O futuro será “grisalho”, isto é, o futuro será idoso e dos idosos. Dessa nova geração de “maiores” que teremos, os idosos que realizem um envelhecimento activo (actividades psicomotoras, estimulação cognitiva, animação sociocultural, dinâmicas de grupo, técnicas de relaxamento e meditação) terão outra qualidade de vida e uma melhor saúde física, emocional, mental, cognitiva e espiritual
Em Portugal, e segundo as projecções do Instituto Nacional de Estatística, “o número de idosos com mais de 65 anos será de 2,95 milhões em 2050”. Em 2046, a proporção de população jovem reduzir-se-á a 13% e a população idosa aumentará dos actuais 17,2% para 31%”. O Jornal de Notícias, arrolava, na edição de Quinta-feira, 11 de Novembro de 2010, o seguinte: “em 2046, haverá 238 idosos por cada cem jovens, o dobro dos valores actuais (112 para 100), facto que leva especialistas a considerar que as escolas devem preparar os mais novos para a sua própria velhice”. No mundo, o número de idosos aumentará rapidamente e passará de 606 milhões (no ano 2000) para perto de dois mil milhões, em cinquenta anos. O aumento será mais marcante nos países pobres, onde a população idosa se quadruplicará, passando de 374 milhões para 1,6 mil milhões. Este novo quadro demográfico tanto pode ser um perigo como uma nova oportunidade, visto que ser-se velho comporta em si mesmo um estatuto de experiências, olhares-saberes e olhares-saber-fazer a serem aproveitados. Simultaneamente, é o estigma de um ser já desvinculado social, cultural e economicamente que transporta o rótulo e a etiquetagem do mito da inflexibilidade face à mudança, o mito da improdutividade laboral e o mito da (falta de) autoestima. Com os dados demográficos apresentados e com as iatrogenias [efeitos clínicos resultantes de tratamento médico prescrito para uma doença] do envelhecimento urge a necessidade de estreitar a relação entre a população idosa e a juventude (a intergeracionalidade). Cabe às universidades prepararem licenciados em Gerontologia. Gerontólogos preparados cientificamente para planearem e intervirem na prevenção da estabilidade da arquitetura: intelectual, informacional, lúdica, perceptiva, sensorial e cinestésica [percepção dos membros e dos movimentos corporais] da pessoa idosa. As doenças, consideradas, do envelhecimento, com o aumento da esperança de vida na Europa, África, Ásia e América, provocam na pessoa idosa sentimentos de vazio social, dependências – familiar, económica, social, cultural e política – e de exclusão social. É do senso comum e da gerontologia que o idoso, com o avançar da idade, adquire:
Toda esta problemática causa inúmeros sofrimentos ao idoso, contribuindo significativamente para a estigmatização, o isolamento e a exclusão social, levando-o à tristeza e depressão. Deprimido, aliena-se de tudo o que o rodeia, terminando na sua morte por isolamento familiar, espacial e sociocultural. Para que “o mais velho” usufrua de uma melhor qualidade de vida – saúde física, psicológica e espiritual – urge estimulá-lo através de actividades psicomotoras (educação física), de estimulação cognitiva (leitura, música, pintura, etc.), de técnicas de relaxamento e de meditação (o envelhecimento activo). Todas estas actividades optimizarão a auto-estima, a autoconfiança e a autoimagem. O “cuidador de pessoas idosas”, o gerontólogo, deverá estar munido de conhecimentos de artes expressivas, científicos, metodológicos, ergonómicos, tecnológicos, funcionais e éticos, para proporcionar uma intervenção de qualidade a nível da dimensão cultural e social, da participação comunitária, do associativismo e dos aspectos pessoais e educativos. * Doutor em Antropologia Social e Cultural. Mestre em Clínica de Saúde Mental. Director da Licenciatura em Gerontologia Social, na Escola Superior de Educação João de Deus |
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Valores, Ética e Responsabilidade