Num mundo que muda tão rapidamente e num país tão pequeno como Portugal, que necessita de três intervenções do FMI em 36 anos, torna-se evidente que a aposta na educação constitui a única alternativa possível para que, no futuro, se consiga gerar um desenvolvimento que seja bom para toda a sociedade
POR SOFIA SANTOS*

Se por um lado as únicas notícias que ouvimos são sobre os cortes orçamentais e a subida dos impostos, na realidade existem vários assuntos que continuam a ser desenvolvidos a nível internacional, e que nos dizem respeito. A crise que estamos a viver em Portugal tem-nos aumentado a miopia relativamente ao futuro, o que pode implicar um retrocesso civilizacional da nossa sociedade.

Para que isso não aconteça é necessário fortalecer a educação de conceitos humanistas e éticos, de forma a gerar gestores e economistas com preocupações sociais e ambientais, ou seja, para gerar agentes decisores com preocupações de longo prazo, terminando com a cruz que carregamos eternamente às costas: a miopia e a pequenez de pensamentos.

Temos tudo para avançar com este reforço educacional:

  • O período de 2005 a 2014 foi declarado pelas Nações Unidas como sendo a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, sendo a UNESCO a organização líder da sua implementação;
  • Em 2012 a Comissão Europeia convidou os vários Estados-membros a “desenvolver as medidas apropriadas quer a nível nacional, local e regional, de forma a encorajar o desenvolvimento e a implementação da educação para o desenvolvimento sustentável e a sua integração nos sistemas de educação e formação a todos os níveis, quer através da formação formal, quer através de métodos não formais e não cognitivos de ensino”.
  • A Unesco já está a trabalhar no Programa Global de Actuação para o período pós-2014 e que assentará em cinco aspectos que foram considerados como prioritários pelas Nações Unidas:
  • Integração da Educação para a Sustentabilidade ao nível das políticas públicas;
  • Criação de ambientes de aprendizagem holísticos, onde as componentes físicas e de gestão das escolas têm de ser sustentáveis;
  • Capacitação e atribuição de poder aos professores;
  • Focalização nos jovens como agentes de mudança;
  • Focalização nas comunidades locais.
  • Portugal tem um potencial de capital natural, cultural e humano que tem de ser potenciado através de uma nova abordagem à educação.

O conceito de educação para a sustentabilidade não é mais do que a ideia de que devemos promover um mundo mais sustentável através de formas diferentes de educação, formação e actividades que contribuam para a consciencialização do público em geral para a importância dos temas ambientais, sociais e económicos, constituindo igualmente uma oportunidade para se repensar as abordagens actualmente existentes relativamente aos desafios globais.

O ensino da gestão
De acordo com Edward Freeman , o pai da teoria dos stakeholders, numa palestra que deu em Outubro de 2013 na Universidade de Neyeroden na Holanda, “as escolas de negócios estão desactualizadas, e para as actualizar temos de incorporar a sustentabilidade na história da gestão”. Freeman vai mais longe ao afirmar que “os negócios não são a física do dinheiro, (… ) o mundo empresarial é profundamente humanizador, criando valor para toda a sociedade” e “precisamos de reinventar as escolas de negócio de forma a que estas incorporem a ética e a sustentabilidade no corpo central da teoria da gestão”.

“A Sustentabilidade é uma estrutura de princípios, uma filosofia da prática que envolve níveis, locais e culturas múltiplos numa abordagem sistemática com vista a gerar uma melhor saúde ambiental e social, procurando, em simultâneo, melhorias económicas” (Paraschivescu & Radu, 2011)

.
.

A educação para a sustentabilidade é um tema novo nas agendas das escolas, apesar de não o ser ao nível do debate internacional. De acordo com a UNESCO, a educação para a sustentabilidade foi inicialmente abordada por pessoas fora da comunidade educativa, tendo como maiores impulsionadores as Nações Unidas e as organizações para a cooperação e desenvolvimento económico.

