O programa das ‘palestras de economia sustentável’ do ISG promete abanar alguns canaviais para ver de que cor são os cisnes que andam por lá escondidos. É que por vezes a palavra esconde muitas incertezas mas algumas verdades
Sempre adorei provérbios populares como ‘cão que ladra não morde’ e ‘em casa de ferreiro, espeto de pau’, entre outras pérolas. Mas o que mais me intriga é ‘a falar é que a gente se entende’. Será? Por outro lado, ‘em boca fechada, não entra mosca’, mas por este andar, se continuamos de boca fechada, nem mosca nem coisa nenhuma. Ao que parece o peso da palavra anda na ordem do dia. Sobre peso e outros aspectos da física do quotidiano, consta que se leva melhor quando partilhado, que é na união de esforços que se suporta o que nos ameaça esmagar. Então, porque não dividir a carga e descobrir mais sobre a origem das coisas? Afinal, peso é apenas massa e força de atracção. Se soubermos retirar a gravidade da situação podemos até descobrir que com essa matéria que nos apoquenta se constroem novos caminhos, ideias, objectos que prometem mudar as regras do jogo. Acaba-se o peso e descobre-se a sublimação da palavra: passa de vibrações do ar para memórias e ferramentas na mente de outrem. Este é o desafio que lançamos no ISG Business & Economics School, no âmbito da disciplina de Economia da Energia e dos Recursos Naturais, integrada na licenciatura em Economia e que me cabe o prazer de coordenar. Transformámos as aulas práticas em palestras abertas ao público. O modelo é simples, escolhem-se convidados com experiência em vários campos da sustentabilidade e, através do método de análise de casos, cria-se uma palestra muito aberta e participada onde os alunos e demais assistentes podem confrontar-se com a visão de quem vive a economia sustentável fora do conforto de uma sala de aula. Os temas são variados e vão desde a comunicação empresarial à bioeconomia, inovação, economia verde, biotecnologia, desenvolvimento regional e paradigma de gestão. Pode consultar a lista completa e as datas e horas das palestras aqui: http://www.isg.pt/noticias-e-eventos/noticias-e-eventos/palestras.html. Este é apenas um exemplo, de muitos, daquilo que é a obrigação de uma escola: abrir as portas ao conhecimento, explorar vias alternativas e promover o debate e a troca de ideias. E isto não se faz por decreto ou obrigação, faz-se quando esta abertura faz parte do DNA da escola e de quem a constrói, todos os dias, como um laboratório vivo onde a única aberração é aceitar uma versão mastigada de uma retrospectiva enviesada, sem a questionar, e ignorar o tumultuoso lago de cisnes negros que temos bem à nossa frente.
Nassim Nicholas Taleb explica a importância destes cisnes negros (O Cisne Negro. O impacto do altamente improvável. Dom Quixote, 2011) como sendo acontecimentos altamente improváveis mas que quando sucedem alteram radicalmente a visão de um determinado fenómeno e passam a poder ser explicados com recurso à falácia da narrativa. Exactamente o tipo de acontecimentos que os analistas de economia e política adoram, acontecimentos com que nunca sonharam, que viram as previsões de pantanas e que podem explicar com loquaz sorriso de que era óbvio que tal iria acontecer, como a explosão da bolha do subprime, os efeitos da tempestade Sandy ou a incapacidade de Vítor Gaspar em prever o (sub)desenvolvimento da economia portuguesa. Bem, este último se calhar nem era assim tão imprevisível, mas é bem negro. Fica então o desafio: venha conhecer o programa das ‘palestras de economia sustentável’ do ISG, que durará até início de Junho, e onde prometemos abanar alguns canaviais para ver de que cor são os cisnes que andam por lá escondidos. É que por vezes a palavra esconde muitas incertezas mas algumas verdades. Mas a palavra é traiçoeira, pode ter múltiplas interpretações e cair facilmente no esquecimento. E quanto à verdade, bem, ocorre-me muitas vezes a excelente interpretação de Jack Nicholson no fime ‘A Few Good Man’ (Questão de Honra, 1992): “The truth? You CAN’T handle the truth!”. É de facto paradoxal que por muito evidente que possa ser qualquer verdade, quando não as queremos ver tanto faz que seja um cisne negro como uma pantera cor-de-rosa. |
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Biólogo e CEO da NBI – Natural Business Intelligence