É conhecido este mês o projecto vencedor do InAqua- Fundo de Conservação by Oceanário de Lisboa e National Geographic Channel, que estimula empresas e sociedade a envolverem-se activamente na conservação de espécies ameaçadas e dos ecossistemas aquáticos. O VER conversou com os responsáveis do Oceanário de Lisboa por este Fundo sobre o reconhecimento global de que “a biodiversidade é um activo de grande valor para as gerações actuais e futuras”, e sobre o contributo do aquário – que acolhe anualmente um milhão de visitantes – para a investigação na área da ciência, mas também para a educação ambiental e para a cultura
POR GABRIELA COSTA

© Oceanário de Lisboa
Núria Baylina e Miguel Oliveira, responsáveis do Oceanário de Lisboa pelo Fundo InAqua

O InAqua – Fundo de Conservação by Oceanário de Lisboa e National Geographic Channel apoia projectos inéditos desenvolvidos em território nacional, que possam contribuir de forma decisiva para a conservação de espécies ameaçadas e da biodiversidade aquática em geral.

Criado com o objectivo de estimular o sector empresarial e a sociedade civil a envolverem-se activamente na conservação dos ecossistemas aquáticos, este Fundo “assume um papel essencial e colaborativo nos esforços de manutenção da biodiversidade existente”.

Constatando que “a ameaça às espécies e ecossistemas nunca foi tão elevada como actualmente”, o InAqua visa contribuir para “o reconhecimento global de que a diversidade biológica é um activo de grande valor para as gerações actuais e futuras”.

Na sua segunda edição, dedicada ao tema “Rias, estuários e lagoas de Portugal – conhecer e conservar”, serão atribuídos quinze mil euros ao projecto vencedor, que será conhecido a 22 de Janeiro. Este montante destina-se à implementação do projecto, que deverá contribuir para a conservaçãodestes importantes ecossistemas em Portugal.

A propósito deste Fundo de Conservação dos ecossistemas aquáticos, mas também do largo contributo do Oceanário de Lisboa para a investigação na área da ciência, para a educação ambiental e para a cultura, o VER entrevistou Núria Baylina e Miguel Tiago de Oliveira, responsáveis do Oceanário de Lisboa pelo Fundo InAqua.

A conversa estendeu-se do reconhecimento da confiança que os diversos stakeholders, “entre eles mais de 16 milhões de visitantes”, depositam no Oceanário em resultado “da excelência da sua exposição, da experiência e know-how nas áreas da ciência, da educação, da promoção cultural, do entretenimento e lazer e da responsabilidade ambiental e social”, ao reforço de um desígnio que conta já com quinze anos de vida: promover o conhecimento sobre os oceanos e sensibilizar para o dever da conservação do património natural, através da alteração de comportamentos.

E são perto de um milhão, os visitantes que anualmente acorrem ao aquário inaugurado na Expo 98. Um número que multiplica a capacidade desta “plataforma neutra para a congregação de estratégias e vontades” para cumprir a importante missão de conservar um recurso tão valioso, nos seus diversos potenciais.

Como surgiu este Fundo de Conservação lançado pelo Oceanário e qual é o envolvimento do National Geographic Channel, enquanto parceiro do projecto?
O Fundo INAQUA é uma iniciativa conjunta do Oceanário de Lisboa e do National Geographic Channel que, tendo nas suas missões um pilar comum, a conservação da biodiversidade, juntaram esforços e as competências próprias das duas empresas para, aproveitando as sinergias existentes, tornarem o fundo mais eficiente.

Que razões presidiram à escolha do tema desta 2ª edição: “Rias, estuários e lagoas de Portugal – conhecer e conservar”?
As rias, os estuários e as lagoas costeiras caracterizam-se por serem zonas de transição entre o meio terrestre e marinho, com elevada produtividade, normalmente bastante superior à das zonas de água doce e salgada adjacentes. São colonizados por uma grande diversidade de grupos taxonómicos mas são conhecidos especialmente pelas espécies ictiológicas e de avifauna que aí vivem.

Estes ecossistemas apresentam-se severamente afectados pelas actividades humanas como a pesca, dragagem e descarga de produtos orgânicos e químicos. A poluição, degradação e perda de habitat generalizada revelam já consequências para a fauna e flora.