Para tal e ainda de acordo com os objectivos da Agenda 21, há que promover a integração de conceitos ambientais e de desenvolvimento, incluindo a questão premente da demografia, em todos os programas educativos, em particular a análise das causas destas mesmas questões em contextos locais, com base em evidências científicas e em outras fontes apropriadas de conhecimento, conferindo um ênfase especial à formação contínua de decisores a todos os níveis.

Adicionalmente, urge implementar técnicas participativas de ensino e métodos de aprendizagem que motivem os jovens a mudar os seus comportamentos. O que implica que a educação para o desenvolvimento sustentável promova a criação de competências ao nível do pensamento crítico, da conceptualização de cenários futuros e da capacidade de decisão em formatos colaborativos. De acordo com vários autores, para que esta abordagem à educação seja bem conseguida, é necessário o desenvolvimento de diferentes formas de raciocínio associadas ao pensamento sistémico, à responsabilidade intergeracional, à protecção e promoção do valor partilhado proveniente de recursos, e à consciencialização das forças motoras da economia, tendo por base o conceito de responsabilidade estratégica.

O que pensam os portugueses
Para se tentar apreender o que os portugueses pensam sobre a forma como os temas da sustentabilidade estão incluídos na educação, foi desenvolvido um questionário telefónico a 1200 pessoas durante os meses de Junho e Julho de 2013. Os resultados detalhados podem ser encontrados no estudo “Educação para a Sustentabilidade em Portugal – por uma nova geração de líderes”.

Desta sondagem pode-se concluir que a sociedade anseia por líderes bastantes diferentes do Homo Economicus, que tem caracterizado a sociedade ocidental nos últimos trinta anos. Desejar a existência de líderes que não coloquem o lucro para o accionista como a missão principal da empresa, a teoria defendida pelo economista Milton Friedman, pode colocar em causa os modelos económicos e de gestão vigentes, uma vez que estes assumem precisamente que o Homem é racional e actua de forma egoísta e no seu interesse próprio.

“Independentemente do egoísmo que possamos pensar que cada Homem tem, existem alguns princípios na sua natureza que fazem com que se interesse pela fortuna dos outros, ficando feliz pela felicidade de outrem, não ganhando nada com isso, a não ser o prazer de ver essa mesma felicidade”
(Adam Smith, Teoria dos Sentimentos Morais, 1759)

.
.

Perante os resultados do inquérito, podemos facilmente concluir que os portugueses desejam líderes íntegros, capazes de antecipar as tendências futuras e que tenham pensamento estratégico, características imprescindíveis para evitar uma outra crise semelhante à que grassa no nosso país (e não só) na actualidade.

É possível igualmente deduzir, das respostas dadas, que os portugueses acreditam que estes novos líderes só poderão ser criados se, na formação básica dos 2º e 3º ciclos, forem incluídos, de forma obrigatória, os temas do empreendedorismo, cidadania e sustentabilidade. Os portugueses estão bem cientes da importância desta mudança, ao identificarem como as três principais disciplinas capazes de influenciar um bom líder do futuro a Matemática, o Português e a Cidadania. Talvez seja por isso mesmo que 97% dos auscultados defendam que os jovens deveriam ter uma participação mais activa na sociedade.

Torna-se assim, mais uma vez, evidente a necessidade e a utilidade de auscultar a população sobre as suas expectativas. Na realidade, a população portuguesa, sem ter conhecimento da Década para a Educação do Desenvolvimento Sustentável, evidenciou de forma simples a necessidade de incluirmos os temas da cidadania e da ética, que acabam por integrar a definição ampla de sustentabilidade, no ensino das crianças, jovens e adultos. E é com a missão de promover a divulgação destes temas junto dos mais novos que surge em Portugal a Associação The K-Evolution. Complementar a esta promoção, é também com a missão de incorporar estes temas nas formações de Executivos que surge o Sustainability Knowledge Lab do INDEG – IUL, ISCTE Executive Education.

CEO da Systemic