 18%
POR SOFIA SANTOS

Vivemos atualmente no maior exemplo do Dilema do Prisioneiro à escala global: se todos mudarmos o nosso comportamento para determinada direção ficamos todos melhor em 10 ou 15 anos. Todavia, o pensamento individualista vigente faz com que nenhum de nós tenha qualquer incentivo em levar a cabo esta crucial tarefa.

E se para alguns “no longo prazo estaremos todos mortos”, atrevo-me a dizer que em 10 anos estaremos todos a viver no caos.

Tenho tido o privilégio de interagir com vários administradores, diretores e pessoal técnico sobre os temas climáticos. Tenho sido surpreendida pelas várias reações existentes face à informação científica, face à regulação existente e face às mudanças que parecem ser necessárias para que o equilíbrio do planeta não coloque em causa a vida das pessoas num futuro próximo, daqui a cinco ou 10 anos.

Há situações em que saio contente com o facto de os olhares de espanto terem levado ao reconhecimento de que o mundo está a mudar, e que, consequentemente, os negócios, os procedimentos e as decisões empresariais também devem sofrer mutações.

Há outras situações em que simplesmente fico abismada com o afastamento que existe entre o conhecimento sobre gestão e o conhecimento sobre ciência, ao ponto de se colocar em causa aquilo que mais de 90% dos cientistas afirmam concordar: que o aumento da temperatura está a levar a uma situação planetária incontrolável.

A obsessão por apresentar resultados trimestrais e a visão de curto prazo sobre o que é competitividade, leva-me por vezes a questionar se de facto alguns de nós pensam que poderão alugar uma nave espacial e levar toda a sua família para um outro planeta, onde tudo está bem. E se pensam assim continuam enganados…

Hoje em dia não são só os cientistas que nos trazem cenários assustadores para 2030 e 2050 ao nível dos impactes climáticos. Também os bancos centrais têm vindo a aplicar e adaptar esses cenários ao contexto financeiro e económico. A Network for Greening the Financial System tem um site específico com informação sobre os vários cenários que os países poderão enfrentar se a temperatura aumentar 2ºC ou mais. Também a Swiss Re publicou um estudo em que estima que estamos a caminhar para uma perda do PIB devido aos impactos das alterações climáticas. Na realidade, segundo este estudo, se atingirmos o objetivo do Acordo de Paris e a temperatura mundial não aumentar mais do que 2ºC, o PIB mundial poderá descer, em 2050, 4,2%. Uma vez que atualmente estamos no caminho para um aumento de temperatura de, pelo menos, 2,6ºC, nesse mesmo cenário o PIB mundial poderá diminuir 13,9% e o europeu 8%. Se a coisa correr mesmo muito mal, então a temperatura poderá aumentar 3,2ºC e o PIB mundial poderá baixar, pelo menos, 18%.

O que estamos aqui a dizer é que um aumento da temperatura faz baixar o PIB. É portanto necessário agirmos todos de forma a evitar que a temperatura mundial aumente mais do que os 2ºC, para que tal não leve a mais doenças, despesa pública, impostos e desemprego.

Para evitar tudo isso a 10 ou 15 anos há que fazer opções hoje. Se há algo que nos impede é a nossa mente. Também essa precisa de ser treinada.

CEO da Systemic