Estes ecossistemas são de extrema importância a nível regional, apresentando um óbvio valor ecológico e científico, económico e social. A sua elevada biodiversidade (marinha e terrestre), bem como as questões socioeconómicas associadas, determinam a necessidade premente de proteger e conservar estas zonas.

Foram estas as razões que levaram à escolha do tema. Acreditamos que o investimento em projectos nesta área pode ter um elevado retorno na conservação da biodiversidade.

De que modo acompanhou o Oceanário os projectos vencedores na 1ª edição do InAqua, dedicada à Conservação da Biodiversidade dos Oceanos?
Na 1ª edição, em 2010 – Ano Internacional da Biodiversidade, o Fundo InAqua, sob a temática “A Conservação da Biodiversidade dos Oceanos”, distinguiu os projectos “Cavalos-marinhos em risco na Ria Formosa” e “Deep reefs”.

“O posicionamento do Oceanário enquanto plataforma neutra de união de vontades e estratégias para o desenvolvimento da ciência, cultura e Economia do Mar em Portugal ver-se-á reforçado e com continuidade” .
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Os dois projectos apoiados estão a ser desenvolvidos em território nacional e contribuem para o conhecimento e a sobrevivência de habitats e espécies marinhas ameaçadas. No primeiro, estamos a falar do local onde já existiu a maior densidade de cavalos-marinhos do mundo, e cuja presença hoje está muito reduzida. Já no âmbito do projecto “Deep Reef”, está a ser estudado e conhecido o habitat de recifes de profundidade em Portugal, habitat em muitos casos desconhecido e que pelas suas características é extremamente sensível.

O Oceanário, para além de garantir o desenvolvimento destes projectos através do seu financiamento, apoia-os na divulgação junto da sociedade civil e controla o seu desenvolvimento através dos relatórios que recebe periodicamente, garantindo assim que o investimento feito pelos parceiros do Fundo InAqua é bem aplicado e eficiente nos fins a que se destina. Os resultados finais dos projectos vencedores da edição de 2010 serão conhecidos e divulgados em breve, pois ambos terminaram no final de 2012.

A 22 de Janeiro será conhecido o vencedor da 2ª edição do Fundo, que receberá um prémio de 15 mil Euros, destinado à implementação do seu projecto. Que critérios presidem à escolha do projecto vencedor?
Os projectos candidatos devem respeitar o tema da edição de 2012, ou seja, decorrer em rias, estuários ou lagoas costeiras de Portugal. Devem também ter um carácter inovador, promover a abordagem integrada das ameaças às espécies e ecossistemas e a indução de ações de conservação da biodiversidade.

São valorizados os projectos que apresentem uma componente de trabalho in-situ, assegurem a qualidade científica do trabalho, constituam iniciativas sustentáveis susceptíveis de continuidade após o término do projecto e potenciem a educação, sensibilização e ação local da população.

A avaliação das candidaturas e a escolha do projecto vencedor é efectuada por um Júri composto por peritos de reconhecido mérito na área em questão.

O InAqua visa estimular o sector empresarial e a sociedade civil a participarem activamente na conservação dos ecossistemas aquáticos. Como é que o projecto estabelece essa cooperação com empresas e organizações e qual é a importância do seu envolvimento numa causa tão estrutural quanto a da preservação da biodiversidade e das espécies ameaçadas?
A visão do Oceanário é que a conservação dos oceanos é uma responsabilidade de todos. Hoje em dia, é praticamente impossível excluir a sociedade civil das questões ligadas à conservação da natureza.

Ao longo dos últimos anos, o Oceanário de Lisboa tem consolidado a participação e apoio à conservação dos oceanos. Fiel à sua missão de promover o conhecimento sobre os oceanos e sensibilizando os cidadãos em geral para o dever da conservação do património natural, através da alteração dos seus comportamentos, tem vindo a desenvolver colaborações com empresas no sentido de apoiar instituições e universidades em projectos de investigação científica e de conservação.

A criação deste fundo permite que empresas que se pretendam diferenciar, no âmbito dos seus projectos de sustentabilidade e responsabilidade ambiental e social, o possam fazer ligando-se ao mar e aos habitats aquáticos, associando-se ao Oceanário de Lisboa e ao National Geographic Channel, e garantindo assim a qualidade e contribuição para a conservação da biodiversidade dos projectos que apoiam.

