Actualmente existe um risco considerável sobre a viabilidade das democracias existentes, acompanhado por riscos tecnológicos que podem estar associados às novas ditaduras onde a cibernética, data mining, vigilância e o poder crescente das multinacionais têm um peso cada vez maior na ordem global Olhando para as várias publicações que o World Economic Forum (WEF) tem publicado no último mês, é possível identificar um conjunto de factores que poderão afectar o globo a vários níveis. De uma forma geral, é possível afirmar que actualmente existe um risco considerável sobre a viabilidade das democracias existentes, acompanhado por riscos tecnológicos que podem estar associados às novas ditaduras onde a cibernética, data mining, vigilância e o poder crescente das multinacionais têm um peso cada vez maior na ordem global. Na Europa, o desemprego estrutural dos jovens, o descrédito pelos valores intrínsecos dos actuais líderes políticos e económicos, a falta de confiança nas políticas económicas e nos bancos em que se depositam as poupanças, bem como um afastamento generalizado entre quem governa e quem é governado, implica, a meu ver, uma ânsia por uma liderança humanista não paternalista, mas que facilmente se pode transformar numa liderança populista e destorcida. Acredito que este perigo esteja eminente na Europa, até porque os jovens, tão desligados que estão da classe política que fala uma linguagem incompreensível para aquele público, consideram o seu tempo demasiado precioso para se dedicarem a uma política onde sentem não ter qualquer hipótese de intervir verdadeiramente. Neste contexto, ou existe um afastamento total e as novas ditaduras encontram lugar, ou então poderá surgir uma ruptura de sistema, com fortes agitações sociais, com o objectivo de terminar com o sistema existente. Estas duas situações são já visíveis na Europa. Em simultâneo, a influência da cibernética e da gestão de dados sobre os perfis de todos os cidadãos que utilizam a internet, conjugadas com o poder crescente das empresas multinacionais (em particular do sistema financeiro), permitem a criação disfarçada de novas ditaduras que induzem os comportamentos dos cidadãos, sem que estes tenham essa percepção. Neste mundo “estranho” em que vivemos, a falta de acção sobre o problema das alterações climáticas é hoje considerado um risco pelo WEF, existindo portanto uma ausência de interesse político e por parte de algumas empresas de sectores fortes em dinamizarem essa área da economia. Talvez esta espera, que está a ser comprovada com a recente decisão da Comissão Europeia de baixar em apenas 40% as emissões de CO2 em 2030, face a 1990, ao invés dos 50% necessários, seja o preço a pagar para que os sectores automóvel, petrolífero e energético consigam adaptar-se ao novo cenário de uma economia hipocarbónica, sem perderem demasiados “stocks”. As oposições existentes no globo, onde cidades gigantescas começam a florescer e onde em certos locais, como na China, cidades de prédios vazios são construídas mas não têm habitantes, contrastam com o envelhecimento populacional europeu, onde o despovoamento de regiões ricas em recursos naturais começa a invadir a paisagem.
A expansão da classe média na Ásia e o surgimento de um grupo da população que exige mais igualdade nos direitos, melhores condições de vida e uma diminuição nas disparidades económicas poderá levar a uma agitação social, também já sentida quer na Ásia quer na América Latina. Países como a Índia, em que perto de 40% da população são crianças, constituem desafios económicos fortíssimos para a sociedade ocidental, que está num caminhar claro de perda de poder internacional. Neste contexto, o estreitar de ligações entre a Europa e os Estados Unidos da América constitui um aspecto fundamental no desenvolvimento futuro do próprio espaço europeu e das suas ligações com o resto do mundo. O Ocidente e o Oriente parecem agora competir por recursos, quer humanos, tecnológicos e naturais, em prol de um crescimento económico. As forças geopolíticas estão em alteração e algo vai ter de mudar. Capital natural e humano na nova Economia A título de curiosidade, alguns académicos que investigam o PIB Verde, calcularam-no na China e chegaram a valores negativos, o que, caso este indicador fosse reconhecido, teria implicações radicais na forma como os poderes económicos são hoje geridos. Este modelo de desenvolvimento sustentável, ainda está longe de ser alcançado, reconhecendo o WEF que é necessário, por exemplo, existir uma acção concertada e rápida sobre as questões associadas à energia e a emissões de CO2 que decorrem naturalmente do já referido crescimento populacional das economias em desenvolvimento.
É interessante analisar também os riscos identificados como aqueles com maior impacto e maior probabilidade de ocorrência e que estão associados a:
Ou seja, os riscos mais prováveis e com maior impacto estão ligados à forma como os governos gerem os seus investimentos e com que produtos financeiros, que por sua vez tem influência na forma como se tratam as questões ambientais e sociais. Num contexto de polarização entre aqueles que governam e os que são governados, os movimentos na cibernética ganham espaço, não só pela necessidade de controlo por parte de quem governa, como pela necessidade de resposta por quem é governado. Se olharmos para Portugal, conseguimos compreender que temos todos estes riscos com elevada probabilidade de ocorrência e com elevado impacto. É necessário que a discussão política passe a trabalhar os outros temas, e não apenas o da dívida pública. Ou seja, é necessário avançar para além da dívida. Que seja já em 2014. |
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CEO da Systemic