Neste contexto, em 2012 o financiamento do “Fundo InAqua” contou com o apoio do Hard Rock Cafe Lisboa, através da venda de edições especiais de pins de coleccionador, do Il Caffè di Roma, através da campanha “Peça um café. Ajude a salvar os oceanos!”, e da Throttleman, através do montante angariado com a venda da linha de t-shirts de algodão orgânico, produzida no âmbito da campanha solidária “Throttleman apoia os Oceanos”.

© Oceanário de Lisboa

A assinalar quinze anos de vida em 2013, o Oceanário de Lisboa recolhe hoje um reconhecimento internacional enquanto expoente da ligação de Portugal aos Oceanos, recebendo anualmente perto de 1 milhão de visitantes. Que balanço fazem da actividade desenvolvida, no que concerne o contributo dado à valorização do Oceano como património do futuro e à relevância que a Economia do mar assume no nosso País?
O Oceanário de Lisboa foi distinguido como uma Superbrand – Marca de Excelência em Portugal 2012, destacando-se nos níveis nacional e internacional, enquanto marca e equipamento que promove o mar e a conservação dos oceanos. Este reconhecimento da confiança que os diversos stakeholders, entre eles mais de 16 milhões de visitantes, depositam no Oceanário é o resultado da excelência da sua exposição, da experiência e know-how nas áreas da ciência, da educação, da promoção cultural, do entretenimento e lazer e da responsabilidade ambiental e social. A sua missão integra a estrutura basilar e orientadora da Instituição.

O Oceanário de Lisboa continuará a desenvolver a sua actividade em linha com a missão que se propôs seguir: sensibilizar para a conservação dos oceanos, através da alteração de comportamentos. Neste sentido, o estabelecimento de parcerias e de relações com diversas instituições com interesses congéneres, o apoio a projectos de conservação in situ, e a actividade como agente de educação ambiental dentro e fora do equipamento são fundamentais.

Assim, o posicionamento conseguido até hoje, enquanto plataforma neutra de união de vontades e estratégias para o desenvolvimento da ciência, cultura e da Economia do Mar em Portugal ver-se-á reforçado e com continuidade.

Desenvolvem continuamente programas e actividades educativas (para famílias e escolas). Que projectos destacam (como o Vaivém Oceanário, Dormindo com os tubarões, O Nosso Mar, exposições temporárias), e que resultados têm ao nível da sensibilização dos diversos públicos para a conservação da natureza e para a alteração de comportamentos?
Anualmente, cerca de dez por cento da população europeia visita aquários públicos. Estes equipamentos proporcionam um acesso privilegiado ao mundo marinho, promovem uma experiência única através das suas exposições, são um canal ímpar para comunicar temas que afectam o meio marinho e constituem um ambiente excepcional para envolver os cidadãos na alteração dos seus comportamentos face ao meio ambiente.

Assim, assumindo a tendência evolutiva dos aquários modernos, o Oceanário desenvolve continuamente, desde 1999, actividades educativas dirigidas a todos os públicos, tendo recebido até aos dias de hoje mais de 600 mil participantes.

Através de uma procura contínua de estratégias novas e criativas para a promoção do conhecimento dos oceanos e da sua biodiversidade, enquanto se foca nos desafios ambientais da actualidade, o Oceanário apresenta um Programa de Educação com mais de quarenta actividades diferentes. O Programa de Educação inclui um projecto de educação ambiental em movimento, o Vaivém Oceanário, que se dedica a divulgar a missão do Oceanário pelo país, com experiências educativas, de acesso livre, organizadas a pedido dos municípios.

O Oceanário pretende ainda criar uma nova exposição temporária de três em três anos, permitindo abordar temas da actualidade, relacionados com os oceanos e a sua conservação.

O Oceanário colabora com várias instituições em projectos de investigação científica, de conservação da biodiversidade marinha e para o desenvolvimento sustentável dos oceanos, e também presta consultoria a vários aquários através da sua equipa de biólogos e de engenheiros. Quais são as grandes apostas para a consolidação da vossa missão: promover o conhecimento dos oceanos e apoiar a conservação dos oceanos? 
Para além das actividades desenvolvidas no trabalho diário com as espécies da colecção do Oceanário e da participação em diversos projectos de conservação ex-situ, o Oceanário de Lisboa tem vindo a apoiar projectos de conservação in-situ de âmbito nacional e internacional (onze, desde 2007), através de um programa de candidaturas espontâneas (apoio financeiro a projectos de conservação e investigação in-situ) e de concursos para financiamento (nomeadamente o Fundo InAqua e o Galardão Gulbenkian/Oceanário).

As grandes apostas de futuro para apoiar a conservação dos oceanos são aumentar a qualidade do trabalho que realizamos nesta área através da força de comunicação que o Oceanário tem junto da sociedade civil, e aumentar a capacidade de apoio à conservação através do desenvolvimento de parcerias e de oportunidades inovadoras, com o objectivo de fomentar e incrementar o financiamento a projectos.

Implementaram um Sistema Integrado de Gestão da Qualidade e Ambiente, e foram o primeiro aquário público da Europa a obter as Certificações de Qualidade ISO 9001, 14001 e EMAS (Eco-Management and Audit Scheme). De que importância estratégica se reveste, para a sustentabilidade do Oceanário, primar pela eficiência nos seus sistemas de gestão e comunicar o seu desempenho ambiental? De que modo pretendem reforçar a vossa vertente de Responsabilidade Social?
O empenho do Oceanário de Lisboa no âmbito da sua missão levou ao posicionamento da empresa como instituição credível e de referência a nível nacional e internacional em várias áreas de actuação.

O posicionamento e qualidade de serviço, implementadas ao longo dos anos, suportam a liderança da Instituição como aquário público com papel de relevo na sociedade ao nível da visitação, da conservação da natureza e da educação ambiental.

Constitui uma preocupação constante da empresa minimizar o seu impacto sobre o meio ambiente. O desempenho ambiental e os investimentos realizados e previstos nesta área estão alinhados com a missão do Oceanário e são comunicados anualmente na declaração ambiental validada pelo registo EMAS (Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria).

É também nossa preocupação garantir a acessibilidade ao equipamento por todo o público nacional. Para o efeito, existem parcerias com diversas instituições e entidades que possibilitam o acesso às exposições por valores muito abaixo do valor de bilheteira.

Ao longo do ano desenvolvemos ainda actividades inseridas no âmbito da Responsabilidade Social, que envolvem colaboradores e parceiros. É o caso da angariação de brinquedos, das recolhas de sangue, do apoio a causas solidárias, como a Fundação do GIL, de acções de educação ambiental através do Vaivém Oceanário e, habitualmente na época do Natal, da ação “Oceanário Solidário”, que possibilita a visita gratuita a instituições carenciadas.

O mar em escuta activa
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© Oceanário de Lisboa
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O Oceanário de Lisboa e a Shift Thinkers promovem, a partir de 15 de Janeiro, uma iniciativa original sobre o mar português. As Conversas Voxmar – O mar em escuta activa irão reunir no Auditório Mar da Palha do Oceanário de Lisboa, ao longo de 2013, mais de trinta oradores num conjunto de nove conversas informais sobre o mar, que visam encontrar um novo público para a temática: toda a população portuguesa.

Com o objectivo de alargar o debate sobre as inúmeras áreas de interesse relacionadas com a Economia do Mar e com este recurso de extrema importância a todos, “e não apenas a núcleos empresariais, esta promete ser a maior conversa informal sobre o mar português alguma vez realizada em Portugal”, anuncia a organização.

O evento arranca no dia 15 de Janeiro, às 18h30, com o tema “Empreendedorismo: Como vender o Mar português?”. António José Correia, presidente da Câmara Municipal de Peniche, Miguel Gonçalves, idealista revolucionário, Rita Oliveira, especialista em Criação e Gestão de Marcas e CEO da agência Shift Thinkers e Ricardo Diniz, navegador solitário, são os especialistas convidados para esta primeira sessão, moderada pelo jornalista Pedro Rolo Duarte.

As Conversas Voxmar poderão ser vistas e acompanhadas ao vivo, no auditório do Oceanário (mediante inscrição prévia) ou em livestreming, em voxmar.pt. A participação em directo na iniciativa pode ser feita através de posts na página do Voxmar no Facebook.

Jornalista